Há décadas, histórias como Gato de Botas, Cinderela e Bela Adormecida, junto com ogros e monstros, chegam ao quarto das crianças na hora de dormir. No entanto, alguns pais hesitam em ler esses contos com medo de que causem ansiedade ou que estejam antiquados. Será?
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Na opinião de uma jovem leitora de 11 anos, histórias como essas foram fundamentais para que aprendesse lições importantes, e a que ela mais gostava quando pequena era Os Três Porquinhos. Esse conto mostra que "não devo zombar de ninguém e que, se eu trabalhar para fazer as coisas, elas irão bem”, resume.
Aprendizados como esses são comuns entre crianças que ouvem histórias. Por isso, de acordo com a psicóloga clínica Geneviève Djénati, é preciso ler contos antigos para os pequenos, porque eles atraem a atenção e oferecem importantes pontos de referência. “O enredo costuma ser o mesmo: um herói tem que enfrentar um desafio, apesar de sua impotência e precocidade, e ele consegue, fazendo grandes feitos”, afirma. O resultado, com o tempo, é que “a criança vê isso como uma imagem de seu próprio desafio: crescer”.
De acordo com a escritora Florence Dutruc-Rosset, as histórias também usam linguagem simbólica para fornecer chaves que ajudam a entender o mundo. "Ao abordar todas as questões, inclusive as mais difíceis, como a morte, esses contos ensinam que é preciso superar desafios para que o herói saia das provações com louvor”.
Portanto, segundo Dutruc-Rosset, é um erro privar filhos, sobrinhos ou alunos do conteúdo áspero ou desagradável de uma história: “Dragões e monstros existem para que a criança possa projetar sua raiva ou tristeza sobre eles. Seria uma pena negar-lhe essa experiência”.
Outros mal-entendidos derivam de estereótipos de gênero, já que alguns pais consideram antiquados os modelos de princesas passivas e de príncipes corajosos, preferindo histórias modernas com outros tipos de personagens. "É uma abordagem interessante para ajudar a criança a sair de condicionamentos desnecessários", diz Florence Dutruc-Rosset. No entanto, ela alerta que escolhas como essa projetam interpretações adultas nas percepções das crianças.
Além disso, a contadora de histórias Isabelle Sauer destaca ao jornal francês LaCroix a importância dos contos tradicionais para o desenvolvimento da imaginação. “As crianças gostam do que as palavras as fazem ver, então cada criança sente que a história é só para ela”, afirma.
E isso é possível quando o ouvinte se identifica com o herói protagonista. “A partir do momento em que esse vínculo é estabelecido, temas eternos podem ser tratados: vida, morte, dificuldade de crescer, rivalidade entre irmãos. As crianças podem se projetar em histórias escritas na Idade Média ou contemporâneas, em histórias nativas americanas ou australianas, porque os temas são universais”.
Mas ela ressalta que, para desenvolver a imaginação e levar as crianças a uma viagem imaginária que as fascine, “a linguagem é essencial”. Por isso, “nunca tento simplificar muito os textos, porque as crianças gostam de palavras um pouco complicadas”, afirma, ao garantir que as crianças que têm mais imaginação são aquelas que ouviram muitas histórias, porque tiveram a liberdade de recombiná-las entre si. “A imaginação da criança, mesmo que se diga transbordante, precisa ser alimentada”.
© 2022 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.