Com a filha sempre na escola durante o período de trabalho, a gerente de projetos Keiko Arita estava acostumada a realizar suas tarefas com tranquilidade e foco. No entanto, as mudanças repentinas causadas pela pandemia da Covid-19 transformaram completamente sua rotina e, assim como milhares de pessoas, ela precisou atuar em home office, dividindo seu tempo entre projetos da empresa e o cuidado com a pequena Naomi Arita, de 7 anos. “Isso sem contar as atividades da casa, que aumentaram por estarmos aqui o tempo todo”, comentou.
Segundo ela, a menina já havia sido informada na escola a respeito da nova doença e sabia que adultos e crianças precisariam permanecer dentro de casa por alguns dias. No entanto, não foi fácil para que entendesse as mudanças na rotina familiar, já que estava acostumada a encontrar a mãe após a aula, conversar bastante e receber atenção. “E os dois primeiros dias foram os mais difíceis, até que ela compreendeu que eu estava trabalhando”, afirma a curitibana, ao contar que explicou a situação à filha e montou um planejamento de atividades diárias para que ela tivesse responsabilidades no decorrer do dia.
Essa estratégia, de acordo com a Associação de Desenvolvimento da Família (Adef), é essencial para que os pais consigam o apoio das crianças neste momento e possam trabalhar com menos interrupções ao longo do dia. “Então, antes de qualquer coisa, ajude seu filho a entender o que está acontecendo, mas de um jeito adequado à idade dele”, orienta a representante da Adef, Lígia Miranda Badauy. “Para os mais velhos, você pode fazer isso com o auxílio de um vídeo a respeito da Covid-19, enquanto os pequenos precisarão de algo mais didático”.
Depois que eles compreenderem as circunstâncias que fizeram os pais mudarem o local de trabalho, será hora de readaptar os hábitos em casa para que as crianças também ajudem nas tarefas domésticas. “Faça uma lista mostrando quem vai arrumar a mesa do café da manhã, lavar a louça ou colocar a roupa na máquina”, sugere a especialista, que indica atividades específicas para cada idade.
“Pequenos de 2 anos podem colocar sua roupa suja no cesto e jogar a fralda no lixo, enquanto os de três, por exemplo, já podem tirar a mesa do café e guardar os alimentos na geladeira”, aponta. “Mas, se seus filhos estão na faixa de 8 ou 9 anos, deixe que lavem o box do banheiro na hora do banho, recolham o lixo ou passem aspirador na casa. Tudo de forma que sobrecarregue ninguém”.
"Ajude seu filho a entender o que está acontecendo, mas de um jeito adequado à idade dele”
Essa divisão de tarefas aliviará a carga dos pais no decorrer do dia e deixará os pequenos ocupados por alguns minutos. No entanto, não é suficiente para dar sossego aos adultos durante o home office. Por isso, é imprescindível pensar em outras ocupações para os filhos durante o dia, lembrando de garantir pelo menos 20 minutos de atividades que gastem energia pela manhã e à tarde. “Principalmente neste momento de isolamento”, comenta Lígia, ao indicar brincadeiras que envolvam ginástica, dança e que façam a criança se movimentar, como esconde-esconde ou morto-vivo.
E, no restante do tempo, é possível alternar jogos de tabuleiro, leituras e atividades educativas de forma que os filhos entendam que também terão uma rotina, assim como fez a gerente de projetos Keiko Arita. Para explicar isso à filha, ela montou uma tabela adesiva na parede do quarto da menina para mostrar quais eram as atividades planejadas para o dia. “Nesse quadro ela verifica o que tem que fazer, anota o que já está fazendo e, à medida que cumpre alguma tarefa, completa o terceiro espaço com o que foi concluído”. Dessa forma, se distrai por bastante tempo e colabora com o trabalho da mãe.
Não ignore a criança
Só que uma pausa ou outra para atender a garota sempre acontece e, de acordo com a especialista Lígia, isso é normal no regime de home office e necessário. “Não tem como trabalhar com crianças em casa sem nenhuma interrupção, mas usando as dicas acima com criatividade, organização e planejamento dá para fazer com que as interrupções diminuam”, garante a especialista, que ainda aconselha os pais a não ignorarem os pedidos de atenção feitos pela criança.
“O que você pode fazer é explicar que não consegue falar naquele momento, mas que, se ele brincar quietinho mais um pouco, vocês terão um momento juntos”, orienta. “Aí deixe ele brincando com massinha de modelar, por exemplo, e depois sente ao seu lado por dois ou três minutos para cumprir o que prometeu”.
Outra dica essencial para quem tem mais de um filho é dedicar tempo individual a cada um deles antes ou depois do horário de trabalho, pois isso evitará brigas durante o dia causadas por ciúme. “E, claro, use a televisão, computador, videogame e outros aparelhos tecnológicos com bastante moderação”, aponta a especialista.
Evite o uso das telas
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o uso excessivo de tecnologia pelas crianças aumenta a ansiedade, provoca comportamentos agressivos, dificulta a capacidade de relações sociais e pode gerar transtornos de sono, de alimentação e baixo rendimento escolar. Além disso, podem trazer prejuízos ao cérebro e até consequências físicas como deficiências visuais, auditivas e posturais.
Portanto, a orientação é que crianças acima de 6 anos e adolescentes usem as telas por, no máximo, duas horas por dia, enquanto os menores devem evitar essa exposição, principalmente antes dos dois anos de idade. “Ou seja, use-as de forma sábia, com algum filme que traga uma lição de moral, jogos educativos que incentivem o raciocínio ou para ligações com tios e avós”, exemplifica Lígia, solicitando sempre o bom senso dos pais.