“Com uma boa orientação, os filhos podem se tornar autênticos empreendedores, fazendo suas próprias escolhas e calculando os prós e contras do que irão escolher”, diz o investidor-anjo João Kepler. Pai de três, ele afirma que a máxima de que os pais devem criar seus filhos para o mundo nunca fez tanto sentido. “Não se trata de tentar evitar situações ou praticar a proteção extrema, mas de prepará-los para que saibam reagir e agir diante dos acontecimentos da vida”, sustenta.
Autor do livro “Se vira, moleque!”, Kepler mostra porque é interessante ensinar esses princípios dentro do ambiente familiar, valorizando a criatividade, a curiosidade e a postura empreendedora. “Boa parte dos meus fundamentos se dão em função da adoção do empreendedorismo como estilo de vida. Desde cedo, na minha casa, estimulamos os nossos filhos a empreender para que possam alcançar suas próprias realizações pessoais e profissionais. Uma postura ou atitude empreendedora diz respeito a forma de ver a vida, os desafios, as oportunidades e de também fazer novas escolhas a cada novo dia”, explica.
Assim como os limites, que precisam ser passados desde cedo, as lições de autorresponsabilidade e de empreendedorismo também devem fazer parte do repertório dos pais com as crianças. “Se você nunca ensinou, eles não vão aprender instantaneamente”, defende a psicóloga Sabrina Leva, do Conselho de Psicologia do Paraná. Para ela, ampliar os horizontes acaba sendo mais difícil para os adultos do que para os pequenos. “Geralmente os pais, por serem de outra geração, que têm essa insegurança, esse resquício de que empreender é muito inseguro, de que não vai dar certo”, avalia.
Como caminho, a especialista sugere conversar sobre o assunto em casa, estimular a criatividade da criança e valorizar o que ela produz. “Oportunizar o contato com tudo isso já é uma primeira forma de quebrar preconceitos e se abrir para essa possibilidade”, garante. Outra dica é tomar cuidado com o tradicional “o que você vai querer ser quando crescer?”. “Os pais precisam estar atentos para não podar, invalidar as vontades e sonhos da criança. Tem que conversar sobre isso e sempre ampliar”, orienta.
Autoconfiança
Já a psicóloga Leticia Georgett, do Hospital Marcelino Champagnat, afirma que a primeira questão que precisa ser trabalhada é a autoconfiança da criança. “Nutrir sempre nesse ser humano essa crença sólida, profunda e firme sobre si mesmo. A capacidade dele de enfrentar os diversos contextos, acreditar em si e não se sentir inferiorizado”, declara.
Entre os benefícios, ela cita a formação de pessoas com alto poder de criatividade — o que gera impacto positivo nas relações sociais e afetivas e, consequentemente, na vida profissional. “Ela [a criança] vai saber usar suas competências e qualidades a favor dela mesma e enfrentar situações da vida diária sem medo”, aponta. Leticia também deixa outras dicas que podem ajudar os pais nesse processo:
- A primeira coisa é criar uma rotina. “Quando a gente estabelece uma rotina, a gente está dando previsibilidade para a criança. Ela vai se sentir mais segura, mais protegida, mais confiante”, ressalta.
- Dar responsabilidades apropriadas para cada idade, (regar as plantas, guardar os brinquedos, alimentar os animais de estimação) e ser muito específico quando for dar as ordens.
- Deixar as crianças tomarem decisões. “Porque quando elas têm a chance de fazer escolhas, elas vão ganhar confiança no próprio bom senso. De modo geral, elas gostam de ter muito controle sobre tudo e se sentem mais confiantes quando são capazes de negociar o que elas querem”, esclarece.
- Ensinar a esperar. Quando a gente ensina a criança a esperar, desenvolve nela a tolerância à frustração. A criança aprende que as coisas não acontecem sempre do jeito que ela quer, no tempo delas. Elas aprendem o essencial: o autocontrole.
- Autonomia e independência. Autonomia no sentido do indivíduo gerenciar às próprias situações e tomar as decisões e independência como capacidade de fazer as coisas por si só. “Ambas capacidades devem ser ensinadas para as crianças desde que são muito pequenas”, diz a especialista.
- Participar de competições. Muitas crianças se esquivam das competições, porque têm medo de perder e de ter os sentimentos ligados à derrota. Nesse caso, o papel dos pais está em incentivar a se esforçar e explicar que o resultado é fruto do esforço de cada um e que perder faz parte da vida.