O período da licença-maternidade estava acabando e a administradora Dayane Cocci Wadeck não sabia como conciliar o retorno presencial ao trabalho e o cuidado com sua bebê. “Não tínhamos ninguém disponível da família ou de nossa total confiança para ficar com a Juju”, recorda a paranaense, que começou a pesquisar a respeito dos prós e contras de colocar a filha de 5 meses em uma escolinha.
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Segundo ela, essa opção a deixaria mais tranquila como mãe, já que as creches que ela visitava tinham profissionais especializados para atender a pequena com carinho, segurança e um ambiente acolhedor. No entanto, ela também sabia que a saúde da filha poderia ser prejudicada, já que o contato com outras crianças diariamente aumentaria a chance de a menina ficar doente.
E essa preocupação é real, de acordo com a pediatra Glória Vargas, porque o sistema imunológico infantil está em formação e é muito imaturo, principalmente no primeiro ano de vida. “Então, a criança que vai para a creche fica mais exposta a doenças como gripes e infecções virais”, informa a médica, ao citar que o ideal para a saúde dos pequenos seria esperar até 3 ou 4 anos para iniciar a “vida estudantil”.
No entanto, se os pais não tiverem outra opção, ela explica que é possível prevenir problemas de saúde com cuidados como ida regular ao pediatra e limpeza do nariz do bebê com soro sempre que chegar da escolinha. Além disso, Glória informa que há benefícios no contato com outras crianças em relação à alimentação e rotina. “Isso porque o pequeno tende a comer melhor ao ver colegas fazendo isso, além de ficar mais organizado nos horários, dormindo mais cedo, por exemplo”.
Outro benefício são os estímulos que a criança recebe na creche e que o cuidador nem sempre consegue em casa. Afinal, “é preciso tempo de qualidade com o pequeno”, aponta a doutora em psicologia Lídia Weber. “Ou seja, deixar o bebê no cercadinho ou na frente da TV não traz vantagem nenhuma”, pontua a especialista, ressaltando que crianças só devem ter contato com telas após os dois anos.
Além disso, a psicóloga afirma que brincar e explorar o mundo é essencial para o desenvolvimento nessa fase, então “a escolinha pode trazer mais benefícios para crianças a partir de dois anos do que ficar apenas com uma pessoa em casa”. Inclusive, “pesquisas revelam que a socialização na creche pode promover autocontrole, regulação socioemocional e empatia”.
Por outro lado, o pequeno também pode se tornar agressivo devido à disputa pela atenção dos adultos e até começar a morder ou bater nos colegas. “Lembro de uma mãe, por exemplo, cujo filho recebeu 15 mordidas na creche e ninguém viu”, relata Lídia, ao orientar os pais a verificarem quantas crianças são atendidas por adulto na instituição escolhida, e se os profissionais sabem como agir diante de agressões, birras e outras situações.
Ela lembra ainda que “o cérebro da criança é moldado de acordo com os estímulos e o afeto que recebe”, então os pequenos precisam de muito carinho e acolhimento. No entanto, ainda que a equipe da creche tenha esse cuidado, não tirará a responsabilidade dos pais. “Se você consegue ficar com seu filho em casa, pelo menos no primeiro ano, faça isso”, estimula a especialista.
Mas, caso o contexto da família não permita, pai e mãe devem aproveitar, ao máximo, os momentos que tiverem com a criança à noite, nos horários das refeições e aos finais de semana. “Brinque bastante com seu filho, leia com ele, passeie, ensine músicas e o incentive a socializar com amiguinhos, porque acredite: a infância passa muito rápido”.
Principais benefícios da escolinha para menores de 3 anos
- Flexibilidade de horários: os pais podem escolher deixar o bebê com as professoras e coleguinhas pela manhã, à tarde ou em período integral. Há creches, inclusive, que permitem até algumas horas extras, sem taxa adicional.
- Atividades para socialização e desenvolvimento: a escolinha oferece diversos estímulos para os pequenos, algo que nem sempre recebem em casa. “Lembrando que isso depende da família, da creche escolhida e da própria criança”, pontua Lídia Weber, professora sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
- Contato com outras crianças: isso é essencial para o desenvolvimento – principalmente a partir dos dois anos – e traz benefícios como autocontrole, empatia e até melhora na alimentação, já que o pequeno vê os colegas experimentando alimentos saudáveis e decide provar também.
- Organização nos horários: indo à escolinha, a criança passa a ter uma rotina para seguir e tende a dormir mais cedo em casa.
- Evita o apego inseguro: ficar muito tempo com a mãe, por exemplo, pode desenvolver na criança apego exagerado e medo de se afastar, o que tende a ser minimizado entre os pequenos que frequentam a creche.
Principais preocupações ao colocar bebês de 0 a 3 anos na escolinha
- A criança desenvolve diversas doenças: o sistema imunológico infantil é imaturo, então fica exposto a gripes e infecções virais. Com isso, “os pais precisam levar o filho regularmente ao pediatra e tomar cuidados diários”, informa a pediatra Glória Vargas, ao citar o uso de vitaminas recomendadas pelo médico, realização de exames, acompanhamento do peso e limpeza do nariz com soro.
- O bebê precisa de acolhimento: afeto e segurança são necessários para o desenvolvimento físico e emocional, e as melhores pessoas para isso são os pais. Então, “quanto mais tempo a criança puder ficar com vocês, melhor”, garante Lídia.
- Falta de controle a respeito do que as crianças fazem e aprendem: em casa, os pais escolhem as brincadeiras, os livros para ler, as músicas que a criança vai ouvir e o que vai comer. Já na creche, os pais podem escolher a instituição que mais se aproxime com as preferências da família, mas não há como acompanhar o tempo todo o que será transmitido ao filho ou como ele será tratado na instituição.
- Problemas de comportamento: ao mesmo tempo em que a socialização com outras crianças pode trazer diversos benefícios, também pode gerar problemas como agressividade e mordidas. Então, os pais devem verificar se os profissionais da escolinha estão preparados para lidar com situações como essas.