Você já deve ter percebido que seu filho de 8 ou 9 anos de idade já não demonstra mais tanto interesse em brincar de carrinho ou de escolinha, e que o seu pequeno, com menos de 5, tem dificuldade em cumprir regras quando uma determinada brincadeira exige. E tudo isso tem uma explicação: é que há uma grande (e desconhecida) diferença entre brincar e jogar e que interfere nas fases do desenvolvimento da criança.
“O brincar é uma ação livre da criança em que ela fica entre a realidade e a imaginação. Nisso, traz registros – tanto de alegria quanto de tristeza – e consegue, de forma natural, trabalhar essas questões”, afirma a psicóloga Rita Lous, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Segundo ela, as ações do brincar acompanham a criança desde que ela nasce, mas se tornam mais presentes durante a fase do faz de conta. “Aquela brincadeira de esconde-esconde com a fraldinha já é uma forma de o bebê brincar. Ele imagina que a mamãe e o papai sumiram e que depois voltaram. Isso acontece porque tem uma referência de ausência e de presença de tudo aquilo que é importante para ele”, revelou.
A pedagoga Danielle Carmassi, vice-diretora do Colégio Imaculada Conceição, garante, no entanto, que mesmo quando a criança brinca de faz de conta, ela pode estar estipulando regras – uma característica mais forte nos jogos. “Quando ela vai brincar de boneca, costuma determinar o que a boneca pode fazer, onde ela vai e com quem se relaciona. Já quando brinca de escolinha, diz qual é a hora de fazer atividade e qual é a hora da diversão. Só que são regras dela, coisas que ela mesma cria”, pondera.
Jogos
Diferente da brincadeira livre, os jogos impõem regras pré-definidas que precisam ser seguidas para que um vencedor apareça. E existe, ainda, uma conotação que muitas crianças menores não estão acostumadas a lidar: a da competitividade. “Quando participam de um jogo, elas têm de lidar com o sentimento de perda e também seguir algumas normas que não foram estabelecidas por elas, que talvez não sejam da sua vontade”, ressalta Danielle.
Ela justifica que é só a partir dos 6 anos de idade – portanto, passada a etapa do faz de conta – que a criança começa a entender melhor e aceitar as regras. “Antes disso, eles ainda não compreendem bem que aquela norma tem que ser cumprida para que o jogo dê certo e geralmente as tentativas, nesse sentido, acabam em briga”, esclarece a pedagoga.
Meio termo
Mesmo que a criança seja mais velha, as duas especialistas indicam que os pais também promovam atividades que envolvam o brincar livre, ao mesmo tempo que os menores já podem ter os primeiros contatos com as regras. “São práticas que desenvolvem diferentes habilidades. Acho extremamente importante, também, que as crianças participem da produção do brincar. Afinal, o brincar vem antes do brinquedo”, sugere Rita Lous.
Vantagens
Veja agora algumas das vantagens dos conceitos de brincar e de jogar e como colocá-los em prática em casa:
Brincar: desenvolve o raciocínio, a criatividade, a imaginação, melhora o convívio, dá autonomia, favorece a formação integral, estimula os sentidos.
Exemplos: Emitir sons, imitar bichos, brincar com as mãos, fazer mímica, brincar de bola ou de massinha, criar desenhos, fazer pinturas, pular amarelinha, usar fantasias, construir brinquedos com sucata e material reciclável, contar histórias (prontas e inventadas).
Jogar: ajuda na atenção, na concentração, na cooperação e no controle de emoções. Além disso, estimula a interação e o espírito de equipe, ensina a lidar com o fracasso, a repartir, a esperar, a respeitar regras, a desenvolver habilidades de interpretação.
Exemplos: jogos de tabuleiro (dama, xadrez, trilha), jogos de cartas, dominó, cabo de guerra, jogo da velha, stop, boliche, esportes em geral (individuais e com a formação de times), esconde-esconde.