Os filhos estavam acostumados a ver seus colegas diariamente e bastava levantar a mão para perguntar qualquer coisa à professora. Agora, estudam dentro de casa, dependem da internet para assistir às aulas e nem sempre conseguem tirar todas as dúvidas. Com isso, são os pais que ouvem os questionamentos, acompanham de perto a ansiedade deles quando não entendem algum conteúdo e fazem o possível para ajudá-los.
“Só que pai e a mãe não têm obrigação de saber tudo e nem tempo suficiente para estar ao lado da criança o dia todo, pois trabalham e têm sua própria rotina”, afirma a psicopedagoga Bruna Dela Líbera, ao comentar que muitos estão sobrecarregados por causa dessa mudança. “Eles sentem que precisam ajudar o filho, mas quando não conseguem, acabam se estressando”, relata.
Como resultado, ficam impacientes, começam a discutir e prejudicam ainda mais o aprendizado dos pequenos. “Isso porque eles já estão inseguros por vivenciar uma nova dinâmica de aulas, mas agora também ficam preocupados com seus pais”, afirma a especialista, ao citar que algumas crianças podem até apresentar bloqueio pedagógico por conta disso. “É só pensar que não conseguirão fazer as tarefas novamente no dia que seguinte que já entram em pânico”.
Em situações assim, é comum os pequenos se queixarem de dor de barriga, dor de cabeça, sentirem mal-estar, e ficarem desanimados ou irritados antes da aula. Portanto, os pais devem estar atentos à recorrência desses sinais e tentarem, ao máximo, tranquilizar os filhos. “Lembrem que, por mais difícil que pareça, essa situação é passageira e não é culpa de nenhum de vocês”, garante Bruna, indicando também o contato frequente com a escola.
E é isso que a curitibana Caroline Sobocinski Paes tem feito. Há três meses dentro de casa devido à pandemia, ela se acostumou a ter a filha de 8 anos pedindo sua ajuda e viu a menina ficar ansiosa e estressada quando ela e o marido não conseguiam explicar as tarefas. “Isso porque a Lisia tem aquela ideia de que a gente sabe tudo, mas não funciona assim”. Por isso, sempre que o tema é mais difícil, a mãe avisa a professora e pede a recapitulação do assunto na próxima aula.
De acordo com a psicopedagoga, esse contato com os educadores é essencial para que a instituição de ensino saiba o que está acontecendo com cada criança e ajude neste momento de mudanças. “Lembrando que isso também deve ser feito nas situações em que o aluno não tem um sinal estável de internet ou não dispõe de equipamentos para acessar às aulas”, aponta Bruna. “Assim, o pai deixa registrado que a criança não fez determinada atividade porque não conseguiu acessá-la”.
Cuidado com as cobranças
Outro ponto essencial neste período é o equilíbrio em relação ao que se exige dos filhos, pois, assim como toda a família, eles estão sobrecarregados com a situação de isolamento. “Se já é difícil para o adulto, imagine para eles que não podem mais encontrar os amigos, ir à escola ou passear”, aponta Bruna. Então, este não é o momento de impor que os filhos sejam excelentes alunos, tirem as melhores notas ou se dediquem em tudo. “O que precisamos fazer é acolhê-los, perguntar o que estão aprendendo e ouvir suas dificuldades”.
Além disso, se os pais perceberem que a criança fica muito ansiosa durante as aulas ao vivo – querendo chamar a atenção da professora o tempo todo ou tentando terminar a tarefa mais rápido que os colegas –, pode ser melhor que ela assista ao vídeo gravado. “Assim, saberá que a profe não está à sua disposição naquele momento e tende a ficar mais calma para assimilar o conteúdo”, sugere a psicopedagoga. “Lembrando que este é um momento de tentativas e que o diferencial para o sucesso será, sem dúvida, treinar nossa resiliência”.