Ainda que fosse filha única e não tivesse a companhia de outras crianças o tempo todo, a pequena Daniella Melissa de Santana nunca se sentia sozinha. “Ela criava um monte de amigos imaginários, brincava com todos e fazia a gente participar. Era muito engraçado”, relata a mãe Suelen Fernanda Vieira. Moradora de Curitiba, ela percebeu logo cedo que a filha conversava com um cachorro, um cavalo e com algumas crianças que ela inventava. “Se a gente ia dar banho nela, tinha que dar banho em um dos amigos também. E na hora de secar ou vestir, fazíamos a mesma coisa”, recorda.
Nas primeiras semanas, a curitibana ficou preocupada com a situação e decidiu procurar uma psicóloga para verificar se a filha estava bem. No entanto, bastou a especialista dizer que aquilo era normal e que os amigos imaginários desapareceriam com o tempo para que Suellen e o esposo, Rodrigo de Santana, decidissem estimular a menina na brincadeira. “Toda vez que eu chegava em casa, ela contava de uma nova aventura que tinha passado durante o dia”, recorda o pai. Além disso, reclamava quando algum dos companheiros tinha feito muita bagunça em casa. “Era um sarro!”, completa.
De acordo com a psicóloga Semíramis Maria Vedovatto, do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, o amigo imaginário é uma criação simbólica da criança para enfrentar fatos do cotidiano e mudanças de rotina. “É uma maneira de ela lidar com a troca de escola, chegada de um irmãozinho, saída do quarto dos pais para começar a dormir no dela ou até com o falecimento de um ente querido e a separação dos pais”.
Por isso, o personagem criado terá o comportamento e a personalidade elaborados de acordo com a situação que a criança precisa lidar. “Pode ser uma pessoa, um animal ou alguma criatura inventada”, comenta a especialista, que aponta outros fatores positivos dessa fase da infância. “Além de prepará-la para lidar com suas emoções, o amigo imaginário ajuda a criança a se desenvolver cognitivamente por meio da linguagem e criatividade”.
No entanto, os pais devem ficar alerta nos casos em que os amigos inventados limitem o contato do filho com outras crianças. “Se ele só quer ficar com o amigo imaginário e só interage com ele, será necessário incentivá-lo a participar de atividades coletivas”, orienta Semíramis. Para isso, vale apostar em algum esporte, organizar uma festa do pijama, ir ao parque ou realizar qualquer ação que favoreça o contato com outras crianças. “Você não pode deixar que a criança se isole”.
“Você não pode deixar que a criança se isole”
Além disso, a psicóloga afirma que a fase do amigo imaginário pode iniciar por volta dos três anos de idade e precisa terminar quando a criança completar oito. “Se a situação continuar após essa idade, os pais precisarão conversar com o filho a respeito”.
Esses casos são raros e, na maioria das vezes, a fase termina muito rápido e só deixa saudades. “Hoje minha filha nem lembra do amigo que ela tinha”, relata a professora Camila Penteado Sanches. Mãe da pequena Lívia, de nove anos, ela viu a menina brincar com seu amigo imaginário “Índio” em todos os lugares que ia.
“Ela tinha três anos de idade e eu ficava bem curiosa para saber como era aquele amigo”, afirma a mãe, que hoje guarda com carinho todas as lembranças. “Não tem como esquecer das vezes que ela fez eu parar na rua para esperar o amigo ou que eu tinha que fazer para o Índio o mesmo que fazia com ela. Foi uma fase muito gostosa!”, garante.
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