Os pais sempre querem o melhor para os filhos. Porém, a linha entre educar bem e mimar demais é tênue e os conflitos entre acolhimento e passar a mão na cabeça das crianças se colocam quase diariamente na rotina das famílias. A boa notícia é que tem como diferenciar uma atitude da outra e garantir tanto o carinho quanto os limites.
A administradora Cristina Alves sempre se faz a mesma pergunta quando quer conversar com o filho de 3 anos sobre algum comportamento dele. “Eu sempre questiono as minhas atitudes para não parecer superprotetora”, conta a mãe de primeira viagem. Ela diz que já se arrependeu de ter feito vista grossa para alguma situação em vez de repreender a atitude do pequeno.
Siga o Sempre Família no Instagram!
Birra faz parte
As dúvidas sobre o limite entre mimar e acolher são comuns a muitos pais, que, volta e meia, precisam lidar com alguma cena que os filhos aprontam em locais públicos. Chorar na loja de brinquedos e abrir um berreiro nos corredores do mercado são apenas alguns exemplos de uma lista infinita de possibilidades. A especialista em Neurociência Comportamental Infantil, Telma Abrahão, porém, explica que tem como mediar essas situações de maneira tranquila.
“A criança tem o direito de chorar e se frustrar. Ela tem o cérebro imaturo e é dominada pelas emoções, ainda não sabe lidar com o que sente”, explica Telma. Para ela, diante de uma cena de birra, por exemplo, conversar e explicar que aquele não é o momento de comprar um carrinho novo, por exemplo, é a melhor forma de fazê-la parar. “Quando eu acolho, eu imponho um limite e posso ser respeitosa”, reforça.
Diálogo é o caminho
Abraçar a criança e dizer que entende os motivos da frustração dela é o acolhimento que Telma defende. “Dar um colo quando a criança está chorando não é mimar. Acolher é quando eu valido as emoções de uma criança e reconheço o que ela está sentindo”, destaca Telma. “Mimar é meu filho chorar e eu pensar que ele não vai sobreviver a uma frustração”, completa. E isso é o que faz os pais não colocarem limites até quando deveriam dizer não.
Esse tipo de atitude traz consequências sérias porque, segundo a especialista, não permite que a criança desenvolva a resiliência e aprenda a desistir. Para a psicóloga Luana Cavicion Gomes o acolhimento trata justamente de noção afetiva das necessidades dos filhos e está enraizado na empatia. “A gente tenta entender o que o outro está sentindo ou pensando, se coloca no lugar do outro. O acolhimento tem uma raiz no afeto”, ressalta.
“Aquele que é muito mimado não tem tolerância à frustração. Então, quando o limite aparece, a pessoa não o tolera”, fala Luana. É por isso, na opinião da psicóloga, que a pessoa mimada não valoriza o que tem e não tolera ouvir um 'não'. Ao mimar não há acolhimento, apenas uma permanência na zona de conforto, esclarece Luana.
E por mais que o desejo seja de evitar o sofrimento dos filhos, às vezes ele é inevitável e necessário. “Uma coisa é o seu filho sofrer sozinho e outra é passar por uma frustração natural da vida com apoio. Encontrar esse meio termo exige conhecimento”, conclui Telma.