Deixar que os filhos descubram sozinhos o caminho da espiritualidade e religiosidade é compactuar com a formação incompleta de quem nos foi confiado.| Foto: David Beale/Unsplash
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Sempre me ocupei de prover saúde aos filhos. Mãe atenta e, sim, um tanto exagerada nos cuidados com meu bebê, me dediquei a suprir suas necessidades essenciais, tais como alimentação e educação, com esmero. Os anos passavam e, enquanto isso, via o milagre da vida acontecer bem diante de mim transformando a criança dependente em um homem autônomo, porém desprovido de religiosidade.

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Então, as invariáveis adversidades foram surgindo: fracassos, frustrações, perdas, lutos.  A vida como ela é começou a cobrar respostas e foi na religiosidade que encontrei força e coragem para persegui-las com esperança e confiança de que não estou só.

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Precisei cair muitas vezes antes de despertar para o valor da religiosidade. Depois de várias quedas, enfim, uma certeza: ser adulto verdadeiramente saudável nos exige nutrir também o espírito. Então, de corpo e alma fortes, me rendi ao que até então me era dispensável: a religiosidade.

Frente a estarrecedoras notícias e estatísticas sobre nossos jovens vulneráveis a doenças ditas “da atualidade” – ansiedade e depressão, por exemplo – passei a nutrir meu filho espiritualmente pela religiosidade porque aprendi, por experiência própria, que só assim o homem cresce continuamente... e por completo.

O poder da religiosidade

Essencial ao homem, a religiosidade é semente rica em nutrientes para a alma que é parte do ser humano. Tão vital quanto suprir o corpo para um crescimento saudável é também nutrir a alma com a religiosidade que completa o homem em formação.

Um espírito forte nos capacita a enxergar o mundo por uma lente além do óbvio materialismo; nos prepara para encarar as vicissitudes da vida com esperança em dias melhores; nos inspira a crer em alguém maior do que nós; um espírito forte nos humilha para nos reconhecermos não como deus, mas necessitados dele.

Sobre o sólido alicerce da religiosidade, descobri a força para viver as dores da vida com perseverança e, sobretudo, confiança de que Deus me capacita para vencê-las com Ele.  Pela religiosidade, finalmente me foi desvendado o sentido de minha existência e minha missão de vida.

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A ciência se curva ao mesmo entendimento. Segundo pesquisa do Journal of Adolescent Health (2006), quanto maior a religiosidade:

  • menor a chance de a pessoa se envolver em situações de risco com álcool e drogas;
  • menos sintomas depressivos e, consequentemente, de suicídio;
  • maior adesão a tratamentos de doenças crônicas;
  • maior enfrentamento de doenças graves e, sobretudo:
  • maior sentido à vida; principalmente em situações difíceis.

Em suma: um espírito nutrido aumenta significativamente (palavra minha) as chances de formar um adulto saudável para o mundo.

A ausência da religiosidade

Em um mundo tão necessitado de saúde – em todos os sentidos – compomos uma sociedade doente e carente sobretudo de sabedoria e esperança. Dragados pela ágil e dinâmica modernidade, arriscamos viver relações superficiais em prol de uma dita “evolução” que nos afoga e deprime em dores do mundo até conhecidas, mas difíceis ao humano de serem evitadas.

Sempre ocupados demais – “não temos tempo para nada”, como muitos orgulhosamente se justificam – abdicamos de nos aprofundar espiritualmente. Rasos e sem tempo para isso, perecemos no ostracismo perene nos tornando “nanicos espirituais”, ou seja, seres limitados ao mundo material.

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Freneticamente envolvidos em deveres e afazeres, distrações e inúmeras atividades, nos distanciamos de nossa essência desatentos ao que verdadeiramente nos sustenta e é vital. Vamos nos tornando seres demasiadamente ocupados, inquietantemente aflitos e excessivamente angustiados por uma realidade meramente humana.

Gradativamente, vamos nos deformando e perdendo nossa humanidade por prezar o efêmero em detrimento ao que é verdadeiramente essencial. O homem é corpo e também alma. Precisa, portanto, voltar-se para ela para crescer completo.

Livre arbítrio desvirtuado

Quando escuto pais e mães deturparem o livre arbítrio para se eximirem de iniciar filho em uma religiosidade, me pergunto: “Como não enxergar a valorosa e vital contribuição da espiritualidade na formação de um adulto saudável?”

De repente, a afirmativa comumente repetida de que “somos corpo e alma” seja só mais uma retórica inconsciente que, como qualquer outro clichê, não nos toca nem move para uma mudança capaz de ampliar nossa leitura – e prática – sobre o óbvio.

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Dispondo da liberdade de escolha como recurso à privação de uma religiosidade, nos limitamos a prover necessidades biológicas e intelectuais aos filhos como obrigações suficientes ao seu desenvolvimento e ao cumprimento de nossa missão. Cegos, seguimos formando outros cegos espiritualmente capengas.

“Daniel é livre para escolher a religião que quiser e quando quiser. Não acho certo lhe impor uma crença ou qualquer religião”, disse certa mãe em um grupo.

Como ela, muitas outras compartilhavam da mesma opinião. Talvez porque não tivessem sido elas mesmas nutridas espiritualmente e, por isso, desacreditarem do valor na prática. Independentemente do motivo, a maioria desdenhou do cultivo à religiosidade com a superficialidade humana e frágil de quem enxerga – e só se permite enxergar – o que os olhos veem.

A religiosidade é essencial

O presunçoso – e, a meu ver, pobre – discurso calcado no livre arbítrio como justificativa à abstenção de uma educação religiosa me soa no mínimo irresponsável para não dizer, preguiçoso. Livre arbítrio é premissa indiscutível e usá-la como bengala a uma negligente atuação sobre nossos filhos é contestável.

Nos dias “de hoje”, muitos se ocupam em apontar as mazelas da atualidade desconsiderando o efeito nocivo de uma liberdade descontrolada quase animal. Usar do livre arbítrio para escolher “quando e o que quiser” não nos torna livres, mas escravos e propensos ao individualismo egoísta e manipulador que o mundo impõe.

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A acomodada decisão – preguiçosa – de delegar aos filhos a responsabilidade de descobrir no futuro – se o fizer e sabe-se lá como – o árduo caminho da espiritualidade negligenciada desde o começo é compactuar com a formação incompleta de quem nos foi confiado. Terreno não semeado, definitivamente, não frutifica.

Cultivar a religiosidade nos filhos é sim indispensável. Sabemos que logo fará suas próprias escolhas, mas a chance de fazê-las a partir de um corpo e alma fortes o torna capaz de decidir com sabedoria, humildade e esperança, especialmente em tempos difíceis... como este que hoje vivemos, por exemplo.

Os frutos do cultivo da religiosidade

Fui uma adolescente distante da religiosidade como meu filho hoje, mas a semente jogada em terreno fértil quando criança fez toda a diferença na minha vida adulta. Tão logo precisei, não precisei percorrer diferentes caminhos; soube qual retomar para mudar, me fortalecer e seguir adiante, melhor do que antes.

Hoje mãe e tendo passado por provações, valorizo a religiosidade na formação dos filhos imensamente. Persisto neste desafio diariamente. Paciente, constante e perseverante, semeio. A experiência de crescer espiritualmente prova: não existe homem saudável sem alma forte.

Convencida da importância da religiosidade semeada e nutrida nos filhos, sei que os frutos virão. Como naquele dia em que meu filho me surpreendeu me seguindo quando já saía:

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- Mãe, espera! Vou contigo à Igreja. Tô meio bolado com umas coisas aí... acho que vai ser bom ir... sei lá, parece que volto melhor.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

A religiosidade completa

Meu filho ainda não sabe, mas persistir neste cultivo, gera frutos ainda maiores que só “se sentir bem”, meta muito pobre diante da grandiosidade de quem se dedica a verdadeiramente nutrir o espírito: finca alicerces sólidos para uma vida completa, saudável que o capacita a viver os invariáveis desafios com equilíbrio e se situar no mundo de forma competente para exercer seu livre arbítrio com sabedoria e retidão de homem que é corpo... e alma. Livre e pleno.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.