No serviço de escuta solidária uma das primeiras coisas que se aprende é o anonimato. Os nomes perdem a importância diante do trabalho que precisa ser feito. “Para mim é um momento de mergulhar no coração de Deus e de estar disponível para o outro”, diz uma das voluntárias.
Siga o Sempre Família no Instagram!
A médica conta que dedicou 36 anos de vida à saúde pública, mas que só agora – depois da aposentadoria – descobriu o real poder das ações sociais. “Minha opção sempre foi o serviço, mas o voluntariado me abriu para coisas ainda maiores”, avalia.
Motivada a fazer o bem, ela passou a ajudar no programa de prevenção ao suicídio da Arquidiocese de Curitiba, com dias e horários definidos para agir. “Eu participo dos atendimentos três vezes por semana, duas horas por dia. É um trabalho necessário e emocionante”, define.
O serviço
“A escuta solidária é uma escuta telefônica que acolhe e ouve quem está vulnerável, de forma sigilosa, acolhedora, missionária e transformadora, para promover a saúde integral. É uma escuta voluntária pela vida que resgata pelo amor”, explica a psicóloga Carmen Mauer Simon Chiocca, responsável pelo serviço.
A iniciativa, pelo que afirma, é uma das frentes do projeto Sobreviver, resposta da Cúria Metropolitana ao aumento nos casos de suicídio especialmente entre os jovens. “Foi um pedido pessoal do arcebispo, Dom José Antonio Peruzzo, para que se fizesse algo nessa área”, lembra.
No início, a ideia era que o atendimento fosse feito presencialmente nas igrejas e comunidades onde já funciona o SOS Família (trabalho pastoral que presta apoio social, físico, emocional e espiritual a famílias em crise). Por conta da necessidade de distanciamento entre as pessoas, no entanto, o modo de atuação precisou ser revisto e acabou ganhando abrangência.
“O funcionamento da escuta solidária foi viabilizado pela Arquidiocese com a instalação de uma central de atendimento telefônico. Então, as pessoas trabalham de casa e podem receber as ligações de qualquer lugar pelo computador ou então no celular”, comenta Carmen.
Expediente
O atendimento funciona de domingo a domingo, sempre das 6 horas às 22h30, pelo telefone (41) 3350-0003. O corpo fixo de voluntários varia, hoje, entre 60 e 70 pessoas. “Eles dizem a disponibilidade que têm e nós negociamos os horários”, esclarece a coordenadora. Para ingressar, os interessados passam primeiro por uma entrevista e depois participam de treinamentos e constantes atualizações.
“O serviço não é uma escuta terapêutica, mas se baseia em algumas linhas de apoio como fenomenologia, gestalt terapia e comunicação não-violenta. Esses métodos ajudam a criar um ambiente de acolhimento, aonde é possível construir uma conexão empática, de autenticidade e compaixão em um curto espaço de tempo”, aponta Carmen.
A escuta solidária da Arquidiocese de Curitiba também ganhou relevância durante a pandemia, com o maior número de pessoas em casa, se sentindo sozinhas, emocionalmente abaladas e precisando conversar.
Resultados
Para Carmen, fica difícil dizer em números quantas pessoas a iniciativa já ajudou em quase um ano de funcionamento, mas a média de ligações recebidas todos os meses fica entre 100 e 200. “Já identificamos os horários de maior procura e estamos remanejando alguns voluntários para esses períodos”, adianta.
Apesar de ser um serviço administrado pela Igreja Católica, ela garante que o foco não está na evangelização. “Nós temos voluntários de várias denominações cristãs e também de outras religiões. Ela é uma escuta neutra com foco na prevenção”, ressalta.
Como ajudar?
Se você se sentiu tocado a ajudar na escuta solidária, pode ligar no telefone (41) 2105-6300 e obter mais informações. Para participar, não precisa morar em Curitiba, apenas ter internet estável em casa, além de computador ou telefone celular com sistema Android. A preparação inclui uma formação online e estudo do protocolo de atendimento.