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Ao se tornar mãe, uma enxurrada de palpites, conselhos e críticas surgem de todos os lados, especialmente quando as expectativas sobre o comportamento materno não condizem com o que a maioria das mulheres idealiza. Para esse tipo de assédio constrangedor um termo foi criado: o “mom-shaming”. Essas opiniões indesejadas podem vir de amigas, vizinhas, colegas de trabalho, mas, também, das avós da criança.

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A psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal Gerar, explica que a expressão diz respeito às situações nas quais as pessoas julgam e interferem no comportamento das mães com efeitos negativos. “Supõe-se que existe um jeito certo de criar as crianças e não vários jeitos possíveis, que há um modelo de mãe ideal, perfeita e que serve para todas as outras”, aponta. Mas quando esse pensamento de mãe ideal parte da mãe daquela mulher com um bebê recém-nascido ou mesmo de sua sogra, a situação se torna mais complicada ainda, porque o vínculo familiar pode se fragilizar.

É que no contexto familiar, o pensar diferente é sentido como distância ou falta de amor. Como se o fato de aquela nova mãe não atender a todos as sugestões das mulheres com mais experiência, fosse um sinal de ruptura. “Quando a filha ou nora se torna mãe, o momento é propício para que as mulheres com mais conhecimento sobre família coloquem suas vivências pessoais como a forma correta de maternar”, observa Ronit Mazer Sauerman, psicóloga e terapeuta familiar da Associação Paranaense de Terapia Familiar (APRTF).

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Seja pela ânsia de fazer com que a nova mãe se sinta bem diante daquela situação e mesmo no instinto materno de proteger a filha ou nora, de decepções, essas mulheres podem pecar no excesso de zelo. Para Vera, na maternidade há certa dificuldade de assumir as diferenças e aceitar que cada um tem suas opções. O ideal seria que a mãe recebesse ajuda para fazer escolhas possíveis para ela, para aquele casal, aquela família. É um momento de apoio e não de críticas, por isso é importante se cercar de pessoas de confiança, que levem em consideração suas possibilidades reais.

Ronit afirma que é sim um grande desafio estabelecer limites para as “invasões” da própria mãe, sogra ou outros familiares e, ao mesmo tempo, manter o calor do amor e da proximidade. “É preciso que essa nova mãe crie uma fronteira em volta de sua jovem família, como se fosse um muro com portas”, exemplifica. “Nas horas adequadas, pessoas podem entrar e sair, filtrando as invasões e permitindo a passagem do cuidado e do afeto”, alerta. “Se a mãe não tiver espaço para se descobrir, falhar e acertar, ela não saberá o quanto é capaz de cuidar do seu próprio filho. Estamos falando de mulheres, mas isso vale para o casal”, acrescenta.

Confira outras dicas sugeridas por Ronit:

– Observe quando a proximidade traz ajuda e cuidado e quando invade e controla;

– Evite romper os relacionamentos ou criar excesso de barreiras para a convivência para não prejudicar os laços familiares;

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– Não fique suscetível às críticas, nem dependente das pessoas. Se sentir que está muito vulnerável, uma alternativa é buscar a psicoterapia;

– Filtre os comentários, analise se é viável debater o assunto ou simplesmente descarte-o na lixeira;

– Se os comentários invasivos vieram de familiares do cônjuge, pode caber a ele estabelecer limites.

Críticas de familiares prejudicou amamentação e fez mãe se sentir incompetente

A estudante T. K., de 25 anos, mãe de um menino de 1 ano e 3 meses, conta que recebeu muitas críticas da madrasta do seu marido e também de suas tias, desde o início da gravidez. Na maternidade, após a cesárea, ouviu que teria que sair da cama mesmo com dores para se recuperar mais rápido, pois não teria o “luxo” de ficar deitada quando estivesse sozinha com o bebê. O assédio aumentou a ponto de prejudicar a amamentação. “A pressão por amamentar no peito me deixava nervosa, pois eu não tinha leite suficiente. Ainda tinha que escutar que a fulana estava amamentando ainda, que eu tinha que me esforçar mais. Com 10 dias meu leite secou por completo e entrei definitivamente com o leite artificial”, conta.  Na sala de espera do pediatra, na consulta de um mês, outras mães olhavam horrorizadas para a mamadeira. Chegaram a dizer que ela estava errada e que não conseguiria estabelecer vínculo com a criança. “Comecei a me sentir a pior mãe do mundo por não ter conseguido amamentar exclusivamente no peito”, revela.

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A cada crítica, T. K. se sentia mais incompetente como mãe e também como mulher. Os comentários negativos passaram a afetar suas decisões. “Tudo isso me deixou ansiosa, elevou meu nível de estresse e provocou sentimentos de que estou errando na educação dele. As pessoas queriam estabelecer maneiras e meios de como fazer e de como me comportar”, observa. Acusada de ser “sabe tudo” por não aceitar a opinião alheia, a estudante aprendeu a se posicionar, ignorar as caras feias e impor sua autoridade. Mesmo assim, carrega muitas frustrações e por causa da experiência que viveu não consegue pensar na ideia de ter mais um filho. O apoio de sua mãe e do seu companheiro foi fundamental para evitar a depressão pós-parto, assim como os desabafos feitos em um grupo de mães no whatsapp. Agora, quando alguma mãe passa pelo o que ela passou, seu conselho é que esta mulher “veja que é a melhor mãe que o seu bebê poderia ter”.

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