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Os primeiros cristãos protestantes nascidos no Brasil não foram filhos de imigrantes europeus, como se pode supor com facilidade, mas sim índios convertidos durante a invasão holandesa no nordeste que se mantiveram fiéis à fé cristã mesmo depois da expulsão dos missionários. Essa é uma das conclusões apresentadas pela historiadora cearense Jaquelini de Souza no livro “A Primeira Igreja Protestante do Brasil”, publicado em 2013.

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Quando houve a colonização holandesa no país (1630-1654), missionários da Igreja Reformada Holandesa fizeram um trabalho intensivo com os índios que viviam na região de Pernambuco, especialmente a tribo potiguara. Muitos deles se converteram à fé reformada, nascendo ali a “Igreja Reformada Potiguara”, que foi mantida em funcionamento pelos índios, mesmo após os portugueses expulsarem os holandeses da região. Alguns dos nativos, aliás, chegaram a deixar o país junto dos missionários para serem educados na Europa. Foi o caso dos índios Pedro Poty e Antônio Paraupaba, que em 1625, embarcam para a Holanda e lá receberam instrução formal da melhor qualidade. Mas, conforme conta Jaquelini em sua obra, diferente dos índios que iam à Europa com os ingleses e franceses, os dois nativos decidiram voltar ao Brasil. Vieram no início da segunda invasão holandesa ao país e se tornaram líderes militares, administrativos e, claro, espirituais.

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Poty e Paraupaba teriam se juntado aos outros índios potiguaras que mantiveram a fé desde a primeira chegada dos holandeses. Aos poucos, iniciaram então um intenso trabalho de catequese e formação de professores indígenas. Ainda em formação, a igreja se reunia nas aldeias e realizava batismos, casamentos e outras cerimônias típicas do protestantismo, como as ceias do Senhor.

Para a pesquisadora, a igreja protestante que estava se formando no Brasil não era muito diferente das outras experiências religiosas europeias nas Américas, sendo perceptível a relação colonizador-colonizado, com a exceção de que a educação formal dos nativos era vista como um pré-requisito para que ele se convertesse, o que frequentemente não ocorria em missões católicas.

Ao saírem do país, em 1654, os holandeses deixaram os potiguaras convertidos à própria sorte e ainda assim, sem toda a influência dos seus colonizadores, os índios mantiveram sua fé. Esses nativos que se refugiaram dos portugueses no Ceará, após uma caminhada de 750 quilômetros, chegaram ao novo estado e continuaram praticando a fé protestante auxiliando, inclusive, na conversão de índios tabajaras.

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Jaquelini considera que, somente após o fim dessa relação, com a expulsão dos holandeses, quando os potiguaras passaram a manter e a fazer prosperar livremente a própria prática religiosa, é que se pode falar numa verdadeira Igreja Potiguara.

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Neste tempo, Paraupaba que tinha uma ótima educação, proveniente dos tempos em que esteve na Europa, já era considerado um bom historiador e um profundo conhecedor da Bíblia. Ele chegou, inclusive, a pedir apoio à Holanda para os índios protestantes que estavam em um refúgio no Ceará, mas não obteve sucesso.

Apesar disso, a experiência protestante trazida pelos holandeses teve vida longa. A historiadora menciona em seu livro um relato do padre Antônio Vieira, conhecido jesuíta que foi missionário no Brasil, no qual conta à Companhia de Jesus sua preocupação com o que ocorria na região cearense. Ele batiza o local de “Genebra de todos os sertões” e diz que os índios ali “estão muitos deles tão calvinistas e luteranos como se nasceram em Inglaterra ou Alemanha”. A referência a Genebra existe, pela importância da cidade aos protestantes que tinha peso igual ao de Roma para os católicos.

O que aconteceu à Igreja Potiguara quando o grupo original se desfez, não se sabe ao certo. Uma das hipóteses é a de que possam ter se juntado aos portugueses e se convertido ao catolicismo durante o conflito chamado de Guerras dos Bárbaros, ocorrido em Pernambuco, em 1688, ou mesmo mesmo voltado às religiões nativas.

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