Não é preciso ter fé para se admirar com a beleza dos vitrais que colorem as igrejas cristãs. Presentes nos estonteantes exemplares da Sainte-Chapelle de Paris ou da Catedral de Chartres, ambas do século XIII, ou nas peças clássicas ou modernas presentes nas igrejas brasileiras, as cores iluminadas dos vitrais convidam à contemplação e transformam o interior de qualquer templo. Mas como é produzido um vitral? Foi para matar essa curiosidade que o Sempre Família conversou, durante a ExpoCatólica 2017, em São Paulo, com duas das maiores empresas do ramo no Brasil, a Vitrais Zanon e a D’Falco Vitrais.
Tudo começa com um bom projeto. “Analisa-se quem é o padroeiro da igreja, a história do templo e a partir disso se desenvolve o projeto artístico”, conta Vera Novais, da D’Falco. A empresa, de Itatiba (SP), produziu os vitrais do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a partir do projeto do artista sacro Cláudio Pastro, falecido em 2016. O desenho inicial é feito em aquarela ou digitalmente.
“O desenho é ampliado, na escala 1:1, e faz-se a seleção das cores”, explica o artista e arquiteto sacro Cristiano T. Fabris, responsável pela elaboração dos vitrais da empresa gaúcha Zanon, de Guaporé. O estúdio conta entre suas principais obras os vitrais das catedrais de Brasília e de Porto Alegre.
No vitral tradicional, conhecido como vitral de chumbo, o vidro já é produzido colorido. Aplicações posteriores de tinta são admitidas apenas para delinear as figuras representadas e seu sombreamento.
“Esse desenho ampliado servirá de base para o recorte do vidro”, conta Fabris. O processo é todo manual, peça por peça.
As peças de vidro são então montadas sobre uma mesa de luz para que o artista realize a pintura dos detalhes, se for o caso. “Caso se faça essa pintura, é necessário queimar o vidro em fornos para que a tinta penetre no material. Esse processo garantirá que a pintura jamais descasque ou desbote”, explica o artista.
“Em alguns casos, o vidro pode passar por diversas queimas e o processo pode demorar quase uma semana, conforme a complexidade do desenho”, afirma Fabris. “Um vitral bem feito pode durar séculos”.
“Após a queima final o vidro segue para a linha de montagem, onde são utilizados perfis de chumbo para unir um pedaço ao outro. A junção desses perfis é feita por meio de solda de estanho”, afirma o artista.
“Para finalizar, passa-se massa de vidraceiro junto aos perfis de chumbo, que são apertados para dar maior firmeza à peça e também para garantir a sua impermeabilidade”, esclarece Fabris. “As peças prontas são então limpas de toda a sujeira acumulada durante essa montagem final”.
As empresas também atuam restaurando vitrais antigos. “O vitral está permanentemente em contato com intempéries – sol, chuva e tudo o mais –, ainda mais em algumas regiões do Brasil, onde a variação de temperatura é muito grande durante o dia”, conta Fabris. “Acontece também o depósito de pátina e de sujeira sobre o vitral, de modo que, a longo prazo, são necessárias restaurações”.
Evangélicos
O serviço também é procurado por igrejas evangélicas. Fabris já criou vitrais para comunidades luteranas, presbiterianas e metodistas, geralmente com motivos abstratos. A procura nesse segmento, porém, é bem menor. A D’Falco afirma que 90% dos clientes atuais da empresa são comunidades católicas, enquanto 10% são ambientes residenciais e comerciais.
Não é apenas a restrição quanto ao uso de imagens vigente em algumas comunidades evangélicas que impede essas igrejas de optar pelos vitrais. “Segundo alguns pastores que consultamos, um dos fatores é que muitas igrejas ainda não têm um prédio próprio e, assim, não desejam investir na ornamentação do templo”, conta Novais.
Tendências
Os vitrais podem ter estilos bem diferentes. Se os vitrais clássicos tendem a ser figurativos, representando santos e personagens bíblicos, as igrejas modernas preferem vitrais abstratos, em que se destacam as cores e as formas geométricas. “Tudo depende do ambiente em que esse vitral vai estar”, afirma Fabris.
“Hoje, o que tem sido muito buscado é um estilo clássico, mas com um fundo mais leve. Em vez de cenas pesadas e detalhadas, dá-se destaque a uma figura ou a um símbolo e trabalha-se o fundo com formas geométricas ou orgânicas, para passar mais luz e menos informação”, explica Novais.
“Existem muitas igrejas que foram construídas nas décadas de 1950 e 1960, já mais modernas, que estão procurando fazer vitrais só agora, mas pedem um estilo figurativo. Nesse caso, procuro fazer imagens figurativas, mas com elementos modernos, o que acaba agradando muito, porque atende também àquela função catequética dos vitrais”, conta Fabris.
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