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C. S. Lewis é um dos pensadores cristãos mais admirados do século XX. O autor de As crônicas de Nárnia – obra literária com claro fundo cristão – foi também um grande divulgador da fé cristã, como apologeta e pregador, escrevendo obras memoráveis como Cristianismo puro e simples, Cartas de um diabo a seu aprendiz e O peso da glória. E, curiosamente, o pensamento desse anglicano que viveu entre 1898 e 1963 encontra ampla aceitação entre cristãos de diversas denominações – mesmo entre os grupos mais fechados ao ecumenismo.

Ateu até os 31 anos de idade, Lewis abraçou a fé cristã em 1931, sob a influência de um grande amigo seu, J. R. R. Tolkien, o autor de O Senhor dos Anéis. Tolkien era católico. Sua mãe, Mabel Suffield, tinha deixado o anglicanismo e abraçado o catolicismo e, por essa razão, a sua família cortou a ajuda financeira que lhe dava. Ela morreu de diabetes pouco tempo depois. Tolkien, então com 8 anos, foi entregue aos cuidados do padre jesuíta Francis Xavier Morgan, e manteve-se católico, tocado pelo testemunho de sua mãe.

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Outro católico que influenciou a conversão de Lewis, através de seus escritos, foi G. K. Chesterton, autor de Ortodoxia e O Homem Eterno. Agnóstico na juventude, ele se tornou anglicano por influência da esposa, Frances Blogg, e mais tarde se tornou católico.

Para Gabriele Greggersen, uma das maiores especialistas brasileiras na obra de Lewis e tradutora das novas edições de Cristianismo puro e simples, Cartas de um diabo a seu aprendiz e A abolição do homem lançadas neste ano pela editora Thomas Nelson Brasil, um dos principais motivos da popularidade de Lewis entre cristãos de diversas confissões é justamente a sua própria confissão. “Como anglicano, ele tinha uma visão voltada para o diálogo inter-religioso e para o ecumenismo, não levantando bandeiras, principalmente da sua própria igreja”, explica ela ao Sempre Família.

“Como se sabe, os anglicanos combatem todo tipo de proselitismo e posição fundamentalista, por um lado, ou extremamente liberal por outro, buscando sempre o equilíbrio através de sua famosa ‘via média’ e da inclusividade. A via média é aquela que, nas grandes controvérsias cristãs escolhe o caminho do meio, da visão equilibrada, evitando todos os extremos”, afirma Greggersen. “Não é ficar em cima do muro, mas aceitar o mistério das coisas e a posição de tensão dialética que caracteriza todos aqueles que são pressionados de dois lados opostos”.

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A Igreja Anglicana tem, dessa maneira, um sistema de doutrina aberto, que busca extrair o essencial dos credos comuns a todos os cristãos – justamente a proposta de Lewis em Cristianismo puro e simples. “Por isso é que muitos acreditam que o anglicanismo nem sequer tenha uma doutrina propriamente dita, mas apenas um ‘jeito de ser anglicano’”, diz Greggersen.

Entre cristãos de outras confissões, como calvinistas e católicos, não é raro puxar a brasa de Lewis para a sardinha de sua própria confissão, como se, lá no fundo, o escritor fosse um grande católico ou um profundo calvinista. “Para mim, isso tudo é bobagem e falta de entendimento de sua real postura equilibrada”, opina Greggersen. “Ao mesmo tempo, é uma prova de seu equilíbrio, pois, para o calvinista, ele era capaz de falar numa linguagem que parecia ser de calvinista, enquanto com o católico ele não era menos capaz de falar de igual para igual como um irmão”.

Greggersen elenca como outro motivo para a popularidade dos escritos cristãos de Lewis a sua profunda capacidade de empatia com o público. “Ele era capaz de se colocar no lugar do outro. Isso permitia que ele tivesse amizades com reverendos católicos e protestantes, freiras, pessoas de todas as vertentes do cristianismo e também com pessoas não cristãs”, relata a tradutora.

“Sua estratégia confessa de abordagem das pessoas era ‘encontrá-las no seu próprio terreno’ e não impor a elas condições prévias, o que é uma condição bem interessante para a comunicação e a quebra do gelo dos interlocutores mais fechados”, diz Greggersen.

 

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