Uma pessoa não consegue finalizar determinada tarefa, está com alguma dificuldade ou se sentindo sobrecarregado. No entanto, em vez de pedir auxílio, ela procura sozinha a solução para o problema e, na maioria dos casos, se estressa ainda mais. Por que isso acontece? De acordo com a psicóloga Andrea Lunardelli Valente, pedir ajuda expõe a vulnerabilidade da pessoa e isso faz com que alguns sintam vergonha ou medo de demonstrar impotência.
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“É como se o fato de precisar do outro naquele momento fosse o mesmo que assinar uma declaração de fracasso, ainda mais em uma sociedade que supervaloriza quem é absolutamente autônomo, independente e autossuficiente”, explica a especialista, ao afirmar que isso pode afetar homens e mulheres em diferentes fases da vida.
No caso do engenheiro mecânico Evando Cunha, por exemplo, a dificuldade o prejudicou no início da carreira, interferindo na conclusão de alguns projetos e na formação de amizades. “É que quando não pedimos ajuda, passamos a ideia de sermos arrogantes e egocêntricos, e isso afasta as pessoas”, conta o mineiro de 56 anos, que não gostava de pedir auxílio nem para procurar endereços. “Acho que inventaram o GPS para pessoas como eu”, brinca.
No entanto, ele garante que foi um momento desses em que se sentiu perdido que mudou sua maneira de agir. “Eu estava em uma viagem de trabalho em Zurique, na Suíça, já passava das 20 horas e não conseguia localizar meu hostel”, conta. “Na época a gente só tinha mapa de papel. Então, tive que superar esse bloqueio e me encher de coragem para pedir ajuda”, recorda o engenheiro, que solicitou informações a um morador da cidade usando seu conhecimento em inglês, recebeu mais de 50% da resposta em alemão e se esforçou, ao máximo, para entender. “Eu só sei que deu certo e achei o hostel com sucesso”.
A partir dessa experiência, que parece simples demais, mas que teve grande efeito na vida de Evando, ele afirma que não teve mais dificuldade para recorrer a outras pessoas em momentos de dificuldade, e viu como isso lhe trouxe benefícios. “Hoje peço ajuda, discuto projetos e falo das minhas intenções e desejos com colegas e com a família para acharmos a melhor saída”, garante, ao rir da experiência em Zurique. “Hoje parece algo tão banal, mas me causou muito estresse no passado”.
Por que isso acontece?
De acordo com a psicóloga Andrea Valente, esse bloqueio tem gerado tensão para muitas pessoas por diferentes razões. “Mas a principal delas é a baixa autoestima”. Segundo a especialista, grande parte desses indivíduos passaram por algum momento de grande fragilidade em que não receberam o apoio que precisavam, ou foram obrigadas a apresentar desempenho excepcional nas tarefas realizadas durante sua infância e juventude.
Por isso, sofrem com essa questão e podem precisar, inclusive, de ajuda profissional para perceber que possuem fragilidades, falhas e que a frustração faz parte da vida. “Então, se essa dificuldade interferir de forma negativa em suas relações ou em sua saúde física e mental, você pode buscar a psicoterapia”, sugere Andrea, afirmando que o primeiro passo para isso é reconhecer o próprio sofrimento e decidir mudar a situação.