Um dos fenômenos mais influentes na educação nas últimas duas décadas foi o da mentalidade de crescimento, ou growth mindset. Trata-se do conjunto de atitudes mentais que um aluno tem sobre suas várias capacidades, como a inteligência, e habilidades em áreas como matemática, personalidade e capacidade criativa.
Os defensores da mentalidade de crescimento pessoal acreditam que essas capacidades podem ser desenvolvidas ou aprimoradas por meio de aprendizado e esforço. A perspectiva alternativa é a da mentalidade fixa, que pressupõe que essas capacidades são permanentes e não podem ser alteradas.
A teoria da mentalidade de crescimento versus mentalidade fixa foi proposta pela primeira vez em 1998 pela psicóloga Carol Dweck e pela cirurgiã pediátrica Claudia Mueller. Elas lideraram uma pesquisa em que crianças da escola primária eram envolvidas em uma tarefa e depois elogiadas pelas capacidades demonstradas, como a inteligência ou pelo esforço que investiram na tarefa. Os pesquisadores monitoraram então como os alunos se sentiram, pensaram e se comportaram em tarefas subsequentes e mais difíceis.
Os alunos que foram elogiados por seu esforço tiveram maior probabilidade de persistir na busca de uma solução para a nova tarefa. Eles também eram mais propensos a buscar feedback sobre como melhorar. Já aqueles elogiados por sua inteligência eram menos propensos a persistir nas tarefas mais difíceis e a buscar feedback sobre o seu desempenho.
Essas descobertas levaram à inferência de que uma mentalidade fixa era menos propícia ao aprendizado do que uma mentalidade de crescimento pessoal. Essa noção tem muito apoio na ciência cognitiva e comportamental.
As evidências
Psicólogos pesquisam a noção de mentalidade – um conjunto de suposições ou métodos que as pessoas têm e como elas influenciam a motivação ou o comportamento – há mais de um século. A mentalidade de crescimento pessoal tem suas raízes na teoria da autoeficácia positiva, do psicólogo Alan Bandura, da Universidade de Stanford, na década de 1970. É a crença de uma pessoa em sua capacidade de ter sucesso em situações específicas ou de realizar uma tarefa.
A mentalidade de crescimento pessoal também retoma um estudo realizado nas décadas de 1980 e 1990 sobre orientação de conquista. Nessa concepção, as pessoas podem adotar uma orientação de domínio (com o objetivo de aprender mais) ou uma orientação de desempenho (com o objetivo de mostrar o que sabem) para alcançar um resultado.
A ideia da mentalidade de crescimento pessoal é consistente com as teorias da plasticidade cerebral (a capacidade do cérebro de se adaptar de acordo com a experiência) e da atividade cerebral positiva e negativa (redes cerebrais que são ativadas durante tarefas orientadas a objetivos).
A teoria da mentalidade de crescimento versus a mentalidade fixa também é apoiada por evidências – tanto por suas previsões de resultados quanto por seu impacto em intervenções. Estudos mostram que a mentalidade dos alunos influencia seus resultados em matemática e em ciências, seu desempenho acadêmico e sua capacidade de lidar com as provas.
As pessoas com mentalidade de crescimento pessoal são mais propensas a lidar bem com suas emoções, enquanto aquelas que não se consideram capazes de aprender e crescer têm mais chances de ter problemas psicológicos. Mas a teoria não recebeu apoio universal. Um estudo de 2016 mostrou que os resultados acadêmicos de estudantes universitários não estavam associados à mentalidade de crescimento. Esse resultado pode ser devido em parte à maneira como essa mentalidade é entendida.
As pessoas podem mostrar mentalidades diferentes em momentos diferentes – de crescimento ou fixa – em relação a um assunto ou tarefa específica. De acordo com Dweck, “todo mundo é na verdade uma mistura de mentalidades fixas e de crescimento, e essa mistura evolui continuamente com a experiência”.
Isso sugere que a distinção entre mentalidades fixas e de crescimento pessoal se dá em um continuum. Também aponta que a mentalidade que uma pessoa adota em determinado momento é dinâmica e depende do contexto.
A possibilidade de ensinar uma mentalidade de crescimento pessoal
A teoria foi avaliada em vários programas de ensino. Uma pesquisa de 2018 analisou uma série de estudos que exploraram se as intervenções que estimulavam a mentalidade de crescimento pessoal dos alunos impactavam seu desempenho acadêmico. De acordo com essa pesquisa, ensinar uma mentalidade de crescimento teve uma influência mínima nos resultados dos alunos – mas, em alguns casos, foi eficaz para estudantes de menor status socioeconômico ou em risco de reprovação.
Já segundo um estudo de 2017, ensinar uma mentalidade de crescimento pessoal não tem efeito nos resultados dos alunos. De fato, nessa pesquisa estudantes com uma mentalidade fixa apresentaram resultados mais altos. Dada a complexidade da compreensão humana e dos processos de aprendizagem, os resultados negativos não são surpreendentes. Dweck e seus colegas observaram que o contexto e a cultura de uma escola podem ter um papel fundamental em determinar se os ganhos obtidos com uma intervenção em favor de uma mentalidade de crescimento serão duradouros.
Estudos mostram que a mentalidade de professores e pais também influencia os resultados dos alunos. Em uma pesquisa, estudantes de ciências do ensino médio cujos professores tinham uma mentalidade de crescimento pessoal apresentaram resultados mais altos do que aqueles cujos professores tinham uma mentalidade fixa.
E um estudo de 2010 mostrou que as percepções de alunos primários sobre o seu potencial de melhoria estavam associadas ao que os professores pensavam da capacidade acadêmica das crianças. Em outro estudo, crianças cujos pais foram ensinados a ter uma mentalidade de crescimento sobre as habilidades de alfabetização de seus filhos, agindo de acordo com ela, tiveram melhores resultados.
Na prática
A teoria que envolve esses dois tipos de mentalidade parece fundir dois fenômenos separados, ambos os quais precisam ser considerados na educação: as capacidades reais de uma pessoa, como a inteligência, e como ela enxerga isso.
Os alunos devem estar cientes do que sabem em determinado momento e valorizar isso. Eles também precisam saber que isso pode ser insuficiente, que pode ser aprimorado e como fazer isso. Educadores e pais precisam garantir que o diálogo com os filhos não implique que a capacidade seja fixa. O foco da conversa deve estar em: o que você pode aprender a mais sobre isso hoje?
Quando ensino, nas escolas e na universidade, incentivo os alunos no final de uma disciplina a perceber o que sabem agora que não sabiam anteriormente. Peço que expliquem como seus conhecimentos mudaram e que identifiquem as perguntas que podem responder agora.
Nos estágios iniciais de uma disciplina, incentivo-os a inferir perguntas que eles imaginam poder responder após terem aprendido o conteúdo. Esses tipos de atividades incentivam os alunos a ver seus conhecimentos como dinâmicos e capazes de serem aprimorados.
*Professor de Psicologia da Educação na Universidade Católica da Austrália
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.