Carla Bastos Dias, especial para o Sempre Família
Uma vida inteira é pouco para compreender todas as preocupações, comportamentos e atitudes de uma mãe que ama seus filhos, especialmente no relacionamento com a filha. A psicóloga Mari Angela Calderari Oliveira, coordenadora adjunta do curso de Psicologia da PUCPR, explica que a relação entre mãe e filha é construída a partir das diferenças entre a expectativa materna e o teor dos vínculos que são estabelecidos entre elas. Ainda, as filhas têm em suas mães, durante a infância, o referencial para a construção de sua personalidade.
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Mas, segundo a especialista, quando a menina entra na adolescência ou na fase adulta, momento em que poderá ter um filho, ela tem a necessidade de quebrar essa lealdade da relação com a mãe, para construir a própria vida. Esse distanciamento é importante para que a mulher se fortaleça em seu próprio núcleo familiar, porém, não significa que as referências iniciais não estarão presentes na construção de seus novos papéis como esposa e mãe. Por isso, mesmo com a ruptura, ela voltará a se identificar com seus laços maternos. “A negação do referencial – eu vou fazer diferente, eu sofri quando minha mãe fez isso, então com meus filhos vai ser diferente – é essencial para que a mãe que vai nascer se desenvolva exatamente nessas contradições”, diz.
E quando essa filha engravida e tem seu bebê, ela pode se reaproximar de sua mãe, tomando-a novamente como um referencial. Isso acontece principalmente se aqueles vínculos formados na infância foram bem configurados. O distanciamento é natural, mas para Mari Angela, o fato de a filha enfrentar as dificuldades e as delícias da maternidade vai permitir que ela ressignifique muitas coisas vividas com essa mãe – tanto o que é bom, quanto o que sempre lhe pareceu ruim. “Isso faz parte da vida e do amadurecimento. E não é só a filha que muda, mas a mãe dela também, quando ela passa a olhar para a vida de forma diferente”, defende a especialista. “Eu, como avó, consegui pensar em vivências que tive com as minhas filhas e pude me reorganizar também. Depois que os netos vieram, a relação entre nós ficou muito mais leve, tranquila, de menos cobrança”, acrescenta.
Conselhos que passaram a ter todo sentido
Antes da maternidade, a médica veterinária Suelen Dal Pozzo de Souza, 26, achava sua mãe rígida, não entendia suas atitudes de proteção e ficava chateada com as regras impostas, especialmente na adolescência. Agora, depois do nascimento do seu filho Arthur Dal Pozzo da Silva, em janeiro deste ano, a visão é outra. “Passei a entender o porquê de todas as atitudes que ela sempre teve, passei a ver o mundo com olhos de mãe e ver o quanto sou parecida com ela em diversos sentidos”, conta. Mesmo sabendo que haveria mudanças, a veterinária não imaginou que tudo seria tão rápido e intenso.
Idina Dal Pozzo, 65, mora em Tubarão (SC) e veio para Curitiba auxiliar a filha nestes primeiros meses. A proximidade as uniu ainda mais. “Passamos a compartilhar todo o amor que sentimos por ele, a ouvir melhor uma a outra, melhorando o nosso diálogo e nossa relação interpessoal”, afirma Suelen. Os conselhos de mãe também passaram a ter mais valor, principalmente nos cuidados com o bebê. “Estar com alguém que já foi mãe e que te ensina como cuidar e o que fazer em cada momento é muito gratificante quando se está perdida. Além de constatar que tudo o que ela sempre falou fazia sentido”, finaliza.
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