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Fazer uma escolha não é tarefa fácil para quem se autocritica de forma exagerada. Isso porque, depois de tomada a decisão, inicia-se um processo doloroso de remoer os detalhes e as consequências daquela opção e, em geral, em tons bastante negativos.

E não é incomum que pessoas com essa característica acabem se isolando, ponderando demais antes de tomar qualquer decisão, deixando de se aventurar por novos caminhos por medo do fracasso, e até mesmo começar algo pensando que vai dar errado.

"Quando falamos de autocrítica excessiva, você é o seu próprio inimigo. Qualquer atitude que você vai tomar, passa horas pensando e repensando, sempre emitindo uma crítica. A autocrítica não deixa de ser uma qualidade importante, mas desde que seja aplicada de forma mais realística e equilibrada", explica Rose Benedetti, psicóloga do hospital São Vicente, de Curitiba.

Tanta ponderação pode levar ao desenvolvimento de doenças, segundo a especialista. "Você nunca está bem, nunca é o suficiente. Esse tipo de conduta, de se exigir demais e ser tão crítico, faz com que você nunca consiga interagir com as pessoas", diz a especialista. "Você fica em um processo de se sentir inferior e não tão capaz. E não é coisa só de adulto, porque crianças também podem apresentar esse tipo de comportamento na escola, por exemplo, principalmente com relação ao bullying", reforça.

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Reconheça e encontre soluções

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Embora possa ser paralisante quando levada ao extremo, a autocrítica é uma característica importante do ser humano e deve ser valorizada. Reconhecer as próprias ações, no contexto em que foram tomadas e em relação a outras pessoas que também participavam daquele momento, é fundamental para conhecer-se melhor e, futuramente, fazer escolhas mais conscientes.

"A preocupação que se sugere com a autocrítica é importante. É de que a pessoa reconheça a própria responsabilidade", aponta Luccas Cechetto, psicólogo e conselheiro efetivo do Conselho Regional de Psicologia (CRP-PR). "Os problemas que surgem a partir disso são: ou a autocrítica se torna uma autoflagelação, e você passa a se culpar o tempo todo, ou é apenas um reconhecimento e fim. Algo como 'eu já reconheci e pronto, não faço nada mais com isso'", completa o especialista ao explicar que ambos os comportamentos restringem a autocrítica apenas ao indivíduo, o que não é certo.

"Autocrítica não é se culpar, mas ver que há vários fatores envolvidos nas ações e reconhecer o nosso papel nisso. Observar quão frequentemente a pessoa coloca a culpa apenas nela mesma ou nos outros já é uma análise, porque ela se coloca em um papel em relação ao outro, e não apenas individual", comenta o psicólogo.

Ao pensar no que, de fato, a pessoa poderia ter feito em determinada situação, ela acaba criando outras dúvidas, principalmente porque a resposta mais comum nesse cenário é um "não sei". E isso talvez não seja algo ruim.

"A partir desse 'não sei', a pessoa pode buscar um aconselhamento ou uma terapia, que vai ensinar a investigar essas variáveis de maneira a não só colocar a culpa em nela, mas levar em consideração os outros atores e o contexto envolvido", diz Cechetto. "É preciso pensar que todo mundo tem responsabilidades, mas quão nítido é para aquele que se autocritica, que naquela hora de escolher, existiam fatores que o influenciaram?", completa.

Depois, pensar em propostas de mudanças, de reparação de danos onde eles estiverem ou puderem ser reparados. Caso contrário, fica apenas o reconhecimento dos erros sem uma ação.

Cuidado com os filhos

Se o adulto sofre com uma autocrítica exagerada, é bem provável que essa característica tenha sido construída na infância. De acordo com Rose, a forma como os pais se dirigem à criança, como eles reconhecem os erros e os acertos, influencia a percepção do filho sobre as próprias ações.

"Muitas vezes começa dentro de casa, pela forma como os pais se direcionam a essa criança e na relação entre a família, com um apontando os erros dos outros, menosprezando. É muito importante saber criticar quando a criança comete uma falha, mas também estimular", explica.

A psicóloga cita como exemplo um problema comum nas refeições: as crianças que são pegas comendo fora de hora um alimento que deve ser restrito. "O pai fala: 'você vai ficar gordo, horroroso', mas há outras maneiras de abordar, como 'você não vai ficar tão forte, esse alimento não é muito saudável'. Falando de uma forma melhor, e não de forma pejorativa, você ensina, e não critica", sugere.

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