Antes mesmo da pandemia de Covid-19, o Brasil já ocupava o primeiro lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas com quase 1,5 milhão de procedimentos realizados em 2019, de acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (Isaps).
No entanto, o maior tempo em casa associado ao uso das redes sociais e ao aumento na quantidade de reuniões online nos últimos dois anos aceleraram ainda mais essa busca pela aparência perfeita.
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“As pessoas passaram a observar mais suas características, tanto nas telas do computador quanto no espelho em casa”, afirma o cirurgião plástico Bruno Legnani, ao afirmar que as mudanças foram além do uso de filtros online que minimizam rugas, reduzem o nariz ou deixam lábios volumosos em fotos e vídeos.
Segundo ele, a busca pelo rosto ideal chegou às salas de cirurgia e fez com que a realização de procedimentos estéticos invasivos aumentasse cerca de 50%. “Isso porque as pessoas tiveram mais tempo para refletir sobre seu próprio bem-estar e também aproveitaram o home office para facilitar a recuperação pós-operatória”, explica.
Além disso, o tempo dedicado às redes sociais de artistas e influenciadores digitais fez com que muitos "fãs" decidissem ficar mais parecidos com esses famosos. “Uma paciente que atendi esses dias, por exemplo, queria se igualar a uma blogueira, mas tinha características físicas bem diferentes”, relata o médico, ao explicar que procedimentos estéticos só melhoram características que a pessoa já tem e, mesmo assim, trazem riscos.
Por isso, a orientação é procurar sempre um profissional certificado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e evitar qualquer procedimento desnecessário. Afinal, “se não for indicado e muito bem executado, a cirurgia pode piorar a estética do paciente e até trazer sequelas irreversíveis”, alerta.
No entanto, Bruno afirma que a maioria dos pacientes está disposta a seguir as indicações do médico especialista e quer apenas uma aparência mais jovem, minimizando rugas e linhas de expressão, como foi o caso da influencer digital Fabiana Cunha Muricy, de 40 anos.
Acostumada a gravar vídeos, tirar fotos e participar de reuniões com clientes, a jornalista viu a demanda de trabalho aumentar nos últimos dois anos e ficou preocupada com sua imagem diante das câmeras. “Acabei me olhando muito mais em selfies e ficava horrorosa!”, conta a mineira, que buscou inicialmente tratamentos menos invasivos para redução da flacidez do rosto. “Só que não deu certo”.
Então, na procura por algo mais rápido e definitivo, recebeu acompanhamento de um cirurgião plástico e decidiu operar rosto e região dos olhos no último mês de outubro. “Agora vou me incomodar de novo só quando tiver 60 anos”, brinca a moradora de Curitiba, que seguiu a determinação de repouso no período pós-operatório e está feliz com o resultado.
Mudanças no sorriso
Não foram apenas as cirurgias plásticas e outros procedimentos faciais que aumentaram durante a pandemia. De acordo com a dentista Jaqueline Soberano, muitos pacientes também começaram a buscar alternativas para melhorar o sorriso. “Inclusive, percebi grande aumento na minha área de ortodontia, porque muitos querem sorrir com os dentes alinhados diante das câmeras”, afirma.
Segundo ela, há grande procura por opções de aparelhos em cerâmica, porcelana e pelos novos alinhadores transparentes, que corrigem o sorriso sem a necessidade de braquetes ou fios. No entanto, para obter o resultado, o paciente precisa seguir as orientações do ortodontista e respeitar o tempo determinado para o tratamento.
Cuidado de dentro para fora
Independentemente das mudanças escolhidas para dar um “up” na aparência, o psicólogo Matheus Vieira alerta que é preciso gostar de si mesmo e se aceitar para alcançar a satisfação pessoal. “É preciso assumir quem somos com nossas características, qualidades e defeitos”, pontua o terapeuta, alertando que há grande diferença em buscar uma correção estética e querer a perfeição.
Além disso, ele afirma que é preciso autoconhecimento e valorização pessoal para separar opiniões positivas daquelas que simplesmente julgam e criticam, algo muito comum no mundo online. Isso porque, “sempre vai ter alguém que preferirá você de outro jeito, então deixe esse julgamento somente com você”, incentiva o psicólogo, ao orientar ainda a busca por um terapeuta para ajudar no processo.
E, se o problema for realmente a apresentação pessoal durante reuniões online, fotos ou gravações de vídeo, é possível melhorar o resultado final com dicas de maquiagem, alterações no ângulo da câmera e no local de filmagem. Afinal, “na maioria das vezes, somente mudar a iluminação e o posicionamento do celular ou do computador já ajudarão bastante”, finaliza o cirurgião plástico Bruno Legnani.