Todos nós passamos por dias de tristeza e cansaço que contaminam nossa animação e podem dificultar a superação dos problemas e circunstâncias que precisamos enfrentar.
Pode ser caracterizada pela falta de ânimo, empenho, entusiasmo, como se as coisas não possuíssem mais brilho, porém é um estado emocional passageiro. “A tristeza é um canal onde nós podemos colocar para fora e expressar a frustração, a solidão, culpa, cansaço, decepção e até dor extrema”, explica a psicóloga Silvana Calixto, especialista em terapia familiar.
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Por ser uma das emoções básicas e universais, como a alegria, o medo, o nojo e a raiva, é impossível não a sentir, salvo no acometimento de enfermidades mentais ou cognitivas, esclarece a psicóloga. Portanto, para minimizá-la ou afastá-la, podemos buscar algumas atitudes, importantes principalmente nesse período pandêmico.
“A pandemia tem trazido uma tristeza social, pois nunca tivemos tantos lutos, ainda que não na nossa família, mas nos vizinhos e noticiários. Então, fatalmente a tristeza tem permeado mais a nossa sociedade, acompanhando o nível de ansiedade que tem aumentado demasiadamente”, conta Silvana.
Assim Tomás de Aquino, santo católico, professor, teólogo e filósofo, apresenta cinco remédios contra a tristeza com eficácia surpreendente, confira:
1. Conceder-se algum prazer
A tristeza tira a cor e a perspectiva de coisas boas, de futuro, as pessoas perdem até o apetite, então conforme o momento de tristeza que a pessoa está passando não tem vontade de usufruir de nada prazeroso, conta a psicóloga.
No entanto, o prazer está para a tristeza, assim como o descanso para a fadiga. Assim, como o repouso do corpo é remédio contra a fadiga proveniente de qualquer causa não natural, assim o prazer é remédio para mitigar a tristeza, qualquer que ela seja, diz São Tomás de Aquino.
Portanto, todas as coisas (sejam pequenas ou grandes) que mudem a rotina e nos tragam prazer, como tomar um bom vinho, comer aquele chocolate ou o prato favorito, assistir a um filme ou brincar com o cachorro podem ajudar a afastar a tristeza.
2. Chorar
O segundo remédio é o choro, e embora possamos entendê-lo como o próprio efeito da tristeza, as lágrimas a aliviam, considerando que colocar para fora o sentimento através do pranto diminui internamente a tristeza.
Silvana confirma que o choro é um dos elementos mais saudáveis para trazer a catarse da tristeza interna, pois toda pessoa que sufoca a sua emoção tentando não a expressar acaba forçando o corpo a manifestar essa dor em outro elemento, em outra parte do corpo. “Então, às vezes, a pessoa desencadeia uma enxaqueca, uma gastrite, uma dor na coluna, uma tensão desnecessária porque ela não se permitiu chorar”, complementa.
Nesse sentido, o Papa Francisco em um encontro com Jovens em Manila, em 2015, questionou se cada um de nós aprendeu a chorar, pois “certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas.” O choro, portanto, é um grande aliado para ajudar a desfazer o nó da garganta e, por meio de sua linguagem, podemos nos expressar e não deixamos que a tristeza consuma nossas forças.
Silvana Calixto destaca a importância do choro principalmente no processo do luto: "Nossa sociedade tem retirado o direito ao luto. Então eu creio que nós temos que permitir que as pessoas chorem, manifestem a sua dor e a coloquem para fora, porque isso estabiliza a sua psique e até a bioquímica interna, o choro é muito saudável".
3. Amigos que se compadecem conosco
As amizades nos permitem entender que não estamos sozinhos, ajudando a pensar em coisas diferentes, contribuindo para que a emoção diminua um pouco, possibilitando a vazão para que possamos pensar em coisas novas, ou pelo menos lembrar de coisas boas que fez, segundo Silvana.
A amizade se manifesta tanto por nos alegrarmos com os alegres como por nos compadecermos dos que sofrem, acredita Tomás de Aquino e por isso ambas as coisas se tornam agradáveis. Além disso, a relação entre amigos impõe uma reciprocidade. Portanto, quando vemos nossos amigos tristes por causa da nossa tristeza, imaginamos que carregam conosco a nossa carga para nos aliviarem; e assim se torna mais leve o peso da tristeza, assim como se dá quando transportamos objetos pesados com outra pessoa, explica o filósofo.
Nesse tempo de pandemia, por exemplo, o luto com a perda de alguém importante traz muita tristeza. "Às vezes, sentar-se com os amigos e lembrar de momentos alegres que a pessoa que faleceu teve, como algumas falas ou momentos engraçados, tornam esse momento de dor, de luto e tristeza mais leve, trazendo realmente à memória coisas que dão esperança à pessoa", orienta Silvana.
4. Contemplação da verdade
O quarto remédio é contemplarmos o esplendor das coisas, na natureza, numa obra de arte, ouvir uma música ou deixar-se surpreender com uma bela paisagem, ir à praia e ouvir o mar ou ir ao campo e ouvir os pássaros. É viver os pequenos detalhes que acabam passando desapercebidos na correria do cotidiano.
Silvana lembra que, muitas vezes, estar em contato com a natureza e os animais, e contemplar as coisas belas são coisas que fazem com que algumas pessoas diminuam a intensidade da sua tristeza. Durante a pandemia, com o isolamento social, podemos buscar contemplar obras de arte, mesmo que virtualmente, um belo filme ou uma música agradável, como também uma caminhada pelo bairro desfrutando do céu e da paisagem.
5. Tomar um banho e dormir
Que nada é mais relaxante do que um bom banho e se deitar para descansar, nós já sabemos. Mas e se também nos ajudasse naqueles dias mais tristes? Seria perfeito!
Para aliviar um mal interior, muitas condutas exteriores podem ser adotadas. Assim, a boa disposição do corpo interfere diretamente nas emoções que sentimos, como um refazer-se da natureza. "Um banho calmo e relaxante, assim como o sono podem até ser utilizados como um sistema de fuga, porém, ainda assim, aliviam a tensão do momento", finaliza Silvana.
De onde vem essa dor e para onde vai?
Devemos lembrar que cada pessoa reage diferente aos eventos que ocorrem na sua vida. Assim, para que se supere a tristeza, deve-se avaliar o pensamento que está gerando essa emoção e mudá-lo para que as novas emoções tenham espaço para serem geradas dentro de si mesmo, orienta Silvana.
Ela alerta ainda que caso a tristeza se perpetue por muito tempo, incapacitando o desempenho de atividades normais e interferindo na qualidade de vida, deve-se buscar tratamento médico, pois pode caracterizar uma possível depressão.