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O empresário Gladimir Martins Bastos, de 50 anos, tem como hobby colecionar objetos antigos. Em meio a sua coleção, alguns itens têm um valor especial – são as relíquias da família que guarda com carinho. As abotoaduras, o véu e a gravata borboleta usada por seus falecidos pais no dia do casamento sobrevivem ao tempo graças aos seus cuidados.

Além disso, ferramentas que seu pai usava no trabalho e que já eram de outra geração da família, também fazem parte de seu acervo, assim como pertences de sua mãe e fotos antigas. Documentos contam a história da família, como as certidões que revelam o nome completo de seus bisavós. "Eu guardo para preservar, lembrar e manter viva as memórias. É uma forma de reviver os melhores momentos e sensações", confidencia.

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Muito além do valor material

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"Quem acredita que os objetos são apenas coisas?", questiona a psicóloga Janaína Meirelles de Deus Nakahara. Quando algo é envolvido em momentos de diversão, afeto, carinho, criatividade e muitas outras emoções se torna um símbolo da família, da união e dos vínculos afetivos.

Esta é a razão pela qual muitas pessoas tem o costume de guardar os símbolos que marcaram momentos, relações e sentimentos que não desejam esquecer. Para a especialista, "não é a coisa que carrega o afeto, mas ela é o instrumento que permite reviver aquele afeto".

A neuropsicóloga Cristiane Siqueira Miranda explica que do ponto de vista da neuropsicologia, à medida em que o cérebro amadurece, os pensamentos alcançam a capacidade de abstração. Entretanto, na infância os pensamentos são concretos. Por isso os brinquedos, livros e outros objetos são carregados de estímulos visuais e emoções. Guardá-los é uma maneira de relembrar e compartilhar as experiências vividas.

No contexto social, de acordo com Cristiane, as recordações servem para contar as origens, costumes e valores, o que acaba tonando as pessoas "mais seguras diante de uma sociedade que teme pelo desconhecido". As relíquias são tidas como uma forma de se manter vivo e de levar costumes para as próximas gerações por meio das tradições familiares.

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Poder sobre a memória

Janaína destaca que é "mágico" o poder que tem a memória afetiva de um símbolo e os sentimentos aflorados pela relíquia, como a sensação de reviver bons momentos e o resgate de emoções adormecidas. "As recordações afetivas, registradas pela memória e concretizadas pelos objetos nos permitem reviver, compartilhar e consolidar emoções importantes que marcaram a nossa história", afirma. "E elas podem fazer a diferença na história de quem amamos. É o que estreita os laços familiares, de amor e segurança".

As lembranças afetivas, localizadas em áreas que vão além do hipocampo (estrutura que sofre atrofia quando é acometida por patologias como a doença de Alzheimer), são tão importantes que podem ser usadas em processos de reabilitação de pacientes com dificuldades de memória, segundo Cristiane.

"O cérebro é composto por uma rede de estruturas interligadas que compartilham funções, dentre elas as percepções, memórias e emoções", explica. "As percepções, que são vivenciadas a princípio por meio do sistema sensorial, despertam as emoções e isso tem um peso fundamental no processo de armazenamento das memórias. Quanto mais carregadas de emoções forem essas vivências, maior é a rede neuronal envolvida na busca desta memória posteriormente e os objetos materializam estas experiências", esclarece.