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Uma amiga minha uma vez resmungou que, se ela pudesse escolher, preferia ver o ex infeliz do que ela mesma feliz. Poucas coisas na vida são tão traumáticas quanto levar um fora, especialmente ao fim de um relacionamento romântico que tenha durado muito. No entanto, muitas pessoas conseguem se recuperar e seguir em frente sem maiores sequelas.

Outros, como minha amiga, não têm tanta sorte. Mesmo anos depois, eles permanecem atolados na dor dessa experiência. Qualquer coisa que lembre o ex – seja uma menção casual em uma conversa ou uma foto no Facebook – pode provocar sentimentos profundos de tristeza, raiva e ressentimento.

Por que algumas pessoas continuam assombradas pelos fantasmas de seu passado romântico, lutando para deixar de lado a dor da rejeição? Em uma pesquisa, minha colega Carol Dweck e eu constatamos que levar um fora faz com que algumas pessoas redefinam a forma como veem si mesmas – e as suas perspectivas românticas para o futuro.

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Rejeição e identidade

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Em um estudo, pedimos que os participantes escrevessem sobre qualquer lição que tivessem tirado de uma rejeição romântica do seu passado. Analisando suas respostas, percebemos que para vários participantes a rejeição desmascarava uma verdade negativa básica sobre si mesmos – uma verdade que também sabotaria seus relacionamentos futuros. Alguns disseram que perceberam que eram muito “grudentos”. Outros se viam como tendo sido “muito sensíveis” ou “ruins em se comunicar”.

Outros estudos exploraram as consequências de acreditar que a rejeição havia revelado uma falha fundamental. Ao vincular a rejeição a algum aspecto de sua identidade nuclear, as pessoas passaram a pensar que seria mais difícil seguir em frente e deixar para trás a experiência negativa. Alguns disseram que “ergueram barreiras” e ficaram mais cautelosos com relação a novos relacionamentos. Outros tinham medo de contar sobre o término a um novo parceiro, receando que essa pessoa mudasse de opinião sobre eles (isso pode explicar por que algumas pessoas escondem rejeições passadas, tratando-as como uma cicatriz ou um estigma).

Nós então nos perguntamos: o que torna alguém mais propenso a vincular uma rejeição romântica a algum aspecto de “quem eles realmente são”? Afinal, outros entrevistados escreveram que levar um fora era apenas uma parte da vida, que era um elemento importante do seu crescimento e que realmente fez com que eles se tornassem pessoas melhores.

As nossas concepções sobre personalidade

Acontece que suas crenças sobre a personalidade podem desempenhar um papel importante na maneira como você responde a um fora. Pesquisas anteriores tinham descoberto que as pessoas têm opiniões divergentes sobre suas características pessoais, como a inteligência ou a timidez. Algumas pessoas têm uma “mentalidade fixista”, acreditando que essas qualidades são imutáveis. Por outro lado, aqueles que têm uma “mentalidade de crescimento” acreditam que sua personalidade é algo que pode evoluir e se desenvolver ao longo de suas vidas.

Essas crenças básicas moldam como as pessoas respondem ao fracasso. Por exemplo, quando as pessoas acreditam que a inteligência é fixa, elas se sentem piores consigo mesmas – e têm menos probabilidade de persistir – depois de sofrerem um revés. Assim, as crenças sobre a personalidade podem determinar se alguém vê um fora como uma evidência sobre quem realmente é – como um sinal de que é uma pessoa defeituosa e indesejável.

Em um estudo, dividimos as pessoas em dois grupos: aqueles que pensam que a personalidade é fixa e aqueles que pensam que a personalidade é maleável. Os participantes então leram uma entre duas histórias. Em uma delas, pedimos que se imaginassem sendo abandonados, do nada, por um parceiro com quem tinham um relacionamento de longa data. Na outra, pedimos a eles que imaginassem a seguinte situação: você encontrou alguém em uma festa, sentiu que rolou uma química e, depois, ouviu sem querer aquela pessoa dizendo a um amigo que nunca estaria romanticamente interessada em você.

Poderíamos esperar que apenas uma rejeição severa de um relacionamento sério tivesse o poder de fazer as pessoas questionarem quem são. Em vez disso, surgiu um padrão. Para pessoas com uma visão fixa da personalidade, descobrimos que mesmo levar um fora de um estranho poderia levá-las a questionar o que essa rejeição revelava sobre o seu eu. Essas pessoas se preocupariam com o fato de haver algo tão obviamente indesejável nelas que alguém pudesse rejeitá-las na lata – sem sequer as conhecer efetivamente.

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O que fazer?

Então, o que podemos fazer para impedir que as pessoas vinculem a experiência de levar um fora à sua identidade de uma maneira tão negativa? Uma evidência promissora mostra que mudar as crenças de alguém sobre a personalidade pode mudar sua reação às rejeições.

Em um estudo final, criamos artigos que descreviam a personalidade como algo que pode evoluir ao longo da vida, e não como algo predeterminado. Quando pedimos às pessoas com uma visão fixa da personalidade para ler esses artigos, elas se tornaram menos propensas a interpretar um fora como um sintoma de um defeito permanente e fatal.

Ao incentivar a crença de que a personalidade pode mudar e se desenvolver ao longo do tempo, poderemos ajudar as pessoas a exorcizar os fantasmas de seu passado romântico – e a seguir adiante, rumo a relacionamentos satisfatórios no futuro.

*Doutora em Psicologia pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.