Até pouco tempo, a pequena Isabela Ramos, de 5 anos, tinha um costume que deixava a mãe de cabelo em pé. “Toda vez que alguém ia beijá-la, ela virava o rosto. E pior: tinha vezes que fazia cara de nojo e limpava a bochecha na frente da pessoa. Nossa, eu morria de vergonha”, conta Aline Ramos. Uma boa conversa depois e a questão se resolveu entre elas. “Hoje, ela não faz mais isso. Eu expliquei que se ela não quiser beijo, é só falar”, diz a professora.
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“Muitas vezes o nojo é uma forma de a criança se defender”, ressalta a psicóloga Daphne Normann Melamed, do Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe, em Curitiba. Pelo que afirma, inclusive, a criança mostrar que não gosta de alguma coisa é, na verdade, um sinal de que a saúde mental dela anda bem. “Seria mais preocupante se não manifestasse o que sente”, garante.
Daphne também esclarece que evitar o contato físico por nojinho indica uma questão pontual – e não há nada de preocupante nisso. O problema, segundo ela, é quando o comportamento se estende a outros campos da vida. “O ponto de atenção tem que ser este: é algo específico (não gosta de beijo, de abraço, que um desconhecido pegue nela) ou a repulsa está se espalhando por outros setores, como alimentação e convívio com outras crianças? O que não pode é ter nojo de tudo”, enfatiza.
Sem toque
Já a educadora parental Bruna Lorencini reforça que existem outras formas de a criança ser educada com as visitas sem que, necessariamente, haja toque. “Ela pode sorrir, dizer um ‘oi’, acenar com a mão, dar tchauzinho. Até porque ela pode não se lembrar da pessoa ou não se sentir à vontade para abraçá-la ou beijá-la”, aponta.
E cabe aos pais entender e respeitar isso. “Chantagear o filho e forçá-lo a ir no colo de quem ele não queira é a pior opção, até porque pode abrir brecha para a ação de pessoas mal-intencionadas. A criança pode passar a achar que mesmo não gostando daquilo é algo que ela precisa suportar”, alerta.
Para Bruna, o mais indicado é sempre consultar a criança primeiro (“Filho, você quer dar um beijo na vovó?”, “Seu tio chegou. Quer receber ele com um abraço?”) e já deixar os adultos avisados de que o gesto pode, ou não, acontecer.
Outra recomendação da especialista é conversar com os filhos sobre a possibilidade de receber beijos e abraços antes mesmo de sair de casa. “Afinal, é melhor dizer logo de cara que a criança não gosta do que que ela limpe o rosto na frente da pessoa que a beijou”, considera.