A quarta-feira de cinzas marca o início da Quaresma, um período de 40 dias que vem antes da Páscoa no calendário cristão. É um tempo de oração, penitência e caridade, tripé que se baseia no ensinamento dado por Jesus no capítulo 6 do Evangelho de Mateus.
Observando a Quaresma, os cristãos rememoram o sacrifício de Jesus Cristo, que se recolheu no deserto, jejuando por 40 dias ao iniciar a sua vida pública e submetendo-se à tentação.
Por que 40?
O número 40 é muito significativo para a tradição judaico-cristã. O dilúvio narrado em Gênesis, quando Noé construiu a sua arca, aconteceu depois de 40 dias de chuva. Quando Moisés conduziu o povo hebreu para fora do Egito, tirando-os da escravidão, eles peregrinaram por 40 anos no deserto até alcançar a terra prometida por Deus. Antes de receber os dez mandamentos, o próprio Moisés jejuou por 40 dias.
As Igrejas do Oriente contam os 40 dias de forma diferente das do Ocidente. Estas excluem os domingos – por ser sempre celebrado como o dia da ressurreição de Jesus – enquanto aquelas os incluem. Por isso, a Quaresma começa em dias diferentes. Nas Igrejas do Oriente, ela começa na segunda-feira da 7ª semana antes da Páscoa e termina na sexta-feira, 9 dias antes da Páscoa.
Por que se fazem renúncias na Quaresma?
Poucos cristãos jejuam durante toda a Quaresma, como Jesus fez no deserto. A maioria dos fiéis das Igrejas que observam a Quaresma jejuam somente na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa.
A disciplina quaresmal da Igreja católica, por exemplo, prescreve o jejum para esses dois dias. Não é necessário abster-se totalmente de alimento: a Igreja recomenda nesses dias que se faça uma refeição completa e mais dois pequenos lanches que, juntos, não sejam equivalentes a uma refeição inteira. A isso, nesses dois dias, acrescenta-se a abstinência de carne de animais de sangue quente. Menores de 18 anos, idosos, doentes, gestantes e lactantes estão dispensados do jejum nesses dias.
Até mesmo algumas pessoas que não frequentam alguma Igreja optam por renunciar durante esse período a algum vício particular, como a sua comida favorita, o álcool ou o cigarro.
O jejum tem vários sentidos que se sobrepõem. Trata-se de fazer um sacrifício como forma de oração e de boa disposição diante de Deus; de uma prática de autodisciplina, que exercita a vontade para poder aplicá-la bem, vivendo uma liberdade mais plena; e de uma renúncia em favor do próximo, compartilhando com os necessitados tanto a condição de fome quanto a comida a que renunciamos.
O jejum em outras religiões
Todo ano, muitos do 1,6 bilhão de muçulmanos do mundo observam o Ramadã, o período de jejum, oração e esmola.
Os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé recebeu a parte final de uma série de revelações de Deus, que se tornaram o Corão, durante o nono mês do calendário islâmico, o mês do Ramadã. Os fiéis marcam esse mês, o mais sagrado do ano, com práticas de abnegação e purificação.
Os que observam o jejum se abstêm de qualquer comida ou bebida – bem como de cigarro e sexo – entre o nascer e o pôr-do-sol durante o mês.
Os judeus praticam o jejum durante o Dia do Perdão, o Yom Kippur. Do pôr-do-sol de um dia ao pôr-do-sol de outro dia, eles não comem nem bebem nada.