Das três maneiras que o nosso corpo tem de “processar” o estresse (positiva, tolerável e tóxica) a tóxica é, sem dúvida, a mais prejudicial. Na infância, ela pode surgir quando vivenciamos situações graves e duradouras sem o devido amparo – como abandono e abuso sexual. Já na fase adulta, costuma ser resultado de uma sobrecarga emocional e de questões mal resolvidas, capazes de dar origem à uma série de problemas de saúde.
“Eu considero estresse tóxico quando a carga negativa é tanta que o corpo começa a reagir”, diz a psicóloga e consultora motivacional, Meillyn Zaitter Lemos. Essa reação, pelo que avisa, tende a vir em forma de insônia, doenças de estômago, aumento de peso, baixa da imunidade, queda da libido e quadros de depressão.
Como “tratamento”, Meillyn costuma sugerir movimentos que troquem o estresse por ocupação. “Existem algumas técnicas terapêuticas capazes de motivar ações positivas diante da dificuldade. Tem gente, por exemplo, que vai conseguir controlar a ansiedade e o nervosismo arrumando uma gaveta em casa, mas isso depende de cada um”, esclarece.
Fisiologicamente, o estresse nada mais é do que uma resposta orgânica frente à uma situação extrema. Quando produzido, desencadeia mudanças químicas no organismo: o corpo e o cérebro geram adrenalina, liberam mais hormônios (como o cortisol) e aumentam a frequência cardíaca.
Em condições normais, esses efeitos – nocivos à saúde – vão embora assim que o "perigo" passa, o que não acontece no estresse tóxico. Especialistas acreditam, inclusive, que esse estado de alerta prolongado tem relação direta com o desenvolvimento de transtornos psicológicos e distúrbios de comportamento. Nos adultos, também pode resultar em propensão ao alcoolismo e ao uso de drogas, obstrução pulmonar crônica e problemas cardiovasculares.
Causas e consequências
Professora de Psicologia da Universidade Positivo, Kátia Biscouto, gosta de dividir as experiências estressantes entre boas e ruins. “Podemos considerar estresse desde a exposição a um episódio violento, como um assalto, até o que a noiva sente antes de entrar na igreja, o que muda é o contexto”, justifica.
Na análise dela, o principal gatilho que pode desencadear o estresse tóxico é quando a pessoa retroalimenta pensamentos ruins – dando atenção só a eles – ainda que a realidade se mostre positiva. “É aquele cara que vai ver tudo negativo sempre”, resume.
Para Kátia, a maneira de mudar essa questão é promover momentos de lazer e focar no autocuidado. “Isso significa praticar qualquer atividade que gere satisfação. Pode ser passar um creme no corpo, escovar os cabelos, passear com o cachorro, tirar aquele livro da gaveta ou retomar projetos que estão parados. São pequenas atitudes que mostram autocompaixão”, ressalta.
Estresse amigo
Depois de uma década “demonizando” o estresse junto aos seus pacientes (como ela mesma diz) a psicóloga norte-americana, Kelly McGonigal, passou a defender que a maneira como nós o encaramos é o que realmente importa. No vídeo “Como fazer do estresse seu amigo”, Kelly garante que as situações adversas só são ruins quando nós as processamos assim.
“Quando mudamos nossa opinião sobre o estresse, podemos mudar nossa reposta corporal diante dele”, aponta. Segundo ela, o melhor a se fazer é transformar o momento tenso em algo útil. “Aquele coração batendo forte está te preparando para uma ação. Se você está respirando mais depressa, não tem problema, está levando mais oxigênio ao seu cérebro”, discursa.
Na fala, a especialista em saúde também apresenta um desconhecido mecanismo para lidar com os efeitos do estresse: aproximar-se dos outros. “Quando você procura pelos outros sob estresse, seja para pedir ajuda ou para ajudar alguém, você libera mais oxitocina [um super hormônio capaz de ajustar os instintos sociais do cérebro] e sua resposta se torna mais saudável, você se recupera mais rápido”, explica. Uma recente pesquisa mostrou que a solidariedade ajudou a diminuir o sentimento de solidão na quarentena.