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Nunca é fácil lidar com o diagnóstico de alguma doença, quanto mais com o câncer. Mas é importante ter em mente que a doença não é sinônimo de despedidas – com o avanço da medicina e o aumento da conscientização em vista de diagnósticos adiantados, a letalidade dos diferentes tipos de câncer é cada vez mais baixa. Do contrário, dependendo da concepção que o paciente ou os familiares têm a respeito do câncer, lidar com o diagnóstico pode ser um processo semelhante ao do luto.

“Sabemos que o câncer ainda é bastante estigmatizado, sendo muito associado à possibilidade de morte. Se o paciente ou o familiar não tem maior entendimento a respeito disso, o diagnóstico pode ser muito impactante”, diz a psico-oncologista Iolanda de Assis Galvão, supervisora do Serviço de Psicologia Clínica do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba. “Além disso, se a pessoa já tem um repertório psíquico que tende ao pessimismo, ela pode receber o diagnóstico como uma sentença de morte”.

Quando a recepção da notícia acontece dentro desse quadro dramático, pode acontecer de o paciente e seus familiares passarem pelas cinco fases do luto descritas pela psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross nos anos 1960: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e, enfim, a aceitação. “Cada um pode voltar a experimentar essas reações alternadamente, pode não passar por todas as fases e nem todos chegam à aceitação”, explica a bioeticista Marcia Regina Chizini Chemin. “Muitas vezes a pessoa doente está em aceitação e as pessoas ao seu redor podem estar passando por fases diferentes”.

É claro que, mesmo quando o paciente e seus familiares não enxergam o câncer de forma tão estigmatizada, o diagnóstico ainda assim desassossega. “O diagnóstico sempre é impactante, mas também tem uma função bem importante, que é a de nomear os sintomas que o paciente vem tendo”, lembra Iolanda. “Muitas vezes, o período de angústia e de dúvidas em que o paciente não sabe o que tem acaba sendo mais sofrido do que o diagnóstico em si. O diagnóstico vem seguido de uma proposta de tratamento. Ele tira da condição de dúvida e dá um norte”.

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Rede de apoio

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Nessa hora, o apoio das pessoas que vivem ao redor do paciente é fundamental. “O diagnóstico promove uma alteração muito grande na rotina do paciente e da sua família, impactando nas relações familiares, afetivas e sociais. É uma mudança muito abrupta”, explica Iolanda. “Se o paciente tiver uma rede de apoio, todo o processo de internalizar essas alterações e elaborar todo o processo de doença e hospitalização fica bem mais tranquilo”.

E como colocar em prática esse apoio? Menos com ideias e mais com os ouvidos. “A melhor coisa é oferecer uma boa escuta ao paciente”, orienta a psico-oncologista. “Nem sempre o que você fala pode ajudá-lo, porque o seu referencial de vida é um e o dele é outro. Os conselhos muitas vezes não são tão efetivos, porque não comungam com a ideia de vida que o paciente tem. O melhor é se colocar à disposição, escutar o paciente, acolher o choro quando ele vier e evitar a ingerência”.

Evitar ingerência também significa não tomar decisões no lugar do paciente, como ressalta Marcia. “Muitas vezes a família se adona da pessoa doente e pede que não lhe contem a verdade sobre o encaminhamento da doença”, aponta a bioeticista. “A atitude de acolhimento é um bom caminho: significa ouvir as queixas da pessoa doente sem menosprezá-las e compreender que ela sofre, mas também entender que não é razoável tomar decisões por ela”.