Em muitos casos a mãe pode carregar alguns sentimentos desnecessariamente, como reflexo de uma autocobrança.| Foto: Bigstock
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Toda mãe, um dia, já se sentiu culpada por algo relacionado aos filhos. Às vezes por ter passado do ponto na bronca ou por ter sido negligente em determinada situação. Por ter feito coisas demais – e até de menos.

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Só que em muitos casos a mãe pode carregar esses sentimentos desnecessariamente, como reflexo de uma autocobrança que afeta e autoestima da mulher e pode interferir na relação dela com a família.

A psicóloga Tatiana Isleb acredita que é muito comum esse tipo de comportamento porque a sociedade ainda é muito machista e a cobrança em relação à mãe é excessiva. “A mãe precisa cuidar, educar, nutrir, proteger. Só a mãe. Como se não existisse mais ninguém na vida da criança”, destaca. Isso faz com que a própria mãe desenvolva uma autoexigência com parâmetros bastante altos e acabe esquecendo que a perfeição é impossível.

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Tudo é motivo

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A sensação de insuficiência é bastante recorrente, de acordo com a psicóloga, porque pode se manifestar diante de qualquer situação. “O gatilho pode ser qualquer coisa. Porque deu banho ou porque não deu. Se colocou na creche ou porque não colocou. Se voltou a trabalhar ou se ficou em casa, parto normal ou cesárea, amamentar ou não amamentar”, exemplifica Tatiana.

O problema é que essa culpa se perpetua porque, até inconscientemente, a criança também se sente culpada. Regimeri Pitu, psicóloga e mãe do Gustavo, de 12 anos, já reparou que a insegurança dela afeta o filho de várias formas. “Mesmo que ele não saiba nomear, ele sente que tem algo errado”, conta ela. A mania de querer controlar tudo não facilita a vida das mães que sentem dificuldade em ver os filhos crescerem.

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Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela brasileira Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva na Universidade da Pennsylvania, na Filadélfia, constatou que a saúde emocional das mães está ligada à relação que elas têm com filhos adolescentes.

“As mães que são mais duras consigo mesmas, mais autocríticas, são mulheres mais reativas, que assumem menos quando erram”, alerta. Isso torna o relacionamento em casa mais difícil.

Ninguém é perfeito

Ao mesmo tempo, Adriana conclui que as mães que têm mais compaixão pelos próprios atos têm filhos que falam mais abertamente, se sentem mais acolhidos.

A consequência é que a mulher se sente mais competente no papel de mãe. O principal, conforme defende a pesquisadora, é entender que perfeição não existe. E ela ainda vai além. Para Adriana, a culpa não é algo ruim porque demonstra preocupação com o outro e faz a pessoa pensar sobre novas formas de agir. O problema é o que ela chama de vergonha.

“Isso que a gente chama de culpa materna, na verdade é uma vergonha. Não é um sentimento de que fiz algo ruim pra alguém, é um sentimento de que eu sou ruim. O foco é o próprio ego”, elucida.

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Autocuidado materno

Tatiana reforça a ideia de que é preciso abrir mão do controle, até porque não tem como acertar e proteger sempre. Regimeri diz que hoje lida melhor com essa culpa porque faz terapia há anos e que separar a mãe da mulher é algo que funciona bem pra ela. A atitude é encorajada por Tatiana, que aponta a possibilidade de autocuidado como um passo importante na vida de qualquer mulher.

Boa notícia

A autocompaixão, descrita no estudo como algo diretamente relacionado ao sentimento de dever cumprido e competência pode perfeitamente ser desenvolvida. “Não é uma coisa que ou você tem ou você não tem”, argumenta Adriana.

Primeiramente é preciso ter uma visão realista sobre as próprias dificuldades. Depois entender que o erro é normal para todos os seres humanos e não indicam inferioridade. Ser mais solidário e menos crítico consigo mesmo é o último passo.

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