Você já deve ter ouvido falar da mitomania — condição em que a pessoa passa a mentir compulsivamente, falseando a própria realidade como forma de autoproteção e que constitui uma forma de adoecimento psíquico. Como se chega, porém, a esse ponto e como diferenciar o quadro de um problema moral ou de uma situação pontual?
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De acordo com a psicóloga Fabíola Luciano, a mitomania é um mecanismo usado para maquiar a própria imagem social e, por isso, está muito associada a quadros de baixa autoestima. Além disso, como a mentira não muda a realidade do indivíduo, a situação piora ainda mais a imagem que ele tem de si mesmo e dos outros, afetando seu cotidiano. “Isso desgasta relações, faz perder a credibilidade e a pessoa fica estigmatizada”, explica a psicóloga.
E aí está um critério para diferenciar a mitomania de outros modos de recorrer à inverdade. “A principal questão está na intencionalidade, pois a pessoa que tem dificuldades com a mentira compulsiva não faz isso para ter benefício próprio ou para lesar alguém", informa Fabíola. "Ela acaba se metendo em situações complexas para preservar outras pessoas ou proteger sua imagem”.
O problema é que, embora tenha consciência de que está mentindo, o sujeito passa a enfrentar a possibilidade dessa mentira como vício. Ou seja, "não se trata de algo psicótico e nem há ruptura com a realidade, mas a pessoa se empolga com a história que está contando e não consegue impedir que a mentira continue", explica a especialista, ao citar que, de maneira geral, o indivíduo não consegue mais manter suas interações sociais sem mentir.
Diante dessa realidade, é necessário auto-observação constante para verificar se está cruzando a linha em relação à mentira e se tornando dependente de inverdades para forjar uma imagem social positiva. "E os familiares também podem perceber que se trata de um comportamento recorrente", aponta Fabíola. "Assim, é possível buscar ajuda antes que o problema se agrave".
E as crianças?
No entanto, é preciso ter muito cuidado ao verificar o quadro nas crianças, pois é comum fantasiar durante a infância. "A criança ainda está estabelecendo o que é a realidade percebida e o que é a imaginação, e isso não é um problema”, explica a psicóloga. O que é preciso, então, é estar atento a como os pequenos lidam com a mentira e se o comportamento é recorrente, mesmo com a orientação dos pais.
Nesses casos, ainda é cedo para falar em mitomania, mas vale buscar orientação psicológica para entender se a criança está passando por algum problema mais amplo. “É um trabalho preventivo", informa Fabíola. "Depois, é preciso ver no longo prazo, saindo da infância para a adolescência e na fase adulta, como isso vai se perpetuar ou se dissolver”, finaliza.