É necessário que amigos e familiares auxiliem o indivíduo nesse momento, mas sem o objetivo de “tirar” a dor que ele está sentindo.| Foto: Bigstock
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Sem poder velar o corpo do avô no início deste mês devido aos protocolos relacionados à Covid-19, a curitibana Natalia Basso não teve oportunidade de se despedir ou de dividir sua dor com familiares e amigos em busca de conforto. “Foi muito difícil”, afirma a jovem de 22 anos. Afinal, “além de perder alguém que amo, eu não pude ser o amparo da minha mãe naquele momento”.

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Além disso, o fato de não participar do velório e sepultamento fez com que, quase 30 dias depois, ela ainda não acreditasse que o avô faleceu. “Acho que só vou entender quando eu visitar minha avó e visualizar que ele não está mais lá”, lamenta Natalia, ao afirmar que isso torna o processo de luto mais doloroso. “Não desejo isso para ninguém”.

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De acordo com a psicóloga Paula Leverone, a sensação de dúvida misturada com sentimentos de angústia, solidão, medo, saudade e tristeza em relação à perda tem se tornado comum durante a pandemia, pois o ser humano precisa dos rituais que envolvem a morte para entender o fim do ciclo vital.

“Fica difícil para o enlutado não dar a despedida ‘digna’ para o ente querido, não encontrar essa pessoa antes da morte e nem ver o corpo no enterro”, explica. “Parece que aquilo é mentira, que não aconteceu, pois não é possível concretizar o fato”.

O resultado, segundo ela, é um processo de luto ainda mais difícil e que precisa de uma rede de apoio eficaz para que ocorra de forma saudável. Por isso, é necessário que amigos e familiares auxiliem o indivíduo nesse momento, mas sem o objetivo de “tirar” a dor que ele está sentindo. Afinal, “o sofrimento faz parte do processo”, aponta a psicóloga.

Como ajudar?

Com isso, o ideal é se colocar à disposição do enlutado, perguntar o que pode fazer por ele e ficar atento aos detalhes da sua rotina. “Veja se a pessoa está se alimentando bem e se precisa de ajuda com serviços da casa ou com questões burocráticas”, orienta. “Mas sempre perguntando ‘o que’ e ‘como’ ela quer fazer para demonstrar amor, cuidado e respeito”.

Além disso, até quem está longe ou não tem realizado visitas devido à pandemia pode amenizar a dor do enlutado com demonstrações de carinho. “Você pode enviar uma comida gostosa, um bolo, uma carta, fazer uma chamada de vídeo ou reunir um grupo de oração online”, sugere a especialista. “E essas são apenas algumas das inúmeras possibilidades”.

No caso da Natália, algumas amigas enviaram doces para alegrá-la, enquanto o esposo tem dedicado tempo para estar com ela e distraí-la. “Ele me ajuda muito, cozinha coisas que eu gosto e começou a assistir uma série de humor leve comigo”, relata a curitibana, que também enviou flores para a avó e passou a conversar ainda mais com a mãe. “Como não moramos na mesma cidade, é a maneira de eu me manter presente”.

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Cuide de você!

E, claro, o autocuidado é tão importante como a rede de apoio nesse momento. Por isso, a psicóloga Mariana Bayer orienta os enlutados a expressarem seu luto, conversarem quando sentirem necessidade e escreverem a respeito do que aconteceu.

“Isso porque é através do relato da nossa história que organizamos a cronologia dos fatos, as emoções envolvidas e assimilamos a situação”, pontua a terapeuta, ao lembrar que isso é importante no primeiro momento e até meses após o ocorrido. “Portanto, devemos acolher e escutar, sem julgar quanto tempo já passou”.

Segundo ela, essas idas e vindas em relação à tristeza e à vontade de seguir em frente, cuidando de si mesmo e buscando novas metas são comuns e fazem parte do processo. No entanto, se o indivíduo focar em apenas um desses polos por muito tempo e com grande intensidade, é preciso atenção.

“Quando isso acontece, o luto pode trazer consequências ruins para a saúde mental, então é importante buscar ajuda psicológica especializada, caso sinta a necessidade”, alerta Mariana.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]