Em um artigo publicado no site “Psicologias do Brasil”, a psicóloga e mestre em Educação, Liduína Benigno Xavier, afirma que – entre os especialistas – é comum descrever o luto como uma “travessia” em que é preciso ir da dor da despedida à completa ressignificação dos efeitos que a acompanham. A professora também argumenta que para compreender esse caminho é imprescindível conhecer os aspectos envolvidos nas perdas, como já tratamos nesta matéria sobre a importância do funeral como um rito que não deve ser deixado de lado.
“O luto é elaborado [ou seja, superado] quando a dor deixa de ser tão aguda”, define Mariana Bayer, do Instituto Trilhar, de Curitiba. Só que, segundo ela, é impossível estipular um tempo para que isso aconteça. “Depende de uma série de coisas: da sua ligação com a pessoa que faleceu, da maneira como ela morreu, da idade que tinha e das circunstâncias da morte”, explica. Mariana reforça, ainda, que para que a elaboração da morte exista, é necessário que todas as etapas do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação) tenham sido vividas adequadamente.
No ensaio clássico “Luto e Melancolia”, Freud indica que quando você “voltar a amar”, é sinal que elaborou o luto – o que não tem a ver, necessariamente, com se casar novamente. “Pode ser uma senhora que, depois de perder o marido, se apaixona pelas atividades manuais e volta a estudar”, esclarece o professor Cloves Amorim, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Como forma de elaborar o luto, o Amorim cita as quatro etapas definidas por J. William Worden, uma das autoridades mundiais dentro da psicologia, quando o assunto é o luto: aceitar a realidade da perda; processar a dor da perda; ajustar-se ao mundo sem a pessoa que morreu (definir quem vai passar a cuidar do jardim, levar os cachorros para passear, etc) e reposicionar a presença daquela pessoa que faleceu. “Você precisa estabelecer uma conexão emocional com a pessoa, mas em meio ao início de uma nova vida. Luto elaborado é quando você é capaz de lembrar dela sem se desesperar”, ressalta.
Quando o luto atinge o corpo
Superar as perdas também é uma questão de saúde. Na literatura médica, a depressão “pós-morte” aparece associada à uma série de problemas físicos. Em “Quando o luto adoece o coração: o luto não-elaborado e infarto”, a psicóloga gaúcha e especialista em ciências da saúde, Patrícia Pereira Ruschel, traça uma linha entre a perda não superada e o adoecimento do coração:
“As doenças cardiovasculares, como a maioria das outras doenças, têm uma etiologia multifatorial. São considerados como fatores de risco: taxas elevadas de colesterol, hipertensão arterial, tabagismo, hereditariedade, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo e tensão psicológica ou estresse. Dentre os aspectos relacionados com situações estressantes, pode-se citar o luto”, considera.
No estudo que virou livro, ela também trata das consequências fisiológicas da vivência das perdas. “Pesquisas mostram que enlutados são mais propensos a apresentar problemas de saúde, dentre esses, o infarto agudo do miocárdio”, aponta.
Liduína Benigno Xavier defende que, para que a elaboração do luto faça sentido, os intercâmbios afetivos entre as famílias são essenciais. “Uma transição plena de afetos dos que se mantém unidos, confortando-se mutuamente, é pilar na ressignificação da perda. Eles ajudam a perceber que a presença dos que amamos é eterna e independe da existência física, além de favorecerem a incorporação saudável da memória de quem se foi”, publica.