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Pam Ramsden*, The Conversation

Imagine que seu parceiro alterou inesperadamente o status do Facebook de “em um relacionamento sério” para “solteiro” e depois recusa-se a se comunicar com você. Isso parece terrivelmente cruel, roubando-lhe completamente o seu direito de descobrir o por quê de aquilo ter acontecido para que possa se afastar e seguir em frente. Mas, na verdade, está se tornando tão comum que o Facebook conta  com ferramentas para ajudar as pessoas a gerenciar seus perfis no Facebook após uma separação e interagir com ex-parceiros.

Mas a necessidade de afastamento não se aplica apenas aos relacionamentos. A perda de um emprego, de status ou modo de vida são outros exemplos de finais dolorosos. Abrir mão de algo que antes era importante pode ser difícil e muitas pessoas buscam se afastar das outras nesse . Mas isso realmente ajuda?

Por que é tão difícil recomeçar? Saiba como encerrar ciclos e seguir em frente

A psicóloga social Arie Kruglanski cunhou a frase “necessidade de afastamento” na década de 1990, referindo-se a uma estruturação para a tomada de decisões que visa encontrar uma resposta sobre um determinado tópico que alivie a confusão que se forma em nossa cabeça em um momento de estresse ou mudanças.

Quando buscamos fechar um ciclo, procuramos respostas sobre o que causou aquela situação, a fim de resolver os sentimentos dolorosos que ela criou. Ao fazer isso, parecemos formar um quebra-cabeça mental do que aconteceu – examinando cada peça e sua relação com o quebra-cabeça geral. O encerramento definitivo é alcançado quando estamos satisfeitos com as respostas alcançadas e, portanto, é possível seguir em frente.

Além disso, quando as pessoas mais precisam se afastar, geralmente é porque o término do evento é significativo para elas, mantendo valor e significado específicos. Vamos dar um término de relacionamento como exemplo. Se você achar que a explicação é que seu parceiro está optando por encerrar o relacionamento e começar outro, poderá encontrar um fechamento imediato sem maiores explicações. No entanto, no mundo das redes sociais, onde as pessoas costumam ser “fantasmas” – onde alguém simplesmente desaparece do contato sem nenhuma explicação – os sentimentos são deixados sem solução.

Por fim, ter respostas sobre o que levou a aquele final pode nos ajudar a manter nossa identidade e aprender algo sobre nosso comportamento e dos outros. Esta é em parte a razão pela qual geralmente sentimos que somos melhores em escolher parceiros com a idade. Da mesma forma, boa parte dos idosos têm uma visão mais relaxada sobre a morte do que as mais jovens – muitas vezes perderam muitos entes queridos e tiveram que encontrar um meio de fazê-lo.

Diferenças individuais

A necessidade de colocar um ponto final existe em escala – com alguns mais propensos a procurá-lo do que outros. Algumas pessoas ainda desejam evitar o fim a todo custo. Isso pode acontecer porque elas não querem acabar se sentindo culpadas, rejeitadas ou criticadas por outras pessoas. A imprecisão tem suas vantagens: assim que você tiver estabelecido exatamente o que aconteceu, você também estará sujeito a críticas – suas e de outras pessoas.

Mas mesmo entre pessoas com uma necessidade semelhante de encerrar questões, o que pode ser uma resposta satisfatória para um não será suficiente para outro. Cada pessoa é diferente e a importância da conclusão de uma questão vai variar em função da situação, bem como das características e valores da personalidade. Quando estamos sob estresse, por exemplo, nossa necessidade de afastamento aumenta.

“Pessoas que se conformam mais rapidamente com um fim geralmente contam com um sistema de valores que pode facilmente validar sua visão de mundo”

Pesquisas indicam que certos tipos de personalidades são diferentes na maneira como abordam um fim. Um estudo descobriu que as pessoas que preferem ordem e previsibilidade lutam quando são incapazes de encontrar as respostas para ajudá-las a seguir em frente. Por outro lado, pessoas mais abertas e criativas são mais capazes de lidar com a não obtenção de uma resposta pelo fim.

Os psicólogos também descobriram que pessoas que se conformam mais rapidamente com um fim geralmente contam com um sistema de valores que pode facilmente validar sua visão de mundo. Uma ideologia religiosa, por exemplo, explica muitas perguntas como “vontade de Deus”, sem necessidade de mais explicações.

O que fazer?

Um bom ponto de partida é assumir a responsabilidade por suas próprias ações e interpretar as dos outros da melhor maneira possível. Se alguém não quiser falar com você, isso também diz algo. Você também deve aceitar que talvez nunca tenha a resposta perfeita. Mas, no entanto, você pode se dar um tempo para ficar triste, tentar descobrir o que aconteceu e finalmente aprender e seguir em frente.

Por fim, o fechamento é um processo cognitivo complicado e a chave é compreender que, às vezes as coisas dão errado e, embora não pareça justo e muito prejudicial, a vida continua.

* Professora de Psicologia na Universidade de Bradford

Tradução de Janaína Imthurm.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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