Problemas de saúde mental durante a gestação ou no ano que se segue ao parto afetam uma em cada cinco mulheres.| Foto: Bigstock
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Ter um bebê é uma fonte de grande felicidade, mas nem sempre. Muitas mães desenvolvem problemas em sua saúde mental, e isso pode ser uma experiência extremamente estressante e estigmatizante.

Às vezes, quando novas mães experimentam distúrbios mentais, acabam se sentindo culpadas, percebendo-se como um “fracasso” e desenvolvendo preocupações (geralmente infundadas) que podem até mesmo levar à perda da guarda da criança.

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Esses sentimentos podem estar relacionados à idealização da maternidade que muitas vezes circula na sociedade: a expectativa de que as mulheres, tornando-se mães, irão experimentar uma alegria ininterrupta e um sacrifício recompensador.

Mesmo sem suficientes pesquisas sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental materna, muitos aspectos desse cenário, como o isolamento social, a menor intensidade no contato com profissionais de saúde e a preocupação em não se infectar, podem ter tornado o último ano particularmente difícil para novas mães.

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Depressão perinatal

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Problemas de saúde mental durante a gestação ou no ano que se segue ao parto – que em conjunto são conhecidos como problemas mentais “perinatais” – afetam uma em cada cinco mulheres. De fato, problemas mentais que não envolvam sintomas de psicose estão entre as mais comuns complicações associadas à gestação e ao parto.

O problema mental mais frequente que mulheres no período perinatal experimentam é a depressão, muitas vezes acompanhada da ansiedade. Apesar dos lugares-comuns que circulam na sociedade a respeito da maternidade, a gestação não protege contra a depressão. Em algum momento ao longo da gravidez ou nos primeiros três meses após o parto, uma em cada dez mulheres experimenta a depressão.

Embora o termo “depressão pós-parto” tenha se tornado mais familiar ao longo dos últimos anos, cerca de um terço dos casos começa na gravidez. E das mulheres que experimentam a depressão na gestação, por volta de um terço desenvolveu a depressão antes de engravidar.

Não há uma causa única para a depressão perinatal. Ao que parece, muitos fatores desempenham algum papel, mas como isso acontece não é algo que a ciência compreende plenamente.

O fator de maior peso do ponto de vista psicológico é ter antecedentes em relação à depressão. Já os principais fatores sociais são a violência doméstica, o baixo status socioeconômico e eventos negativos de impacto ao longo da vida. Biologicamente, mulheres com predisposição genética, com doenças físicas crônicas e com mais filhos parece estar em maior risco.

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Além do estresse próprio da condição depressiva, a depressão persistente sem tratamento pode estar associada a complicações de longo prazo para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança, embora esses efeitos não sejam inevitáveis.

Apesar de raro, o suicídio é uma das principais causas de morte no ano que se segue ao parto, particularmente entre mulheres que experimentam problemas mentais.

Porém, é importante notar que a maior parte das evidências atuais é baseada em dados que não foram coletados através do acompanhamento contínuo de mulheres e crianças ao longo do tempo, e por isso inferir relações de causa e efeito é difícil. Os mecanismos de qualquer ligação entre a depressão perinatal e o desenvolvimento das crianças são muito pouco compreendidos pela ciência.

A ideia de que o comportamento da mulher possa ter um impacto negativo em seu filho tem sido sublinhada como uma faceta de uma cultura de culpabilização da mãe – os percursos envolvidos são, claro, muito mais complexos do que isso.

O que pode ser feito?

A depressão é uma condição tratável. O primeiro passo é reconhecer o problema. Isso pode ser difícil, principalmente por causa do estigma ainda associado a distúrbios mentais relacionados à gestação.

Dependendo do grau da depressão, do impacto na paciente e nas suas preferências em relação ao tratamento, há uma gama de opções de tratamento que podem ser adaptadas a cada pessoa. Nesse leque estão recursos guiados de autoajuda, sessões de terapia e uso de medicamentos, que deve ser tratado caso a caso e ter os riscos e benefícios cuidadosamente calculados.

Há também uma compreensão cada vez maior sobre o papel dos parceiros quando o assunto é a saúde mental da mãe, bem como um interesse maior pela saúde mental dos próprios parceiros. O desenvolvimento de depressão em pais nesse período é estimado em cerca de 8% a 10%.

Apesar desse número relativamente alto, os pais com frequência experimentam a estigmatização e a falta de acesso a ferramentas de apoio à saúde mental. Assim como acontece com as mães, pesquisas mostram que a depressão em pais, nos meses que se seguem ao parto, podem ter impacto nas interações com a criança e no seu desenvolvimento.

A ampliação do acesso a ferramentas de apoio e o envolvimento dos parceiros têm sido associados com a diminuição da depressão materna e com impactos positivos no desenvolvimento da criança. Isso aponta para uma compreensão cada vez mais aguçada da importância de uma abordagem que envolva toda a família como forma de superação de distúrbios mentais perinatais.

A depressão no período perinatal pode ser uma experiência comum para novas mães, e mesmo se isso muitas vezes passa batidos, os parceiros podem experimentar depressão nesse período também. Tratamentos baseados em evidência existem e facilitar o acesso a eles é fundamental para a saúde mental e o bem-estar de novos pais e família no longo prazo.

*Karyn Ayre é doutoranda do (Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde no King's College London
**Abigail Páscoa é pesquisadora sênior em Saúde Mental Feminina no King's College London

©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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