Logo no começo da pandemia o fotógrafo e empresário Claudio Nonaca, de Londrina, no Paraná, teve a mesma preocupação que a grande maioria dos empreendedores pelo país. Com as medidas de restrição impostas para conter a disseminação do novo coronavírus, muitos negócios tiveram que fechar as portas, temporariamente ou não. Assim, o empreendedor viu o faturamento da sua empresa de confecção de crachás e controles de acesso para empresas cair drasticamente desde meados de março.
O comerciante, com 21 anos de atuação no mesmo segmento, precisou então descruzar os braços e encontrar uma alternativa para manter as receitas e ao mesmo tempo o emprego dos cinco colaboradores da loja. “Com a pandemia caiu a renda de todos. Reuni o pessoal e disse que seria necessário dar um jeito para nos reinventarmos no meio dessa situação”, lembra.
Para a sorte de Nonaca, a solução estava mais próxima do que ele poderia imaginar. Com o sucesso dos negócios da irmã, proprietária de uma loja de artesanato, e que também iniciou a confecção de máscaras para venda durante os últimos meses e teve sucesso na empreitada, tendo uma comercialização bem acima do esperado.
De olho nesse mercado até então inexistente e bastante promissor, o fotógrafo passou a reparar na variedade de estampas impressas nos acessórios, que nesse momento já se tornavam itens obrigatórios no dia-a-dia da população. Inicialmente ele pensou em comercializar as proteções faciais com desenho de artistas, jogadores de futebol e até mesmo de políticos.
Mas, acostumado a registrar sorrisos ao longo das décadas de profissão, a ficha não demorou a cair. “Como trabalho com fotografia logo pensei em fazer máscaras personalizadas com o rosto das pessoas”. O primeiro teste realizado nas ruas de Londrina ao lado de um amigo da faculdade, que topou o desafio de caminhar com o sorriso literalmente estampado na cara, não poderia ter sido mais satisfatório, conta Nonaca.
Em um trajeto curto, da empresa até a prefeitura da cidade, o item logo chamou a atenção das pessoas que passavam pela dupla, que não escondiam a surpresa e as gargalhadas durante a caminhada. “O pessoal rolava no chão de tanto dar risada”, diverte-se. Vendo a repercussão bastante positiva da ideia inusitada, a produção foi colocada em prática e em pouco tempo as máscaras já estavam na linha de produção e passaram a fazer a alegria dos moradores locais.
Produção
A fabricação dos protetores faciais personalizados começou no início de julho, sem a necessidade de que novos investimentos tivessem de ser realizados na loja. Foram usadas as mesmas máquinas e a matéria prima que a empresa de Nonaca já utilizava anteriormente para a produção dos cordões sublimáticos, usados em crachás. Apenas a parte da costura precisou ser terceirizada para dar uma maior qualidade ao produto final. Até mesmo alguns materiais que estavam parados foram reaproveitados para dar mais qualidade na impressão das máscaras e os modelos foram sendo aperfeiçoados com o tempo.
No boca a boca a novidade foi ganhando clientes que cada vez mais se interessavam pelo produto e o fotógrafo passou a receber encomendas de vários cantos do estado e até mesmo em outras regiões do país. Além de Curitiba, já foram realizadas vendas para Jaraguá do Sul, São Paulo e também Rio de Janeiro.
Atualmente os pedidos são realizados sob demanda, exclusivamente pela internet. São vendidas cerca de 30 a 40 máscaras por dia, com o pico de produção chegando a 50 unidades, ao custo de R$ 20,65 a unidade. Elas são laváveis e produzidas com duplo tecido de poliéster e algodão. São três os tamanhos disponíveis: pequeno, médio e grande, disponíveis no site de Nonaca.
De acordo com Nonaca, muitas empresas têm procurado seu contato para oferecer as máscaras personalizadas como forma de brinde aos clientes ou até mesmo aos próprios funcionários, buscando dessa maneira deixar o ambiente profissional mais leve durante este período incerto pelo qual passamos. “Tem me ajudado muito bem”, comemora.
Olhar para o próximo
“Com a pandemia e essa nova cultura do uso da máscara você não vê mais o sorriso das pessoas”, lamenta o fotógrafo. A ideia nos lembra sobre a necessidade de se olhar mais para o próximo em tempos difíceis como esse. Isso também motivou Nonaca a abrir mão de qualquer tipo de exclusividade na produção da proteção e se colocar à disposição de outros empresários e interessados que demonstrem interesse em reproduzir a confecção em suas próprias regiões.
Inicialmente, amigos e clientes insistiram para que o empresário patenteasse a criação, mas o objetivo, segundo ele, sempre foi outro. “Jamais vou fazer isso. Eu quero que outras pessoas copiem a ideia. Se quiserem me ligar eu explico como faz. Como serviu para que eu pudesse aumentar a renda da minha empresa em uma situação difícil pode servir também para outras pessoas”, diz.
Sorriso na igreja
Um dos clientes recentes do fotógrafo foi o padre Romão Martins, da Paróquia São Vicente de Paulo, de Londrina, que adquiriu a máscara e chegou a utilizar a proteção em uma de suas lives, transmitidas diariamente pelas redes sociais. A veste chamou a atenção dos fieis, que prontamente aprovaram o acessório. “Todo mundo olha com bons olhos. A receptividade tem sido a melhor possível”, afirma.
Amigo do empresário há bastante tempo, Martins se diverte e garante que a relação comercial entre eles quase não existe e ficou apenas nessa transação. “Não dou muito lucro para ele (Nonaca). Dou é mais trabalho”, diverte-se. A motivação para aderir à moda do sorriso estampado no rosto, segundo o padre, aconteceu para tentar deixar o dia-a-dia de todos mais leve em meio a tantos acontecimentos que nos trazem insegurança.
“Eu acho que a máscara dá uma quebrada um pouco na rotina um tanto pesada e dura que estamos vivendo atualmente. Todo mundo que vê alguém usando aquela proteção com o rosto estampado já emite um sorriso, faz um comentário. Enfim, a pessoa não fica indiferente ao acessório”, diz. Se por um lado ninguém fica sorrindo por aí, por todos os cantos, com o uso da máscara isso se torna possível. Por meio dela você consegue transmitir por onde passa o sorriso que você normalmente não daria. Acaba sendo uma coisa divertida. "Aquela alegria que não conseguimos passar espontaneamente pelas ruas, disseminamos por meio dela”, finaliza o padre.