Caroline Ferreira da Silva recebeu o diagnóstico aos 14 anos e, mesmo sabendo que a chance de encontrar um doador de medula óssea era apenas 1 em 100 mil, nunca perdeu a esperança de realizar seus sonhos.
Caroline Ferreira da Silva recebeu o diagnóstico aos 14 anos e, mesmo sabendo que a chance de encontrar um doador de medula óssea era apenas 1 em 100 mil, nunca perdeu a esperança de realizar seus sonhos.| Foto: Arquivo pessoa/Caroline Silva

Quem vê Caroline Ferreira da Silva formada em Pedagogia, casada, atuando como professora, administrando uma empresa e cursando sua segunda faculdade não imagina que ela lutou na adolescência contra a leucemia linfóide aguda, uma das classificações mais graves de câncer no sangue e na medula óssea.

“Passei um ano e meio fazendo tratamento quimioterápico e enfrentei longos períodos de internamento, mas somente o transplante me daria a chance de sobreviver e realizar meus sonhos”, relata a curitibana de 26 anos, que recebeu a tão esperada medula de um cidadão israelense, em 2009. “Hoje olho para trás e vejo o tamanho da vitória”.

De acordo com sua mãe, Edina Regina Escudeiro da Silva, a filha nasceu saudável, era uma criança ativa e nunca se queixava de dores. “Até completar 14 anos”, conta a professora, que viu Caroline emagrecer quase 10 quilos em algumas semanas, sentir fraqueza, febre e apresentar dificuldade para movimentar tornozelos, quadris e maxilar. “Foram muitos exames, idas à emergência e diagnósticos equivocados”, relata. “E nunca vou esquecer o dia em que os médicos confirmaram a doença. Foi desesperador”.

Só que, ainda que ela soubesse o quanto seria difícil enfrentar a realidade, Edina decidiu ser forte e transmitir conforto à garota mesmo quando o quadro se agravava. “Lembro de sofrer junto com ela ao ver as feridas na boca, os vômitos, diarreia e, principalmente, quando o cabelo negro e comprido da minha filha começou a cair”, recorda a mãe, emocionada. “Ele era lindo. Mas foi preciso raspá-lo e aquilo foi muito, muito triste”.

Para piorar a situação, ninguém da família estava apto para realizar o transplante, e a chance de encontrar alguém compatível com Caroline no Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome) era mínima: aproximadamente uma em 100 mil. Por isso, “o que eu tinha era apenas a esperança de que encontraria, em algum momento, meu doador”, afirma a jovem que, depois de um ano e meio, recebeu a tão esperada ligação.

“Fui eu quem atendeu aquele telefonema quando ligaram contando que havia uma pessoa compatível comigo. Parecia que meu coração ia sair pela boca e todo o meu corpo tremia”, conta Caroline. “Aí, assim que desliguei, pulei de alegria, gritei e agradeci muito a Deus, pois tive certeza de que continuaria vivendo”.

Só que os dias seguintes não foram fáceis. Para receber o transplante, a adolescente teve que enfrentar uma intensa rotina de quimioterapia e radioterapia com três sessões diárias, o que a deixava ainda mais debilitada. “E faltando apenas uma semana para o procedimento acontecer, ele simplesmente foi adiado”, recorda a mãe, ao lembrar de como aquela notícia a abalou. “Entrei em choque, pois estávamos esperando o transplante há 18 meses e, depois de tantos exames e buscas por um doador, vimos a cura ir por água abaixo”. 

No entanto, a equipe médica descobriu que o israelense não havia comparecido aos últimos testes antes da doação devido a um imprevisto, mas continuava decidido a ajudar Caroline. Então, ele realizou a coleta necessária e, um mês depois – no dia 30 de outubro de 2010 –, a curitibana recebeu o esperado transplante. “Foi muito tranquilo, pois parece uma doação de sangue em que eu sou receptora”, explica a garota, que passou vários dias em isolamento para evitar infecções e aguardar a resposta do seu organismo.

Recuperação

Aos poucos, sua imunidade começou a aumentar, ela ganhou alta e passou a visitar diariamente o hospital para receber medicações e curativos. Segundo Caroline, a rotina era bem diferente da que tinha antes da leucemia, pois sua saúde estava muito frágil e não era permitido tomar sol, receber visitas ou andar sem máscara. “Mas, em um ano, minha vida começou a voltar ao normal e hoje comemoro o dia 30 de outubro como meu segundo aniversário. Afinal, nasci de novo”, garante.

Inclusive, uma de suas primeiras realizações foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no qual obteve nota suficiente para ingressar na faculdade de Pedagogia. “Também comecei a namorar, fiz estágios remunerados na minha área, noivei, tirei a carteira de motorista, casei e já compramos nosso apartamento”, relata a paranaense que, acima de todas essas conquistas, agradece por estar com as pessoas que ama.

“O mais importante para mim é almoçar em família, celebrar o dia dos pais e das mães, rir com os amigos e passar tardes conversando com meus avós”, garante a jovem, que incentiva outros pacientes com doenças graves a também não desistirem. “Você vai, sim, passar por momentos difíceis, mas tenha fé, tire fotos, faça vídeos e anote o que está acontecendo, porque um dia vai olhar para trás e ver o tamanho da sua vitória”.

Além disso, ela estimula todos entre 18 e 55 anos a se cadastrarem como doadores de medula óssea e manterem seus contatos atualizados no Redome, pois foi essa atitude que a salvou. “Não tenho como agradecer essa pessoa que nunca conheci, mas que se dispôs a doar um pouquinho de sua medula para me dar uma nova oportunidade", diz. "Por causa dela, tenho o privilégio de continuar vivendo”.

  • Além do casamento, a jovem também sonha em viajar bastante e ser mãe. Foto: Arquivo pessoal
  • Caroline recebeu o diagnóstico aos 14 anos e sofria com dores e inchaço pelo corpo. Foto: Arquivo pessoal
  • A jovem realizou o transplante de medula em outubro de 2010. Foto: Arquivo pessoal
  • Ela e a mãe Edina estiveram juntas durante todo o processo. Foto: Arquivo pessoal
  • Caroline realizou o sonho de se casar. Foto: Arquivo pessoal
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