As vítimas da Covid-19 englobam também aquelas pessoas que não são necessariamente infectadas, mas são afetadas diretamente pela situação de calamidade causada pela doença. É o que explica a psicóloga Carolina Franco de Oliveira Simeão, idealizadora de um projeto de acolhimento voluntário psicológico, com foco no atendimento focal e emergencial, ou seja, sem que seja apresentado um histórico anterior do paciente, diferente do que ocorre nos processos terapêuticos convencionais.
Segundo ela, muitas vezes a pessoa não apresenta os sintomas da Covid-19, está cumprindo o isolamento social de forma correta, dentro de casa, mas ao mesmo tempo está preocupada com outras questões pontuais, como a situação financeira, o bem-estar dos familiares e a própria segurança. “O fato de não saber quando o isolamento vai acabar, quando tudo volta ao normal, acaba gerando um sentimento de desesperança nas pessoas. Eu acredito que essa terapia a distância é um dos trabalhos mais importantes para que a gente mantenha a saúde global da população” diz.
Há casos de usuários que buscaram o serviço de Telemedicina, por exemplo, relatando sintomas de Covid-19, porém, na triagem, foi constatado que não são características típicas da doença. Essas pessoas foram encaminhadas para atendimento psicológico remoto, onde receberam a orientação necessária. O especialista então vai auxiliá-lo para entender que esses sintomas não são da Covid-19 e sim de sentimentos de medo e de ansiedade.
“O psicólogo, nesse atendimento, vai acalmar o paciente por meio de técnicas de manejo de ansiedade e de manejo de pensamentos de catastrofização, que se caracteriza por um comportamento bem típico de que as coisas só vão piorar”, diz. De acordo com Carolina, as pessoas acabam desenvolvendo sintomas daquilo que estão temendo. “Muitas pessoas acabam tendo crises de tosse e falta de ar que algumas vezes são desencadeadas pela ansiedade”, conclui. Daí a importância de se identificar esses comportamentos.
Esse trabalho remoto, inclusive, ajuda a controlar possíveis casos de Covid-19, uma vez que esse atendimento à distância auxilia na triagem. “O pânico faz com que a pessoa piore e apresente outras doenças. Infelizmente tem aumentado o número de pessoas internadas com crise de medo e ansiedade e que acabam sendo atendidas nas unidades de saúde”, diz a psicóloga. “Quando é possível fornecer esse manejo, esse controle da ansiedade para a pessoa, ela não precisa fazer esse atendimento presencial e emergencial”, finaliza.
Iniciativas para cuidar de quem precisa conversar
Em Curitiba, a prefeitura disponibilizou um serviço de apoio psicológico para enfrentar a ansiedade causada pela Covid-19. Batizado de “Telepaz”, o projeto conta com 12 psicólogos clínicos experientes, que normalmente atendem nos ambulatórios da Secretaria da Saúde e que agora estão com as atividades suspensas devido à pandemia.
O serviço é destinado para as pessoas que sintam a necessidade de conversar com um especialista por medo e ansiedade causados pela pandemia. É possível conseguir atendimento pelo telefone (41) 3350-8500, que á aberto para toda a população ou ainda pelo número (41) 3350-8200, restrito apenas para servidores da prefeitura. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas.
Atendimento para quem está na linha de frente
O Projeto Psicologia Solidária - COVID19 é formado por psicólogas e psicólogos de todo o Brasil e tem o intuito de atender solidariamente, em plantão psicológico online, os profissionais que trabalham nas unidades de saúde e estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus em hospitais e postos de saúde, independentemente da função que exerçam, como recepcionistas, trabalhadores da portaria, limpeza e segurança.
Além disso, o grupo também atende brasileiros que estão em outros países, em situação de isolamento devido a pandemia. Os atendimento acontecem por videochamadas via Skype ou WhatsApp e duram cerca de 50 minutos. Para agendar atendimento, basta enviar um e-mail para psicologiasolidaria.covid19@gmail.com ou preencher o formulário neste link.
Outra iniciativa que também pretende ajudar os profissionais que atuam na saúde e na segurança pública a se conectar com psicólogos e psicólogas por todo o país é a Rede de Apoio Psicológico. O grupo recebe o pedido de atendimento por parte dos interessados em realizar uma consulta online e faz a conexão com um especialista disposto a atender. Depois disso o solicitante recebe um WhatsApp com o contato do psicólogo para agendar o atendimento. Desde que entrou no ar, mais de 4 mil voluntários se inscreveram no projeto. O primeiro atendimento é realizado pelo site da Rede.
Acolhimento aos idosos
Já um grupo de oito terapeutas de São Paulo resolveu se reunir para oferecer atendimento voluntário para os idosos, principal grupo de risco do coronavírus. Os profissionais oferecem escuta e acolhimento por telefone e atendem pessoas com mais de 60 anos de domingo a sexta-feira pelo telefone (11) 3280-8537. Também é possível acompanhar o trabalho deles pelo Instagram.