Conforme a família cresce, os relacionamentos podem se desgastar, e preservar o vínculo familiar que os une se torna algo necessário.| Foto: Bigstock
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Os filhos crescem e, ao se tornarem adultos, mudam sua forma de enxergar o mundo. Muitos se relacionam com outras pessoas e aumentam a família com seus companheiros.

Os pais envelhecem, os netos chegam e novas formas de educação surgem a cada momento. Com tantas mudanças, os relacionamentos familiares podem se desgastar e preservar o vínculo que os une pode se tornar uma tarefa difícil, porém necessária.

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A família, segundo a psicóloga Gisseli de Amorim, pode ser concebida como um organismo vivo que está em constante crescimento, sofrendo inúmeras mudanças. Por isso, os membros que a compõe necessitam se adequar às diferentes fases da vida que cada um enfrenta em vez de tentarem organizar a estrutura familiar ao seu modo particular.

“Para um bom relacionamento, os membros da família devem observar e cuidar da forma que se relacionam, e não buscar alterar características individuais ou influenciar nos fenômenos intrapsíquicos de cada um”, explica a psicóloga, especialista em terapia familiar sistêmica e ética.

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Disfuncionalidade no relacionamento familiar

As causas mais comuns de quebra nos relacionamentos familiares estão ligadas à dificuldade de adaptação às novas fases da vida de cada membro, podendo causar desde conflitos e rupturas afetivas a até o adoecimento físico ou mental de membros da família.

O ciclo vital familiar vai do período da juventude, com a constituição oficial de um novo casal, à chegada dos filhos pequenos, englobando o percurso da adolescência, até a constituição de uma nova família, culminando no período tardio da vida – a velhice. 

A falta de adaptação em relação à mudança dessas etapas destaca-se, segundo Gisseli, quando os jovens adultos, ao formarem uma nova família, mantêm-se emocionalmente dependentes dos pais, quando casais deixam de investir na conjugalidade com a chegada dos filhos ou quando os pais projetam nos filhos as necessidades afetivas não supridas pelos próprios genitores.

Tais disfuncionalidades desencadeiam a ausência de afeto, atenção e amor no relacionamento conjugal, podendo se atrelar a fantasias, comportamentos infantis ou inseguranças generalizadas que causam dificuldades na comunicação ou no controle dos impulsos no relacionamento familiar.

Com o individualismo crescente, a busca pela comodidade e a fuga de frustrações, manter os relacionamentos familiares exige um esforço de cada indivíduo e implica em compromisso, negociações e investimento no próximo.

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Como prevenir o desgaste familiar?

Ao tentar evitar alguns conflitos familiares, muitos casais deixam de expressar suas diferenças, sacrificam sua própria identidade e acabam perdendo a intimidade e o afeto, transformando o relacionamento em um vínculo hostil, permeado de transtornos psicológicos.

Para prevenir o desgaste do relacionamento familiar, Gisseli orienta que os casais busquem preparar-se de antemão para as etapas do ciclo vital, evitando possíveis sintomas e disfunções na história da família. “O casal que começa uma família traz suas crenças e expectativas – muitas vezes não conscientes ou não acordadas por ambos. As diferenças minimizam o surgimento de futuros conflitos quando conseguem encontrar um equilíbrio entre a proximidade e o respeito”, diz a psicóloga.

Além de se preparar para o futuro, fazer as pazes com o passado, através da figura paterna e materna, com o estabelecimento de uma relação entre adultos, contribui para a manutenção do respeito na formação de uma nova família.

“É importante entender que a conjugalidade nos tempos de “ninho vazio” não é preparada quando os filhos saem, mas quando eles chegam. Portanto, as pessoas precisam perceber que o envelhecimento acontece desde que se nasce e que é necessário construir projetos de vida que vão além da conquista de riqueza ou da beleza do corpo”, acrescenta Gisseli.

Como recuperar um relacionamento familiar já desgastado?

Prevenir é melhor do que remediar, disso não temos dúvida. Porém, mesmo com relacionamentos familiares rompidos ou desgastados pelos conflitos e insatisfações, a qualquer tempo cada membro pode buscar reestabelecer o vínculo fragilizado.

Conforme o entendimento da psicóloga, para recuperar um relacionamento familiar é fundamental que sejam observadas as formas de comunicação (verbais e não verbais) e os mitos que mantém alguns comportamentos familiares.

Identificados tais pontos, é necessário buscar formas de resolver os conflitos que não transpareçam um duelo de forças ou de argumentos. Pelo contrário, que os familiares possam construir juntos um terceiro ponto de vista com base em suas perspectivas pessoais, que não são verdades absolutas.

Na fase adulta, os vínculos familiares precisam ser de igualdade e de respeito mútuo. O indivíduo adulto e gestor de uma nova família precisa ser capaz de refletir, pensar e responder de forma madura e independente. Portanto, a relação familiar deve ser a soma das individualidades, ou seja, uma terceira realidade que se compõe.

“O adulto que não se autonomiza dos pais, reedita a fusão com o cônjuge, e aí sobrevém a anulação da identidade novamente em função de uma identidade única e maciça familiar e o ciclo se repete, a distância emocional, a disfunção, os conflitos e a projeção dos problemas sobre os filhos”, destaca Gisseli.

Dessa forma, a relação familiar, extensa ou nuclear, deve ser marcada pelo afeto e não pela dependência ou codependência e o principal pacto deve referir-se à importância do cônjuge nessa nova estrutura, na qual se decidiu investir. “Em vez de caçar culpados, é importante usar o conflito como forma de aprender mais sobre como a família funciona. Essa compreensão e a consciência de que a ação de cada um repercute nos demais, capacita a família a superar os jogos inúteis e as repetições e a usar a razão – e não a emotividade – para resolver os problemas”, conclui a psicóloga.