Ainda que sejam muitos os diagnósticos de transtorno do espectro autista realizados na infância (TEA), e a grande maioria das intervenções se dê nesse período – o que é muito necessário – os desafios enfrentados pela pessoa com TEA são encontrados em todas as fases da sua vida.
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As dificuldades podem variar conforme o grau de funcionalidade e dependência do paciente, segundo o neurologista infantil Hélio Van Der Linden. “Desde obstáculos nas nuances da comunicação não verbal até dificuldades relacionadas a autonomia e independência de coisas básicas até complexas, como terminar os estudos”.
Porém, durante a adolescência, que por si é cheia de desafios, a dificuldade de interação pode aumentar a distância com os colegas e a sociedade, principalmente quando o jovem com TEA percebe diferenças no seu comportamento com os demais. É que por serem muito objetivos e práticos, os jovens com transtorno do espectro autista apresentam muita dificuldade na linguagem simbólica e na identificação das emoções.
Isso “pode levar a uma falha no traquejo social, com comportamentos que podem ser vistos pela sociedade como desrespeitosos ou ausentes de empatia, já que, por serem muito literais e levarem as palavras ao pé da letra, apresentam dificuldade na abstração de algumas situações”, explica Van Der Linden, que compõe o departamento científico de neurologia infantil da Academia Brasileira de Neurologia.
Por consequência, esse período exige da família a continuidade da busca pela autonomia e estímulo do paciente, através de profissionais qualificados, para que sejam desenvolvidas habilidades socialmente relevantes. Por isso, segundo o neurologista, “o treino de habilidades sociais, realizado em ambiente terapêutico, pode auxiliar a pessoa com TEA a aprender formas de identificar os comportamentos humanos, diminuindo o prejuízo na interação social”.
Se relacionam, pensam e sentem emoções
Além disso, com a chegada da puberdade, o psicólogo Hamilton Vedovato de Marque sugere que os adolescentes com transtorno de espectro autista sejam ensinados sobre a reprodução, métodos de proteção e limites, e mudanças corporais.
A descoberta do corpo, o desejo de estabelecer um vínculo afetivo, somada à instabilidade hormonal própria da adolescência, pode aumentar a irritabilidade e dificultar a que a sexualidade seja levada de maneira saudável e adequada. Assim, “o apoio familiar e acompanhamento terapêutico podem auxiliar no entendimento da percepção do outro, como dos limites, desejos e respeito, evitando, inclusive, quadros de ansiedade e depressão”, destaca o psicólogo.
Características específicas contribuem para o ingresso no mercado de trabalho
Superada a adolescência, de Marque orienta que o desenvolvimento das habilidades profissionais e interpessoais sigam ao longo da vida. “Através do estímulo dos cuidadores e incentivo às relações e autonomia da pessoa com TEA, é possível a escolha de carreira e o ingresso no mercado de trabalho”.
Ainda que as habilidades interpessoais sejam um desafio, dependendo da intensidade dos sintomas e do nível do espectro, algumas pessoas com TEA conseguem ter um nível atencional elevado e bastante preciso, o que contribui para atividades minuciosas. Outros, por possuírem um hiperfoco específico, têm domínio de temas diferentes dos que tradicionalmente são encontrados, como astronomia, por exemplo.
Por isso, a individualidade de cada um deve sempre ser levada em consideração pelo empregador, pois, ainda que de maneira geral executem o trabalho de maneira muito adequada, cada um tem características e dificuldades específicas. Além disso, há muito a ser realizado no que diz respeito à inclusão, já que, embora existam iniciativas e incentivos para o ingresso dos jovens e adultos com TEA no mercado de trabalho, o mundo corporativo não busca a formação necessária.
“É importante que a empresa esteja disposta a fazer algumas adaptações necessárias para o funcionário que tem algumas características peculiares, mas que pode ser extremamente produtivo, detalhista e metódico a ponto de fazer sua função de maneira perfeccionista” destaca Van Der Linden. Por isso, se estão dispostos a receber alguém com transtorno de espectro autista, precisam oferecer funções adequadas aos padrões de comportamento de cada indivíduo, conclui o neurologista.