A vida passa a ter um novo sentido com o nascimento de um filho, principalmente para a mulher. Elas descobrem o amor incondicional, a ponto de dar a própria vida pelo bebê que acabou de chegar. Entendem o que é ficar em estado de imersão, sem ver o tempo passar e se perdem dentro daqueles olhinhos brilhantes.
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Embora o se tornar mãe seja lindo e intenso, ao mesmo tempo também é solitário e difícil, acredita Denize Savi, especialista em ciência da felicidade. Afinal, segundo ela, só a mulher sabe o que é gerar, parir e maternar, inclusive o que é equilibrar os pratinhos entre maternidade e carreira profissional, entre maternidade e relacionamento.
Quem já não escutou a famosa expressão “quando nasce um bebê, nasce uma mãe”? E “quando nasce uma mãe, morre uma mulher sem filhos”? Pois é, essas são frases comuns de serem ditas e ouvidas, mas, infelizmente, não devem ser vistas como verdade absoluta, por conta da carga psicológica e mental que trazem.
“Para nascer uma mãe é preciso transformar uma mulher. E nesse processo de mudança, embora seja fundamental desapegar-se de quem foi no passado para dar espaço a uma nova fase da vida, jamais deverão ser suprimidas todas as vontades e individualidades da nova mãe”, destaca Denize, que tem MBA em Psicologia Positiva, Neurociência e Comportamento, além de coordenar a ONG Doe Sentimentos Positivos.
É importante, segundo ela, levar em consideração as variáveis na realidade da mulher, como o momento que ela está vivendo, o ambiente, as circunstâncias em que a gravidez aconteceu – se desejada ou não, as condições financeiras e até mesmo a rede de apoio. Afinal, tudo impactará na forma como ela irá encarar as mudanças trazidas pelo nascimento da criança, inclusive quanto às renúncias de algumas coisas para a chegada de outras.
E tais renúncias, presentes no processo de transformação, são as responsáveis por causarem impactos negativos e sentimentos de luto na mulher, que precisa perder algumas coisas para elaborar-se como mãe. “No início da maternidade, além do papel de esposa e filha, passa a se tornar uma figura central para o bebê, assumindo a figura de mãe”, explica a psicóloga Andreia Moessa Coelho.
E, ainda que temporariamente, existe uma série de perdas como o sono, o tempo e o próprio corpo, para que as demandas que um recém-nascido exige sejam atendidas. Elas precisam ser reconhecidas, para que se dê espaço às coisas boas que chegam, como o cheiro do bebê, as risadas e o próprio cotidiano, que mesmo corrido, é muito recompensador. “A vivência de um desejo, de um sonho realizado, de um cotidiano que pode ser gostoso só será vivido se não escondermos ou negarmos as perdas que precisam ser feitas”, acrescenta ela, que é especialista em psicanálise, perinatalidade e parentalidade.
Como enfrentar o processo de transformação?
É natural surgirem sentimentos ambivalentes de felicidade e angústia pelas mudanças, e cada mulher vivencia isso de formas diferentes. Por isso, encarar esse momento como um rito de passagem e se valer dos desafios para ganhar musculatura emocional, embora exija muita coragem e dedicação, torna a mulher resiliente, orienta Denize.
“É natural sentir medo, insegurança e aquela sensação de não saber o que fazer diante de tantas demandas. Mas é preciso confiar no processo e deixar aflorar a intuição materna que habita em cada mulher”, acrescenta a especialista em ciência da felicidade.
Para evitar a culpa que pode ser gerada na mulher que tem enfrentado esses sentimentos, Andreia indica que a nova mãe busque ter uma percepção da maternidade real, “que envolve uma série de coisas boas e deleites, mas também assume sentimentos humanos, como cansaço, exaustão e dificuldades”.
Isso porque, segundo ela, a culpa é uma ideia de que a pessoa deveria dar conta de tudo, como a melhor mulher, mãe, profissional, esposa e filha do mundo, exemplifica. Por não atingir esse ideal – já que é impossível para qualquer humano, a mulher vai se sentir culpada e quando consegue dar um basta na busca pela perfeição, assume que pode ser mãe, mulher, profissional e o que mais desejar, construindo o caminho no seu ritmo, complementa ela.
Assim, Andreia acredita que é possível viver essa transformação de uma forma positiva, desde que a mulher perceba e de alguma forma elabore aquilo que perde. Afinal, todas as emoções são importantes, e justamente as emoções negativas fortalecem e dão musculatura emocional para lidar com os desafios, acredita Denize. “Eu costumo dizer que felicidade não é a ausência de problema, mas a capacidade de lidar com eles. O caminho para isso é o autoconhecimento que traz consigo uma ferramenta absolutamente essencial na vida que é a Inteligência Emocional”.
E se o processo de transformação for muito custoso, ajuda é fundamental!
Toda situação difícil exige muito de cada um, principalmente que a pessoa acredite em si mesma e na capacidade de superar os desafios. “Mas na maioria das vezes é impossível passar pela dor sozinha, sendo necessária uma rede de apoio, pessoas próximas, principalmente familiares, que acolham, ofereçam suporte e ajudem, inclusive, encorajando a procurar terapia, se necessário for”, aconselha Denize.
A fala é um campo privilegiado, complementa Andreia. Ou seja, quando a mulher consegue verbalizar e conversar sobre o assunto, inclusive com humor, legitima a dor e consegue ressignificá-la. Afinal, segundo ela, a melhor forma de amenizar as dores e perdas para enfrentar o processo de transformação é poder falar e ser escutada,
Para isso, “é preciso que as pessoas que a rodeiem possam ouvi-la e acolham suas dores”. E quando se percebe que a mulher não consegue falar sobre o assunto, mesmo que o sofrimento seja grande, impedindo inclusive o autocuidado e o do bebê, é preciso que essas pessoas tenham um olhar de cuidado maior e protagonista. “Se uma mulher está em sofrimento, precisamos cuidar dela e entender o que tem ao seu entorno também”, conclui Andreia.
Denize alerta ainda que, embora seja normal todos sentirem tristeza em determinados momentos da vida, se o sentimento persistir, é preciso procurar ajuda profissional. “Diferente da tristeza pós-parto, a depressão pós-parto é uma condição mais intensa que pode se estender até dois anos após o nascimento da criança. É preciso ficar atenta a sintomas como negatividade excessiva, sentimentos autodepreciativos, falta de vontade de cuidar do bebê, falta de apetite e, em casos graves, pensamentos suicidas”, finaliza.