Xingamentos, deboches, montagens com fotos e desenhos ridicularizantes, assim como mensagens, postagens e e-mails hostis, com o objetivo de difamar, ameaçar e zombar da aparência, cultura ou sexualidade de uma pessoa, são cada vez mais comuns de serem encontrados nos ambientes virtuais.
Siga o Sempre Família no Instagram!
Esse comportamento, exemplificado por Rayhanne Zago, é o conhecido cyberbullying, e pode ser iniciativa de alguém em particular ou de um grupo de pessoas, seja conhecido ou não da vítima. Contudo, “não se restringe apenas entre agressores e vítimas, mas envolve testemunhas, apoiadores e incentivadores, espalhados por todo o mundo, em número exponencial”, alerta ela, que é terapeuta especialista em dependências tecnológicas.
Ocorrendo em redes sociais, fóruns de internet, chats, arenas de jogos virtuais, assim como em aplicativos de troca de mensagens, o cyberbullying, segundo Rayhanne, nada mais é do que a modalidade virtual do bullying que se utiliza das tecnologias para provocar a intimação e constrangimento dos envolvidos.
As vítimas, na sua grande maioria, são pessoas pertencentes a uma minoria, seja ela social, étnica, racial ou sexual e de gênero, destaca a psiquiatra Alessandra Diehl. “Na maior parte das vezes, sofrem aquelas pessoas que aparentemente se mostram mais ‘fracas’ na visão daquele que se vê superior às suas vulnerabilidades, independente do ambiente que se encontra”, completa a médica presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD).
Por isso, os adolescentes são um alvo fácil, já que as opiniões alheias os afetam de forma bastante intensa, especialmente com relação à autoestima e ao sentimento de pertencimento ao grupo, “porque ao mesmo tempo que estão se descobrindo e tentando se encaixar no mundo”, explica Rayhanne.
Falta de esperança leva ao suicídio
Contudo, os impactos são tão intensos que uma pesquisa realizada na Filadélfia, nos Estados Unidos, constatou que os adolescentes que são vítimas de cyberbullying são mais propensos a pensamentos e tentativas de suicídio. O estudo, segundo Alessandra, evidencia o comportamento de muitos adolescentes que buscam atendimento especializado, com “uma sensação de desespero, sem encontrar qualquer alternativa para o futuro”.
Um ato exposto na internet, se "viralizado", percorre o mundo em questão de horas e pode atrapalhar a vida da pessoa, inclusive profissionalmente anos mais tarde. Por isso, “gera nos adolescentes a sensação imensa de impotência, de que não consegue se defender e, por isso, acreditam que a única saída para solução é a tentativa de suicídio”, alerta a psiquiatra.
Isso se dá, no entendimento de Rayhanne, porque os adolescentes estão imersos na cultura cibernética, onde os atos apresentam características de persistência, publicidade e complexidade. "De persistência, porque eles se dão continuadamente, já que os conteúdos, uma vez lançados na internet, podem ser replicados vezes sem fim. E de publicidade, visto que ganha força em contextos públicos ou de coparticipação; e complexidade, pois atinge diferentes níveis de intensidade, sociabilidade e é de difícil detecção”, diz ela. Por isso, o indivíduo acredita que, ao tirar a própria vida, o transtorno acaba.
Assim, os pais precisam estar vigilantes no comportamento do jovem, principalmente se há alguma mudança abrupta, com isolamento, humor depressivo, choro fácil, alteração do sono e do apetite, pensamentos ou falas negativistas e desesperançosas, exemplifica a psiquiatra.
Verificados esses sinais, a família deve buscar, de forma emergencial, um psiquiatra habilitado a atender pessoas com pensamentos suicidas, principalmente especializados na infância e adolescência, e, com o médico, avaliar a necessidade da medicação e psicoterapia para auxiliar o jovem a entender e lidar com o que está acontecendo, acrescenta Alessandra.
Ensinar a se prevenir é papel fundamental da família
Infelizmente, não há meios de impedir a prática de cyberbullying, porém existem formas de preveni-lo, por meio da educação digital e do acompanhamento do uso da tecnologia pelos jovens, orienta Rayhanne.
Para isso, ela indica algumas simples atitudes que os pais podem empregar com os filhos para lhes ajudar:
- definir diretrizes de uso da tecnologia apropriadas para seus filhos;
- ensinar aos filhos a não exporem suas vidas nas redes sociais;
- ensinar a nunca enviarem fotos íntimas, contendo nudez parcial ou total, para outras pessoas, mesmo que confie nessa pessoa;
- informá-los sobre o que é cyberbullying e como reconhecê-lo;
- ensinar estratégias básicas para lidar com possíveis situações de cyberbullying, antes que elas se tornem mais sérios;
- criar um ambiente seguro e aberto, no qual os filhos se sintam confortáveis para se abrir e contar se forem alvo de cyberbullying, já que muitos não relatam aos pais por medo de perder privilégios com relação ao uso de tecnologia;
E, se os pais descobrirem que o filho está sendo alvo de cyberbullying, é importante oferecer tranquilidade e apoio, além de tomar medidas para resolver a situação com os agressores.
Para a terapeuta Rayhanne, é fundamental que a vítima saiba que não é culpada e receba apoio emocional dos familiares, educadores e amigos. “Muitos têm dificuldade para sinalizar que não estão bem e não conseguem fazer frente às agressões sofridas, por isso é tão importante o apoio, sem julgamentos, da escola, família e dos amigos”, acrescenta.
Além disso, em casa, as crianças e adolescentes devem ser ensinados não apenas a se protegerem, mas também a respeitar todos em seu círculo social, sendo conscientizados de que a crueldade e a humilhação não são atitudes toleráveis, conclui.