O consumo é inevitável e faz parte da vida de todos. Só que para algumas pessoas essa prática se torna um vício que pode ser comparado até a dependência química. Só que na maior parte dos casos o diagnóstico demora e só vem depois de problemas financeiros e dificuldades de relacionamento.
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Foi só depois de muita reflexão que Joaquim aceitou o problema. Mesmo com dívidas e a casa cheia de objetos que ele não utilizava, não conseguia perceber que se tratava de uma compulsão por comprar. “A minha maior alegria era alguém precisar de algum utensílio e eu ter em casa. Usar, não usava nada, mas amava quando podia emprestar alguma coisa”, revela o rapaz, que não quis revelar o nome completo.
Joaquim passou por atendimento com psiquiatra e hoje conseguiu retomar o controle da vida financeira e social. “Eu deixava de convidar as pessoas para virem na minha casa por medo de julgamento”, admite. As dívidas, com a ajuda de um amigo especialista em finanças, ele conseguiu zerar. Parece fácil sair dessa situação, mas a realidade não é bem essa.
Distúrbio
A psiquiatra Ana Camila Gomes Cabeço explica que 8% da população mundial sofre com essa espécie de distúrbio que é ser um comprador compulsivo. O problema é que não há uma classificação própria que identifique o que se chama de oniomania porque normalmente essa compulsão é atrelada a outras coisas como depressão, ansiedade e até transtorno obsessivo compulsivo.
“Não há critério de diagnóstico”, diz a médica, que revela, porém, ser possível identificar os sinais: “É uma preocupação excessiva pela perda de controle, aumento progressivo das compras ou tentativas frustradas de reduzi-las”. A psiquiatra também diz ser muito comum mentir para encobrir o descontrole.
É aí que a vida social da pessoa acaba afetada. Por medo do que os familiares e amigos dirão, as mentiras se tornam comuns e até um certo isolamento, segundo Ana Camila. A psicóloga Josy Martins, mestre em Psicologia e professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo ressalta, que em muitos casos os compradores compulsivos são, também, acumuladores.
“É uma quantidade de coisas que a pessoa acumula e não dá conta de usar. E além de ter as coisas, precisa de espaço. Porque em geral essa pessoa não doa o que tem”, alerta Josy. Essas características são menos perceptíveis, de acordo com a psicóloga, quando a condição econômica é melhor, mas não são poucos os casos em consultório de pacientes seriamente endividados.
A questão financeira não é o único problema porque muitas vezes o paciente precisa lidar também com a frustração e o arrependimento. “A gente vê bastante em consultório a pessoa dizer que foi comprar um sapato e comprou quatro. Só que a ela fica muito arrependida por não ter conseguido controlar o impulso”, conta a psiquiatra.
Tratamento
O tratamento, nos casos mais graves, é feito com medicamentos relacionados a comorbidades como transtornos de humor e ansiedade. Com a ressalva de que o transtorno bipolar, na fase de mania, também se caracteriza por gastos exagerados. Por isso o diagnóstico não é muito simples. Até porque a medicação é bem diferente para os dois casos.
A psicoterapia também é essencial na visão da psiquiatra. “A terapia cognitivo-comportamental ajuda a identificar os gatilhos e pode ajudar a reorganizar a questão financeira”, destaca. Josy orienta que o consumo deve ser consciente e que nos primeiros sinais de que a pessoa está agindo por impulso, que procure ajuda para não desencadear um transtorno.