Estamos imersos na tecnologia, seja a trabalho, seja no lazer. Somos bombardeados diariamente por notícias, fotos e vídeos que, algumas vezes, podem nos tirar a paz e trazer à tona inúmeros sentimentos e emoções indesejados, e ser até mesmo um gatilho de patologias, como depressão e ansiedade.
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Aquilo que é postado nem sempre reflete a realidade, desde mensagens e notícias, até mesmo fotos e vídeos retocados por filtros e programas de imagem, que podem levar a pessoa a crer que o padrão de corpo que o mundo aceita é só aquele apresentado pela maioria, alerta o psiquiatra Glauber Higa Kaio, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Para evitar tais incômodos, é importante buscar equilíbrio, a fim de preservar a saúde mental, importante cada vez mais no nosso dia a dia.
Sinais de alerta
Quando a rede social vira uma obsessão e é mais importante que várias outras atividades do cotidiano, deve ser ligado um sinal de alerta de que a saúde mental do indivíduo tem sido prejudicada pela imersão no mundo online. “Às vezes, a pessoa pode até admitir que faz uso exagerado das redes sociais, mas não consegue diminuir o tempo de uso, inclusive apresentando prejuízo no sono ou em outras atividades, como acadêmicas, trabalho, relações sociais”, alerta Higa Kaio.
E é preciso estar em alerta, reforça o psicólogo Marcel Cesar Julião Pereira, mestre em tecnologia e sociedade. Ele explica que é preciso buscar ajuda quando alguém se percebe com sinais de impulsividade nas tomadas de decisões e realização de suas atividades, em comportamentos excessivos e fixados, ao não conseguir largar o celular ou o computador, bem como apresentar mudanças de humor acentuadas, sem grandes explicações.
“Tendo percebido sinais de que algo não está legal com a saúde mental, é importante fazer uma análise de quanto se precisa estar online e o quanto o ultrapassa. Avaliar quanto tempo gostaria de dedicar para atividades presenciais e ver se está cumprindo essa meta. Se verificar um desequilíbrio é bom ver o que fazer para estabelecer o equilíbrio”, diz.
Patologia mental
Ainda é discutido o conceito de dependência virtual, eletrônica, digital. Mas Higa Kaio conta que, por meio de estudos que fazem uma associação entre o uso das redes sociais e prevalência de transtornos mentais, há indicativos de que o uso das redes pode ser um gatilho para o desenvolvimento de transtornos mentais.
Além disso, algumas pessoas são mais suscetíveis e vulneráveis do que outras e acabam exacerbando sintomas como tristeza, ansiedade, com piora na autoestima quando estão expostas às redes sociais. “Além da dependência das redes sociais – que não é um transtorno mental oficial pelos principais sistemas classificatórios de transtornos mentais – a própria depressão pode ser desencadeada, apresentando perda de interesse ou prazer em várias atividades que antes davam prazer à pessoa. Pode trazer também isolamento social, tristeza, falta de atenção e concentração, baixo rendimento escolar ou no trabalho e sentimento de inutilidade”, explica o psiquiatra.
Como proteger a saúde mental no mundo virtual?
Cada vez mais podemos afirmar que a distinção do mundo virtual para o real é muito tênue. O psicólogo Marcel Cesar Julião Pereira lembra que se em um dado momento tínhamos poucas coisas e muito especificas que fazíamos usando o computador e a internet, chamados de mundo virtual, hoje cada vez mais a tecnologia tem se tornado um meio de relações do próprio mundo real.
Portanto, a princípio, os cuidados para proteger a saúde mental no mundo virtual não se diferem muito dos cuidados que cada um deve ter na vida real. O especialista orienta que cada um busque um equilíbrio, estando atento para suas emoções, inclusive para saúde de forma geral, já que o adoecimento físico não é desconectado do adoecimento emocional e psíquico.
“De modo geral, diria que todas as boas práticas que tentamos manter na vida cotidiana para manter a saúde mental, temos que aplicar na internet, como uma boa gestão do tempo, um cuidado com a qualidade das relações estabelecidas, os exageros em geral são tanto indicativo de um desequilíbrio como uma porta aberta para estar desenvolvendo hábitos ou práticas que podem nos levar a um adoecimento”, diz.
Além disso, Higa Kaio indica que, para evitar o desgaste mental, cada um busque uma rotina de exercícios físicos, visto que tal prática diminui sintomas de ansiedade e depressão. Somados a isso, devem ser adotadas uma alimentação saudável, uma rotina de sono com horários fixos para dormir e acordar e a interação social de forma presencial, já que estamos tendo uma melhora gradual da pandemia.
Como usar as redes sociais evitando impactos negativos na vida offline
Além de buscar um uso funcional para o mundo digital, devemos cuidar para que sua utilização não impacte na vivência offline. Para isso, Higa Kaio apresenta algumas dicas:
- Observe o tempo que você fica nas redes sociais e, dependendo da quantidade, limite o uso. Geralmente as redes sociais têm em “configurações” algum item para você checar o tempo que você passa diariamente em sua rede social. Outra forma é estabelecer um lembrete para se desconectar, item que também pode ser encontrado em algumas redes sociais;
- Lembre que você pode tirar fotos, fazer vídeos, mas que o ideal é guardar seu celular e postar depois, não necessariamente naquela hora, para você ter uma maior experiência daquele momento. É a mesma coisa que comer assistindo televisão: a pessoa acaba não prestando atenção no que está comendo, e deixa de ter todo o prazer que aquele momento pode trazer;
- Desative as notificações;
- Não acesse as redes sociais antes de dormir (pelo menos uma ou duas horas antes).