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Quando ouvimos falar em violência entre um casal, pensamos em golpes, hematomas ou estupros, mas não são apenas esses tipos de comportamento de caráter físico ou sexual severo que caracterizam a maioria dos casos de maus-tratos em casais adolescentes, ao menos não no início do relacionamento. Em sua maioria, trata-se de comportamentos psicológicos mais sutis, como o controle do parceiro e tentativas de isolá-lo de sua família e de seus amigos, além de insultos e humilhações.

Lesões e homicídios são a ponta do iceberg quando se trata de violência entre o casal. Quando se chega a esse ponto, o mais provável é que previamente tenham aparecido comportamentos violentos psicológicos. É por isso que uma das chaves para combater atos mais atrozes é justamente a prevenção dos maus-tratos psicológicos.

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Isso nos leva a três conclusões:

  1. Na população geral de casais adolescentes, esse tipo de violência é a mais frequente.
  2. Somente uma parte dessa população que tem um relacionamento doentio chega a condutas mais graves e visibilizadas pela sociedade.
  3. A violência física não aparece de forma repentina sem que coexista com outras formas de agressão, especialmente de tipo psicológico.
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Estudos têm demonstrado que a violência psicológica entre casais de namorados adolescentes é um fator de risco chave para a aparição de comportamentos mais graves, como agredir fisicamente ou obrigar a manter relações sexuais.

O papel das redes sociais

Os adolescentes cresceram com as novas tecnologias – e é inútil tentar fazer com que eles não as usem. O desafio, então, é promover o seu bom uso e fazer com que eles reflitam sobre as consequências de certos comportamentos, tanto online quanto offline.

Não são as redes sociais que transformam as pessoas em controladoras ou assediadoras. Elas são apenas uma ferramenta fácil de usar para pessoas que já têm a necessidade de controlar o seu parceiro. Com isso, ela pode fiscalizar quando o parceiro está online no WhatsApp, controlar a publicação de fotos em redes sociais, acompanhar o que ele escreve nos comentários, etc.

E esse tipo de pessoa, controladora, costuma apresentar certo perfil: é ciumenta, muitas vezes impulsiva e desconfiada em relação aos outros e a seu parceiro. Além disso, tende a ter uma imagem negativa de si mesma, apresenta baixa autoestima e teme a possibilidade do abandono e da ruptura do relacionamento.

“Ele me controla porque gosta de mim”

O mais preocupante nesses comportamentos de controle não é a sua frequência e sim o modo como são percebidos. As condutas de controle podem ser normalizadas pelos adolescentes e percebidas como sinal de amor e paixão.

São habituais comentários como: “Ele me liga o tempo todo porque se preocupa muito comigo”; “ele é ciumento porque me ama muito”; “se ele não tiver ciúmes é porque não se importa”, etc.

A normalização chega a tal ponto que reações explosivas e até mesmo agressivas motivadas por ciúme não são motivo de término, já que são vistas como reflexo da paixão que precisa existir entre o casal. Assim, crenças sobre o amor romântico também se convertem em um fator de risco, já que associam positivamente a necessidade de coexistência entre a paixão, o ciúme e o conflito.

É importante sublinhar que essas condutas e crenças tóxicas na adolescência se verificam tanto em meninos quanto em meninas.

Os meios de comunicação como modelo

A tudo isso se acrescenta o fato de que os adolescentes absorvem certos modelos de relacionamento que veem nos meios de comunicação e os tomam como referências a seguir. Os adolescentes são o público-alvo de alguns programas baseados na toxicidade e no conflito. Eles respiram esses modelos e mensagens todos os dias, na maioria das vezes sem um adulto como referência ou alguma iniciativa educacional que questione esses modelos doentios.

Os adolescentes assumem, portanto, esses relacionamentos como formas “normais” e até “ideais” de como se relacionar – justamente em um momento da vida tão crítico quanto à criação de esquemas de relacionamentos românticos. Esses esquemas moldam o que sentimos quando nos apaixonamos e a nossa capacidade de diferenciar um relacionamento saudável de um tóxico.

É importante que os adultos e a sociedade em geral deixem claro que os adolescentes entram nesse período da vida com uma tendência incontrolável de exploração, em pleno despertar do desejo sexual, e são ainda imaturos e emocionalmente instáveis. E eles embarcam nesse caminho sem orientação, canalização e educação suficientes para enfrentar e lidar com tantas situações em que se encontrarão neste complexo “campo de treinamento”.

Portanto, estamos diante de uma população de grande vulnerabilidade devido às características que o próprio período evolutivo do adolescente implica. A boa notícia é que as neurociências nos mostram que a adolescência também é caracterizada como um período evolutivo de grandes aprendizados e oportunidades de mudança devido à sua grande neuroplasticidade no campo socioemocional e nas relações interpessoais.

Prevenção

Tudo isso aponta para a necessidade de prevenção desde o início da adolescência (ou mesmo antes), com o objetivo de educar na promoção de um bom tratamento e de relacionamentos saudáveis em casal. Nessa missão, será importante dotar os adolescentes das habilidades socioemocionais necessárias para enfrentar situações novas e complexas pelas quais eles provavelmente passarão.

É fundamental, por isso, trabalhar na conscientização e na regulação emocional, promover a empatia e o respeito pelos outros, incentivar comportamentos de apoio em relação a seus pares, fazê-los refletir sobre as consequências de certos comportamentos e atitudes (físicos ou virtuais), além de ajudá-los a canalizar adequadamente a raiva, o tédio, a tristeza, a euforia e a frustração que elas experimentarão nessa montanha-russa que é a adolescência.

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*Doutora em Psicologia pela Universidade do País Basco.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol.