É cada vez mais comum ver idosos morando sozinhos, administrando suas finanças e demonstrando total autonomia nas atividades que realizam. No entanto, situações adversas que prejudiquem a saúde física e emocional podem alterar essa realidade e exigir que filhos e netos cuidem desses homens e mulheres tão acostumados com sua independência.
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A partir desse momento, a rotina de todos é alterada, o orçamento da casa passa por adaptações e a família precisa de muito respeito e diálogo para evitar conflitos. “E mesmo assim não é fácil”, relata a cozinheira *Daiane Cruz.
Moradora de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, ela viu o pai de 68 anos sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no final de 2019 e apresentar confusão mental e dificuldades de locomoção depois disso. “Precisaríamos contratar alguém para cuidar dele o tempo todo, mas não tínhamos dinheiro suficiente”, conta a paranaense, que levou o pai para sua casa durante um ano e dois meses. “Foi um período cansativo, mas sei que foi a melhor decisão”.
Segundo ela, seu marido a apoiou durante todo o processo, ajudou no cuidado com o sogro e, desde o início, controlou os gastos da família. “Economizamos bastante, então conseguimos manter a casa com nossos salários e usávamos o valor da aposentadoria do meu pai para medicamentos e outras despesas com ele”, conta. “Além disso, fizemos uma pequena reserva para emergências, pois a saúde dele era bem delicada”.
Ainda de acordo com *Daiane, o idoso não participava desse controle financeiro, não perguntava da sua aposentadoria e nem realizava compras devido às limitações de saúde causadas pelo derrame. “Ele só fazia alguns pedidos de vez em quando, e a gente tentava atender”, recorda a cozinheira, citando que o pai gostava de comer broa, geladinho e sorvete.
Jogo aberto
Só que casos como esse costumam ser exceções, já que, de acordo com a psicóloga Mara Julci Kamaroski Baran, “quem não sofre com doenças neurodegenerativas ou que afetem a consciência continua tendo condições de administrar diversas situações na sua vida”.
Por isso, ainda que o indivíduo precise se mudar para a residência de um filho por diferentes motivos, ele ainda pode ter autonomia em relação às suas despesas e colaborar de forma consciente com as finanças da casa. “E o segredo para isso? Diálogo, muito diálogo”, orienta a especialista, ao citar que manter a independência dos pais protege a saúde emocional deles, já que ainda se sentirão capazes de gerir sua vida.
Então, é importante que os filhos conversem abertamente com eles a respeito da situação financeira da família, mostrem os valores gastos, apresentem sugestões de como cada um pode contribuir e decidam juntos o que será feito. “Principalmente porque, com o passar do tempo, os pais podem não saber mais como estão os valores das coisas, então uma planilha vai ajudar”, sugere a psicóloga.
E ela ressalta também que não adianta apenas falar nesse momento, mas ouvir a opinião desse idoso a respeito do controle financeiro. Assim, ele terá a oportunidade de decidir se quer que os filhos administrem totalmente suas finanças, se deseja ter um valor em dinheiro na sua carteira todo mês ou se gostaria de ir ao mercado de vez em quando para escolher alguns itens e sair de casa.
“Isso porque, em muitos casos, o idoso não tem oportunidade de falar nada e acaba aceitando tudo por medo de parecer ingrato ou de ser abandonado”, lamenta Mara, ao pedir que os filhos tenham o respeito e o carinho como prioridade no relacionamento. “Afinal, precisamos ordenar bem os valores e entender que o principal agora é cuidar de quem tanto nos cuidou”.