Basta a vovó apresentar dificuldade para lembrar onde colocou o pote de sal e seus filhos já a proíbem de cozinhar. Além disso, ao menor sinal de tremores nas mãos do vovô ou de demora para abotoar a camisa, alguém logo se aproxima para segurar o objeto em seu lugar e fechar aquele botão. Ainda que essas ações demonstrem que a família está preocupada com o bem estar do idoso, elas podem gerar efeito contrário, tirando a independência dele e até fazendo com que perca o gosto pela vida. “A pessoa acaba não se sentindo mais relevante”, aponta a geriatra Amanda Valim Kampa Cassab.
E a mesma sensação acontece quando os conselhos dos avós são deixados de lado por estarem “desatualizados” ou quando suas histórias não são ouvidas com atenção porque já foram contadas antes. “A maior parte desses idosos esperou a vida inteira para chegar nessa idade e receber respeito, e situações assim são frustrantes”, afirma a médica, que atende diversos pacientes com depressão, insônia e falta de apetite devido ao descaso de familiares.
Por isso, ela afirma que a melhor maneira de oferecer qualidade de vida ao idoso é dando carinho e “liberdade” a ele. “Se a pessoa ainda tem capacidade de tomar decisões, deve ser atendida quanto ao que deseja para ela mesma, sua casa, dinheiro e seus pertences”, orienta. Isso vale, inclusive, para quem prefere escolher o próprio médico e quer realizar – ou não – algum procedimento de saúde. “É necessário respeitar essa autonomia”.
“Se a pessoa ainda tem capacidade de tomar decisões, deve ser atendida quanto ao que deseja para ela mesma, sua casa, dinheiro e seus pertences”.
Já no caso de indivíduos com comprometimento cognitivo, a família pode adaptar o ambiente em que esse idoso vive para que ele ainda consiga realizar atividades simples do dia a dia – como se vestir e se alimentar. Além disso, em situações de tratamento para Alzheimer, parentes e amigos devem estar presentes na vida do paciente para frear o processo da doença. “Enquanto as pessoas que conviveram com ele durante boa parte da vida estiverem por perto, suas memórias continuarão vivas”, afirma a especialista. “Isso dará uma sensação de individualidade e pertencimento, além de melhorar a saúde física”, pontua Amanda, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), na seção estadual do Paraná.
Só que não adianta simplesmente estar próximo dos avós. De acordo com a médica, todos os parentes devem agir para melhorar a qualidade de vida dos dois, mostrando que são amados e que seus filhos e netos se preocupam com o bem-estar deles, na medida certa. As sete dicas abaixo podem ajudar nessa tarefa e facilitar o dia a dia familiar.
1. Adapte o ambiente
A casa do idoso precisa ser segura. Por isso, é importante garantir que não há obstáculos nos corredores, evitar pisos lisos ou escorregadios e tirar dos cômodos aqueles tapetes que podem fazer seus avôs tropeçarem. “Quedas na terceira idade são extremamente graves e geram uma cascata de problemas. Então, é preciso muito cuidado”, pontua Amanda. Caso a residência também apresente escadas, pode ser necessário convencer o morador a se mudar. “Mas é preciso, claro, respeitar a decisão da pessoa”.
2. Faça com que seja fácil se comunicarem
No caso do idoso que mora sozinho, é importante que os telefones estejam sempre em locais acessíveis para que ele peça ajuda em uma situação de emergência e atenda com facilidade às ligações que receber. Além disso, a família deve ter contato frequente com a pessoa para garantir que está tudo bem. “Essa também é uma forma de manter o ambiente seguro”, afirma a geriatra.
3. Evite fazer as tarefas no lugar dele
Ao perceber que seu avô ou avó está com dificuldade para desempenhar alguma tarefa, não faça a atividade por eles, mas os incentive a continuar tentando. Isso preservará a capacidade de autocuidado e fará com que tenham mais qualidade de vida ao sentirem que são úteis e capazes.
“Idosos desidratam com mais facilidade e têm menos percepção de sede, então é necessário lembrá-los de tomar água, ter uma garrafinha sempre à vista e aproveitar o horário dos medicamentos para isso”.
4. Fique atento aos cuidados com a saúde
Na terceira idade também é importante praticar exercícios físicos, ir regularmente ao médico e ter uma alimentação balanceada. “Só que é comum vermos a pessoa idosa optando por receitas com baixo valor nutricional para facilitar seu dia a dia. Então, a família precisa vigiar”, aconselha a médica, que orienta redução de açúcar e gordura na dieta e aumento no consumo de água e sucos naturais. “Idosos desidratam com mais facilidade e têm menos percepção de sede, então é necessário lembrá-los de tomar água, ter uma garrafinha sempre à vista e aproveitar o horário dos medicamentos para isso”.
5. Leve seus avós para passear
Visitar amigos, ir a um parque, à igreja ou participar de atividades esportivas e sociais são excelentes para manter o idoso ativo. Por isso, é importante incentivá-lo a sair de casa com regularidade. “Assim ele vai se mexer, se divertir, respirar novos ares e ver outras pessoas”, comenta a geriatra. No entanto, é necessário garantir que a pessoa está confortável, bem alimentada, hidratada e que gosta da companhia. “Aí qualquer atividade fora de casa será bem-vinda e melhorará sua memória, saúde física, humor e sono”.
6. Conte com uma equipe multidisciplinar
Profissionais especializados no estudo do envelhecimento também ajudam o idoso a ter mais qualidade de vida. Então, vale a pena escolher um médico geriatra para acompanhar seus avós, e ainda contar com o apoio de um fisioterapeuta, nutricionista, enfermeiro e – em casos específicos – de um psicólogo. Além disso, quando a família não conseguir dedicar tempo suficiente à pessoa idosa, é possível contratar um cuidador especializado para isso ou escolher uma casa de repouso que ofereça atenção 24 horas. A decisão de interná-lo pode ser difícil no começo, mas trará muitos benefícios aos avós, como já mostramos aqui no Sempre Família.
7. O valorize
E, claro, a melhor maneira de alegrar o idoso é demonstrando muito amor. Por isso, valorize as atitudes dele, se esforce para respeitar suas decisões, e ouça as histórias e conselhos que ele der. Além de beneficiar a saúde mental na terceira idade e demonstrar carinho, ainda será possível tirar boas lições para sua vida.
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