Birra e crises de choro são alguns dos sinais de que o ciúme deixou de ser algo natural da criança,| Foto: Bigstock
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Quem nunca teve ciúmes uma vez na vida, que atire a primeira pedra. Assim como a tristeza e a alegria, o ciúme é um sentimento natural e qualquer ser humano irá senti-lo em algum momento da vida.

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O ciúme, em um viés saudável e não disfuncional, é uma manifestação de cuidado e de apego, que deixa livre a entrada de outras pessoas nos vínculos que se formam na infância e na vida adulta.

Todos tendem a se vincular de forma mais intensa com quem tem mais abertura e proximidade, de forma afetuosa, segundo Simone Steilein Nosima, especialista em terapia cognitivo comportamental. Assim também é com as crianças, que criam vínculos com as pessoas que lhes passam segurança, leveza e tranquilidade, de acordo com as percepções do dia a dia.

Quando a criança elege alguém de confiança, não é inconsciente. Ela reconhece um cuidador, vinculando-o como uma figura que lhe passa segurança, ainda que não tenha uma diferenciação intrapsíquica, ou seja, não saiba separar sentimentos de pensamentos.

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Ciúme infantil

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Nas crianças, a psicóloga Simone conta que o ciúme surge à medida que ela toma consciência das suas relações com os membros da família.

Por meio do ciúme a criança manifesta a dificuldade de lidar com um triângulo na relação, pois está apegada a uma relação dual, ou seja, ela e alguém que representa sua segurança.

Dos bebês até o primeiro ano de idade, os ciúmes aparecem numa busca de segurança, pelo instinto de sobrevivência, como uma tentativa de a criança se manter perto de quem reconhece como figura protetora, explica Maria Silvia Todeschi de Sousa, psicóloga de Família e Casais.

“O ciúme na primeira infância é uma manifestação de apego e segurança, podendo ser em relação ao pai, mãe ou qualquer outra figura que seja responsável pelos cuidados primários da criança”, exemplifica a psicóloga.

Na medida em que a criança cresce, ela desenvolve a diferenciação interpessoal, ou seja, consegue se distinguir dos outros, compreendendo que não é uma extensão da mãe. E, adquirindo graus de autonomia, com o tempo torna-se estável para introduzir na sua vida os triângulos relacionais.

Quando o ciúme deixa de ser saudável?

Impactos na rotina da família, na forma de vinculação da criança com um dos pais ou com outros membros da família, dificuldades de socialização, dificuldades de lidar com as emoções, crises de choro e birra. Esses são alguns dos sinais de que o ciúme deixou de ser algo natural da criança, trazendo prejuízos para seu desenvolvimento e relacionamento com os outros, alerta Simone.

“O ciúme deixa de ser saudável a partir do momento que a criança começa a ter uma ansiedade muito grande de separação, quando, apesar de ter condições cognitivas e saber que não vai perder o amor e a proteção da figura de referência, ela não consegue dar conta da entrada de outras pessoas ou do distanciamento da figura de segurança”, explica Maria Silvia.

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Como lidar com os ciúmes das crianças por um de seus responsáveis?

Quando uma criança manifesta ciúme por um dos seus responsáveis, o primeiro passo é buscar reconhecer a fase de desenvolvimento no qual a criança se encontra, alerta Maria Silva. “Se muito pequena, o ciúme corresponde a uma ansiedade na separação da figura que representa a sobrevivência para criança”, completa ela.

Se aos três anos, aproximadamente, a criança ainda apresentar dificuldades, é importante que seja ensinada e motivada a sentir-se segura com a chegada de outras pessoas, a fim de evitar o estresse.

“A criança precisa ser ensinada, através de brincadeiras e conversas, sempre com aconchego, de que não vai perder amor e segurança com a chegada de outras pessoas e relações afetivas que sejam introduzidas naquele universo”, ensina Maria Silva.

Quando a criança adota um comportamento ciumento com um dos responsáveis, é importante que eles observem a forma como se relacionam com a criança, pois impacta diretamente na forma como ela os responderá, por estar aprendendo a lidar com suas emoções.

“Quando falamos de crianças e famílias é importante saber que, quando os pais se sentem inseguros, de alguma maneira, vale buscar ajuda e orientação”, alerta Simone.

A intervenção, na grande maioria das vezes, é mais simples e rápida do que se imagina, conta Simone, podendo trazer grandes benefícios para a relação familiar e, principalmente, para o desenvolvimento emocional da criança.

O impacto no desenvolvimento infantil

A forma como uma pessoa lida com o apego durante toda sua vida, depende como foi orientada ao longo da infância. Portanto, é importante deixar de lado o olhar pejorativo para os ciúmes e entendê-lo desde suas raízes.

Em qualquer fase do desenvolvimento das crianças, os pais devem encorajá-las a desenvolverem graus de autonomia compatíveis com sua idade e fase de desenvolvimento.

Maria Silvia destaca que as crianças que têm suas necessidades de aconchego e apego acolhidas na primeira infância, apresentam uma segurança maior tanto para se distanciar e se diferenciar dos pais, quanto para permitir a entrada de outras pessoas nos triângulos relacionais, conseguindo crescer com segurança e autonomia.

Porém, quando um dos pais tem insegurança e ansiedade, isso é passado para a criança, de forma tácita, pelo tônus muscular, entonação da voz e pela forma de se relacionarem. Assim, as crianças desenvolvem um apego inseguro, gerando mais ciúmes e dificuldade de se distanciar dos pais ou permitir a entrada de outras figuras e referências na vida deles, pois sentem seus laços ameaçados.

Apego seguro é aquele no qual a criança compreende que um dos pais vai se distanciar, como para se relacionar com outras pessoas, mas que isso não ameaça seus laços, deixando de abalar sua segurança emocional.

Nesses casos, as crianças podem apresentar muitas dificuldades para entrar e permanecer na escola, porque os ciúmes exacerbados geram uma insegurança emocional que impede elas de relaxarem com a presença de um terceiro ser, elemento ou universo que não seja aquele que estabeleceu um laço inicial.