A necessidade de isolamento como uma das medidas de prevenção à Covid-19 tem dificultado a vida de muitas famílias. Afinal, casais passaram a discordar de coisas que antes nem faziam parte de seu dia a dia, irmãos começaram a brigar com mais frequência e a relação entre pais e filhos pode estar se desgastando, com discussões diárias. No entanto, a doutora em Psicologia Ana Priscilla Christiano afirma que esses problemas têm solução e, se forem administrados corretamente, podem melhorar o ambiente dentro de casa e até fortalecer o vínculo familiar.
“O afeto está relacionado a tudo que nos afeta como seres humanos. Então, é comum que se manifeste em algum momento por brigas ou conflitos, já que algo realizado por outra pessoa pode nos magoar”, explica a especialista. Só que, após essas situações, é necessário que os envolvidos conversem a respeito do fato, digam o que sentem e avaliem o que podem fazer diferente para evitar mágoas da próxima vez.
Foi isso que a estudante de educação física Lisete Jacomet decidiu fazer durante essa quarentena. “Como eu e meu marido começamos a passar muitos dias juntos e sem sair de casa, um dos dois acabava se exaltando de vez em quando”, conta a gaúcha de 49 anos, que esperava alguns minutos para acalmar-se e, então, conversava com o marido a respeito do ocorrido. “Teve um dia, por exemplo, que ele ficou chateado com nosso filho em uma ligação e depois brigou comigo, como se eu tivesse culpa”, recorda. “Aí falamos sobre aquilo com calma, nos aconselhamos e oramos juntos”.
Além disso, os dois decidiram aproveitar o período de pandemia para colocar em prática gestos carinhosos, tornando os dias estressantes do isolamento bem mais tranquilos. “Escrevemos bilhetinhos e espalhamos pela casa, ele cozinhou um dia para mim, montou meu prato quando eu estava estudando e começamos a separar mais tempo para sentar e conversar”, conta Lisete, que viu como essas atitudes os deixaram mais próximos. “Agora, estamos enfrentando esse momento complicado com bastante companheirismo”.
Não basta dizer "te amo"
Segundo Ana Priscilla, ações como essas são mais eficazes do que simplesmente dizer “eu te amo”, pois mostram por meio de ações o que um sente pelo outro. "Ou seja, é necessário que pais e filhos estejam atentos às necessidades dos outros membros da família e à maneira com que cada um reage diante das situações”, orienta a professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Londrina.
“Quando presto mais atenção à maneira que as pessoas agem, consigo conhecê-las de verdade e melhorar nossa relação”, pontua, ao garantir que o atual período de isolamento traz uma oportunidade única nesse aspecto. “Como todos estão em casa, é possível exercitar a escuta, perceber o que o outro precisa e construir relações autênticas”.
Dessa forma, os pais conseguem descobrir peculiaridades a respeito de seus filhos, irmãos entendem melhor os demais e todos podem compartilhar o que gostam. Inclusive, “que tal se reunirem para brincar com o jogo favorito de um de vocês, assistir àquele programa que a mãe adora ou curtirem juntos a live da banda preferida de seu filho?”, sugere a psicóloga.
De acordo ela, essas atividades demonstrarão interesse pelo outro e unirão ainda mais a família. Só que não são as únicas que devem ser realizadas dentro de casa, pois também é importante dividir todas as atividades domésticas afim de não sobrecarregar ninguém. "E, claro, separarem momentos para compartilhar alegrias, tristezas e anseios, porque sentir que você pode falar e ser escutado ajuda a passar por essa fase de isolamento com menos estresse e ansiedade”, finaliza.