Durante a pandemia, atitudes como ficar em casa, doar a quem precisa e comprar de pequenos negócios fazem a diferença| Foto: Bigstock
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“Doenças não nos unem. Elas podem nos separar por causa do risco de contaminação”. A afirmação foi feita por Jonathan Haidt, professor de liderança ética na New York University’s Stern School of Business, em entrevista à revista norte-americana Time.

A declaração está numa reportagem escrita pelo jornalista Jeffrey Kluger com um título bastante pertinente: “o dilema moral das quarentenas do coronavírus”. Dilema esse que, no Brasil, muitas pessoas estão vivendo desde que a pandemia chegou ao país, em meados de março, e se alastrou sem uma previsão clara de quando irá terminar.

Nem estamos falando da discussão travada no âmbito político, de “salvar vidas ou a economia”, mas daquilo que está ao nosso alcance. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais autoridades da área enfatizam desde o início que a principal arma contra a Covid-19 nesse momento é o isolamento social, com a recomendação entoada a todo momento de “se puder, ficar em casa”.

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Para uma parcela da população, que consegue trabalhar na própria residência e tem condições financeiras para se manter, isso é perfeitamente possível. Mas e quanto aos demais, que estão desamparados ou precisam se expor ao contágio para sobreviver? Ao mesmo tempo que é preciso se preservar, também é preciso olhar para essas pessoas. Mas de que maneira?

“Uma quarentena de coronavírus não é fácil. Isso equivale a duas semanas de prisão domiciliar por uma doença que você pode não ter. Sua quinzena de confinamento é feita inteiramente a serviço de outras pessoas, protegendo-as de uma possível infecção. Uma situação como essa faz com que dois de nossos impulsos mais primitivos e conflitantes, o egoísmo e o altruísmo, colidam com força”, resume Kluger em seu texto na Time.

Na prática, isso quer dizer que é comum as pessoas sofrerem conflitos internos, entre priorizar a própria segurança e bem-estar (uma vez que se trata de um vírus capaz de levar à morte), ou buscar maneiras de ajudar o próximo, ainda que isso custe deixar o isolamento.

Resolver esses conflitos não é algo simples, mas é possível, sim, conciliar as duas coisas, preservar a própria saúde e ajudar o próximo. A pandemia tem afetado todos os setores, que, de uma maneira ou de outra, precisam da colaboração mútua de toda a população. Mesmo que você não seja um profissional de saúde atuando na linha de frente, com a missão de salvar vidas, algumas pequenas ações fazem a diferença para superar esse momento delicado.

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Autocuidado acima de tudo

Por mais que soe repetitivo, seguir as orientações das autoridades de saúde já é uma forma de colaborar com a coletividade. Evitar sair de casa, manter distanciamento das pessoas, usar máscara de proteção, lavar as mãos e usar álcool em gel são atitudes que impedem a disseminação do vírus. Ou seja, além de se preservar, você já estará contribuindo para que menos pessoas corram o risco de serem infectadas.

Empatia é outra atitude simples que pode fazer a diferença. É o que defende a Organização Mundial de Saúde (OMS), em um guia com uma série de recomendações para cuidar da saúde mental. “Proteja a si próprio e apoie os outros ajudando-os em seus momentos de necessidade. A assistência a outros em seu momento de carência pode ajudar tanto quem recebe o apoio como quem dá o auxílio. Um exemplo: telefone para seus vizinhos ou pessoas em sua comunidade que precisam de assistência extra. Atuar juntos como uma comunidade pode ajudar a criar solidariedade e a enfrentar a Covid-19 em união”, diz trecho do texto.

Pesquisadora do Departamento de Psicologia e Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lidia Weber acredita que o autocuidado é, também, uma maneira de colaborar com a coletividade. “Pensar em coisas que podemos controlar é fundamental para o ser humano. É o que se denomina de autocompaixão, ajudar a si mesmo. E nessa crise, ajudar a si mesmo é também ajudar o outro. Ter autocuidado é pensar em si mesmo e nos outros, é um fator humanitário. Isso aumenta nosso nível de esperança e produtividade”, afirma.

Lidia destaca ainda a possibilidade de oferecer algum tipo de ajuda através das habilidades que a pessoa já tem, sem precisar sair de casa. “Como você, por meio de sua profissão, pode disponibilizar gratuitamente algo pela internet? Um vídeo com dicas de psicologia ou de imposto de renda? Ou tocar um instrumento musical? Ensinar a fazer um bolo diferente?”, sugere.

A força do coletivo

Apesar de o isolamento social ser a melhor arma contra a Covid-19, isso não significa que ações coletivas sejam inviáveis. Aliás, é justamente nesse momento de dificuldade que elas podem fazer uma diferença ainda maior. Por todo o país, várias iniciativas desse tipo estão sendo promovidas, como funcionários de empresas que arrecadam donativos para distribuir à população carente, estudantes e profissionais que se unem para desenvolver soluções no combate ao coronavírus, ou moradores de bairros e condomínios que se organizam para ajudar idosos ou pessoas de grupos de risco.

Em Curitiba, um exemplo de ação coletiva é a Quarentena Solidária, uma rede de empreendedores, empresas e organizações, preocupados com os impactos econômicos e sociais da pandemia. Com cerca de 500 pessoas das mais diversas áreas, o grupo tem promovido uma série de ações em diferentes frentes: doação de alimentos, itens de proteção e de higiene; projetos de inovação social e tecnológica; divulgação de informações sobre a Covid-19; e apoio aos negócios locais, entre outras.

Outra forma de exercer a solidariedade é por meio de doações. Existem várias campanhas em curso para arrecadar alimentos, produtos de higiene, itens de proteção, destinados a atender famílias em vulnerabilidade social, pessoas em situação de rua e entidades assistenciais. A Fundação de Ação Social (FAS), da Prefeitura Municipal de Curitiba, coordena uma delas, e em sua página na internet é possível consultar os pontos de arrecadação. Outro canal da prefeitura de Curitiba é o Doe Saúde, pelo qual podem ser oferecidos bens móveis, serviços e cessões de uso de imóveis. Informações podem ser obtidas pelo e-mail: doesaude@curitiba.pr.gov.br. E se você conhece alguma entidade ou organização assistencial e tem condições de ajudar, é um bom momento, já que muitas viram as dificuldades aumentarem com a pandemia.

Apoio aos pequenos

Quando a pandemia chegou ao Brasil, muitos comerciantes se viram obrigados a fechar as portas. Uma parte continua fechada e aquela que reabriu ainda vê um movimento inferior ao habitual. Como os que mais sofrem com essa situação são os pequenos e médios negócios, que têm um capital de giro menor, o Sebrae lançou a campanha Compre do Pequeno. A ideia é estimular o “consumo consciente”, apoiando pequenas empresas e comerciantes dos bairros. É mais uma forma de contribuir com quem está passando por dificuldades.

“Priorizar a rede de proteção ao segmento com múltiplas categorias será fundamental nos próximos meses. As micro e pequenas são as que, mais rapidamente, responderão pela retomada dos negócios no pós-crise. Serão, também, as primeiras a contratar dada a natureza dos pequenos empreendimentos”, diz em artigo o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

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