Nesse momento há sempre o medo de que qualquer palavra soe fria, saia do contexto e não transmita o que realmente estamos sentindo| Foto: Anastasia Vityukova/Unsplash
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Se tem uma situação embaraçosa, daquelas que a gente nunca sabe exatamente o que dizer, é encarar um amigo que acabou de perder alguém. Digo por experiência própria: o cérebro hesita e o corpo trava. O medo é que qualquer palavra soe fria, saia do contexto e não transmita o que realmente estamos sentindo – um equilíbrio entre empatia e solidariedade difícil de alcançar.

Nós já mostramos aqui que não dá para pensar positivo o tempo todo e muito menos "pôr panos quentes" em uma ocasião em que não sabemos o real tamanho do sofrimento do outro. Mas, ao mesmo tempo, há o desejo de confortar a pessoa e mostrar que não ficamos alheios ao que ela sente. Para clarear esse impasse do campo dos relacionamentos, o Sempre Família ouviu dois especialistas, que apresentaram caminhos de como fazer isso.

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Acolha

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A psicóloga Mariana Bayer, mestre em aconselhamento em luto, perdas e traumas e sócia fundadora do Instituto Trilhar, avalia que "o luto pela morte é uma dor que não se mede". Para ela, esse é um dos casos em que o silêncio é a melhor forma de expressar compaixão. "O que eu percebo é que não é nem o falar, mas demonstrar que você está disponível. Simplesmente acolha a pessoa e, se sentir vontade, diga: 'Tô aqui com você', 'Conte comigo', 'Eu sinto muito'", orienta.

Mariana também ressalta que funeral não é momento de impor suas crenças religiosas ao enlutado. "A não ser que você conheça muito bem a pessoa, não é o ideal dizer coisas do tipo: 'Ele foi para um bom lugar', 'está melhor do que nós' ou 'pelo menos descansou'", indica. Frases como "Não fique assim, vai passar" e "Logo você se acostuma" igualmente não geram o efeito desejado.

Já Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da PUC-PR, lembra que o luto não é pontual e que há, inclusive, quem leve meses para retomar a vida depois de uma perda. "Existe um protocolo de pós-morte a ser seguido. Ligue para a pessoa, pergunte se está se alimentando, se tomou banho, se está cozinhando", diz já levando em conta as restrições da Covid-19. Segundo ele, esses são sinais de que seu amigo não deixou de lado os cuidados básicos com a autoimagem – um bom indicativo.

Ainda pelo que recomenda o psicólogo, se fazer presente, mandando mensagens ou enviando mimos (como alimentos prontos para o consumo) também fazem parte da etiqueta de acolhida.

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O que não dizer

Mas se para você é importante externar seu apoio com palavras, aqui vão algumas sugestões do que evitar, afim de que sua presença na vida desta pessoa seja realmente vista como um apoio. Elas foram extraídas de uma entrevista concedida por Rebecca Soffer, uma das fundadoras do site Modern Loss, especializado em luto, ao portal Real Simple.

  • "Você está bem?": evite esta pergunta, porque a pessoa em luto poderá entender algo como: "Por favor, diga que está tudo certo, porque não sei lidar com essa situação". Escolha dizer algo como "Deve ser difícil esse momento";
  • "Ele está em um lugar melhor": pode parecer que não, mas para seu amigo essa frase pode soar como se fosse estivesse desmerecendo a dor dele. No lugar disso diga: "Sinto por seu sofrimento";
  • "Eu sei o que você está sentindo": ainda que você tenha passado por situação semelhante a de seu amigo, nós nunca conseguiremos compreender com exatidão a dor do outro, a ponto de expressar em palavras. Tente dizer algo como "Eu imagino o que você pode estar sentindo agora e estou aqui por você";
  • "Você está lidando com isso melhor do que eu imaginaria": talvez seu amigo esteja apenas usando uma máscara de tranquilidade, quando no fim das contas ele está sentindo um vazio inexplicável. Diga então: "Você não está bem e não tem problema algum nisso".