As mudanças impostas pela pandemia provocada pela Covid-19 mexeram com famílias inteiras, em todo o mundo. Para a grande maioria a vida mudou completamente. No Brasil, em março de 2020, aulas foram suspensas, empresas passaram a adotar o teletrabalho e a casa passou a ser escritório, escola, restaurante e área de lazer. Só que a expectativa era que em pouco tempo tudo voltaria ao normal. Praticamente um ano depois, essa rotina continua e o que era passageiro parece não ter data para acabar.
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As aulas que, acreditava-se, voltariam ao normal em 2021, seguem ora remotas, ora presenciais com escolas abertas em um dia e obrigadas a fechar as portas à medida que os casos aumentam e as vagas em hospitais diminuem. Essa oscilação mexe com o humor e também com a saúde emocional de quem tem que lidar com muitas coisas ao mesmo tempo.
Letícia Barbano, pesquisadora no Family Talks - iniciativa da Associação de Desenvolvimento da Família (ADEF), organização sem fins lucrativos que desde 1978 se dedica a apoiar a família no Brasil – acredita que essa instabilidade de cenários carrega uma carga de desgaste mental acentuada. “Uma rotina organizada – com horários e atividades pré estabelecidos – pode ajudar as famílias a se sentirem menos ansiosas”, defende a pesquisadora que sugere a utilização de um quadro pra organizar os compromissos diários de cada pessoa da família.
Para a psicóloga clínica Adriana Cancelier manter essa organização melhora, inclusive, a produtividade. Ela também sugere, quando possível, que cada um tenha um espaço próprio, onde possa ficar concentrado e realizar as tarefas pelas quais é responsável. “Evitar as distrações é muito importante, assim como ter bons momentos de pausa”, ensina ela. Estabelecer regras de convívio familiar e respeitar os horários combinados também é importante, segundo a psicóloga.
A saúde mental após um ano
É a saúde mental e a ansiedade provocada por esse cenário, que ainda fazem diferença nesse momento pelo qual o país está passando. “Temos que trabalhar este sentimento criando novas habilidades de lidar com nossos pensamentos e com as interpretações catastróficas, focar no presente diante dessa incerteza do futuro”, enfatiza Adriana. Ela lembra que isso tudo permitiu que as famílias ficassem mais unidas e que essa é uma lição importante que deve ser tirada dessa pandemia.
E é o pensamento da terapeuta Nicole Kuhn. A família veio em primeiro lugar para superar essa situação. Com um filho pequeno, com pouco mais de 7 meses quando a pandemia começou, e mais duas crianças em casa, ela viu a rotina mudar totalmente. O marido passou a trabalhar em casa, os dois filhos mais velhos, com aulas online e ainda um bebê para cuidar ao mesmo tempo em que voltava a atender pacientes após a licença maternidade. Por mais difícil que tenha sido, o ideal foi estipular prioridades. “Queríamos estar bem emocionalmente, mesmo que isso significasse não fazer uma tarefa da escola ou deixar de assistir uma aula. Até do trabalho, várias vezes, abri mão. Para estar mais estável”, revela.
As mães, ainda as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidado, na opinião de Letícia, foram as que mais ficaram sobrecarregadas. “Precisamos de uma dose extra de empatia, especialmente das empresas. Nesse ano naturalizamos a família no contexto do trabalho. Não é vergonhoso um filho interromper uma reunião”, diz a pesquisadora.
Adriana também destaca que a empatia é fundamental neste momento para entender que as ações de uma pessoa podem impactar toda a sociedade. “Aprendemos a ressignificar. Todos os dias é um novo recomeço e aprendemos a olhar a vida de várias maneiras”, reflete. Para Nicole o aprendizado principal é que dos estudos tem como correr atrás depois, contas acumulam e podem ser pagas em outro momento. O importante é que todos se mantenham saudáveis e unidos.