Na televisão, filmes e programas do horário nobre apresentam sexo entre adolescentes como parte da rotina nessa fase. O mesmo acontece em diversos sites, revistas para o público jovem e na conversa entre colegas de sala de aula. Afinal, para ser aceito e se destacar no grupo, é necessário mostrar que se está aproveitando a fase da adolescência ao máximo, satisfazendo qualquer desejo. Mas será que seguir a “onda” e ter uma vida sexual ativa aos 12, 14 ou 16 anos realmente traz satisfação?
De acordo com a psicóloga e orientadora familiar Lélia Bueno de Melo, adolescentes que buscam prazer sexual precocemente a fim de provar algo aos demais ou a eles mesmos estão, na verdade, procurando amor. “Há uma lacuna deixada pela família no campo afetivo desses jovens”, explica a especialista, que aponta a falta de carinho em casa como principal fator para essa atitude. “Infelizmente, muitos adolescentes não têm certeza de que são amados por seus pais”.
“Há uma lacuna deixada pela família no campo afetivo desses jovens”.
Um estudo divulgado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em dezembro de 2019, confirma essa realidade. Segundo a pesquisa desenvolvida com mais de 6 mil adolescentes entre 12 e 15 anos, a incidência de iniciação sexual precoce é duas vezes maior entre estudantes com pais permissivos ou negligentes. Assim, adolescentes sem regras estabelecidas em casa e que não percebem interesse do pai ou da mãe por sua rotina acabam buscando atenção e carinho em parceiros sexuais.
Só que, de acordo com a mesma pesquisa, em vez de preencherem o vazio emocional que sentem, esses adolescentes desenvolvem problemas emocionais como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. “Além disso, a prática sexual vem atrelada ao risco de gravidez, já que não existe método contraceptivo 100% eficaz”, afirma a doutora em psicobiologia e coordenadora do estudo, Zila Sanchez. “E ele ainda pode contrair alguma doença sexualmente transmissível (DST)”, alerta.
Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Prevenção ao Uso de Álcool e Outras Drogas da Unifesp, a pesquisadora também percebeu durante o estudo que adolescentes com vida sexual ativa apresentam maior chance de envolvimento com substâncias ilícitas e vícios como alcoolismo e tabagismo. “Lembrando que álcool e outras drogas reduzem a percepção de risco, então esse adolescente se sente corajoso para experimentar comportamentos perigosos”.
Mas essas não são as únicas consequências da atividade sexual precoce. Segundo a psicóloga Lélia Bueno de Melo, os minutos de prazer com múltiplos parceiros também afetam a autoestima do adolescente e prejudicam sua capacidade de estabelecer relacionamentos sólidos.
Esses momentos íntimos sem compromisso fazem com que o adolescente – que ainda está conhecendo seu corpo e organizando seus pensamentos – passe a viver relações românticas superficiais e tenha muita dificuldade para estabelecer laços sólidos. “É como se ele não conseguisse ser amado em sua totalidade e acaba se esvaziando com as frequentes desilusões”, resume a psicóloga.
Desafio dos pais
Por isso, é tarefa dos pais desenvolver a boa autoestima dos filhos e explicar, com naturalidade, que a atividade sexual está inteiramente ligada ao conceito que se tem de si mesmo. “Ou seja, é preciso valorizar sua dignidade como pessoa”, orienta Lélia, ao afirmar que sexo nunca deve estar separado de amor e responsabilidade. “Não somos animais. Nós nascemos para sermos amados profunda e inteiramente, então precisamos disso em nossos relacionamentos”.
E isso deve começar dentro de casa com famílias sólidas que eduquem corretamente seus filhos, se preocupem com as tarefas que eles desempenham no dia a dia e demonstrem diariamente seu amor por eles. “Afinal, pais afetivos, fortes e atuantes favorecem o desenvolvimento normal da saúde afetiva e sexual do adolescente”, garante a psicóloga. Além disso, um forte laço familiar ajuda o jovem a ter coragem para dizer “não” ao sexo sem significado. “Quem é amado não se vende barato”, finaliza Lélia.